Quero gritar com a voz da minha alma. Preciso que ela seja ouvida, que alguém a entenda ou mesmo a repreenda. Não saberia ela dizer coisas belas? Sim, talvez saiba... Mas, sempre tão baixa, é desconhecida por todos... mal consigo escutá-la.
Quero mostrar que sou capaz de amar, odiar. Não percebem? Eu também sei sentir...
Quero chorar, ter meu rosto umedecido por abundantes lágrimas. Mas pq? Pq elas não escorrem? Traidoras. Fugidias, nunca se importam. Não se intimidam em deixar-me só em minha indecifrável tristeza. E como eu precisava dividir com o mundo essa angústia ardente, que, com seu caráter sádico, está sempre, a queimar-me satisfeita, voraz...
Quero sorrir. Não de modo tolo e amorfo, mas com uma alegria transbordante, verdadeira, intensa, que me devolva nada mais que, pura e simplesmente, aquele sorriso despreocupado que há muito me abandonou...
Quero apenas me emocionar, mostrar-me humana. Deixar despontar meus defeitos, sem temê-los, sem escondê-los, e saber que mesmo assim serei aceita...
Quero ter coragem, junto a ela, a esperança de um dia mudar e... quem sabe? Poder dizer com toda a força e certeza que estou viva...
Quero, enfim, libertar meu espírito, apresentá-lo ao mundo, admitir a todos que sou gente, que sofro, que erro, que admiro, que luto e que também posso ajudar...
Mas o que tenho? Unicamente palavras... Palavras falhas, poucas, incompetentes. Diante de sua deficiência, busco em vão fazer-me conhecer, resumindo-me a uma sombra taciturna, distante... E, assim, continuo submersa em uma infinita incompreensão...