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Ensaios-->Quem tem medo do Exército? -- 22/08/2003 - 10:22 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
'Quem tem medo do Exército”

Aimar Baptista da Silva (*)

Desde o Paleolítico, até este século pós-atômico, segundo especialista no assunto, tem a História Militar experimentado contínua evolução, além de contribuir substancialmente para o progresso da ciência e da humanidade. Influenciado pelo saber e pelas invenções de cada época, o pensamento militar aparece como uma criação incessante, refletindo, ao longo do tempo, o drama apaixonante de nações que, alternadamente asseguram, desenvolvem e, por vezes, perdem a sua própria existência. A guerra, como afirmou o general alemão Von Lossau, antecipando Clawsevitz, é a ‘última ratio’ dos Estados e, de alguma forma, o prolongamento de suas políticas, conduzido, então, por suas forças armadas, e representando o confronto decidido e decisivo das vontades dos países envolvidos no conflito. Mas, ao contrário do que julgavam (e ainda julgam) alguns pensadores, as forças armadas não são um mero instrumento a serviço da nação. Instrumento transmite a impressão de algo que se usa, quando necessário e depois se guarda à espera de outra oportunidade de usá-lo. As forças armadas são, isto sim, o braço armado da Nação, parte inseparável do seu organismo.

Numa democracia, entretanto, a vitória é sempre prejudicial ao exército do pós-guerra quando, face à (quase) inexistência de conflitos, a nação se recusa a custear a manutenção e, principalmente, a modernização de sua ‘máquina de guerra’, o que é tanto uma questão política e financeira quanto militar. Caso típico do Brasil e, sobre isto, já bem observara o general Jerônimo Coelho em relatório à Assembléia Legislativa brasileira em ... 1845 : “É na verdade oneroso ao Estado o sustentar um exército em tempos de paz, mas devemos observar que os conflitos de guerra sobrevêm muitas vezes quando menos se esperam e não é repentinamente que se organiza e disciplina um exército...”. Observação da realidade brasileira até então, e projeção dessa realidade para o futuro, pois nunca esteve o nosso Exército suficientemente preparado e equipado para combater em todas as guerras que travamos. Deficiências superadas, como é reconhecido internacionalmente, pelo valor do soldado brasileiro.

É o próprio comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB), general Mascarenhas de Morais, que comprova: “O Exército não possuía nem conhecia o material de guerra moderno, as suas organizações táticas eram arcaicas, os seus serviços, deficientes. Ressentia-se o seu moral, e se ressentiu durante toda a guerra da falta de imprescindível preparação psicológica”... “A nova organização exigia a criação de órgãos absolutamente novos e a revisão quase revolucionária de princípios há muito firmados em nosso meio militar. O problema consistiu em fazer sair de um maquinismo montado à francesa, uma Força Expedicionária que funcionasse à americana ... Sua (do soldado brasileiro) capacidade combativa revelou-se no aprendizado rápido das artimanhas da guerra, aliás, operado em estreito contato com o inimigo ; e, em breve, aprimorada a técnica, apresentou alto grau de agressividade, impondo-se à admiração de seus camaradas aliados, particularmente os americanos”. Na verdade, podemos contar nos dedos de uma única mão os governos brasileiros que se preocuparam em dotar materialmente o Exército para que ele estivesse em condições de participar de uma guerra. Tudo isto, repito, sempre foi compensado amplamente pelo estudo, pelo esforço e pela infinita capacidade de apreensão e adaptação, enfim, pelo valor de seus quadros.

Aí deve ser ressaltada a importância da liderança militar brasileira, representada pela cultura geral e militar, pelas características pessoais e morais, pelo talento de nossos chefes. E isto temos tido de sobra ! Líder é aquele que prepara e conduz líderes, aquele que convence pela palavra e arrasta pelo exemplo. Ressalte-se, ainda, que “o comando militar (que deve encarnar a suprema liderança), no seu escalão mais alto, representa para o Estado um atributo de soberania”. Assim, relegar o Alto Comando Militar a plano secundário, como fez o presidente (?) Cardoso (e continua fazendo o “companheiro” Lula) é abdicar, estupidamente, de parte de nossa soberania, melhor diria, de toda ela, porque soberania é o poder absoluto, indivisível, incompartível de que dispõe o Estado para conduzir sua política interna e suas relações internacionais. O que só pode ser garantido (qualquer manual de sociologia o ensina) por uma Instituição Militar forte, constituída por forças armadas para defesa e ataque. Não como preconizava o movimento latino-americano “ parlamentares pela paz”, do qual fazia (faz ?) parte o então deputado “camarada” Maurílio Ferreira Lima, de transformar as Forças Armadas em Forças de Autodefesa (o homem chegou até a apresentar ao Congresso emenda constitucional para tanto !), assim justificando idéia tão estapafúrdia : “A idéia é que os países latino-americanos não possuam os mísseis de ataque “Scud” e sim os “Patriot” de defesa

Tudo isto vem à baila em razão de artigo de Carlos Haag, publicado na revista Primeira Leitura (Ago 2003) com o título “Quem tem medo de Caxias ?”, acompanhado de um quadro intitulado “Um herói bom e aborrecido”. Com base em estudos (?) do historiador (?) Celso Castro e da pesquisadora (?) Adriana Barreto, o articulista, com sutilezas de asno, tenta fazer um retrospecto da vida do nosso Patrono e da História do nosso Exército, estabelecendo entre ambas uma relação de causa e conseqüência, dando aos fatos históricos uma conotação distorcida e profundamente negativa, que o próprio título já provoca. Talvez que o título desejado fosse : “Quem tem medo do Exército ?”.

Se hoje poucos se lembram de Caxias a não ser como a figura distante daqueles livros sobre os “vultos da pátria”, é porque não temos memória nacional, não valorizamos a nossa História, nem as nossas tradições. É porque não valorizamos aqueles “vultos”, responsáveis pela construção dessa Pátria imensa e generosa que não sabemos amar porque pouco a conhecemos, da qual só nos lembramos periodicamente, quando da ocorrência da algum evento durante o qual se tenta, inutilmente, transformar em chama viva as cinzas do nosso patriotismo. Talvez seja por isto que o termo “caxias” represente para muitos a figura de uma pessoa antipática que faz além do devido a ponto de incomodar os outros. A mim o termo evoca as pessoas que cumprem os seus deveres para com a Nação a despeito de tudo e de todos, indo além dos seus próprios limites. Alguém já disse que “devemos respeitar, antes de tudo, os homens que são fiéis a algo muito mais valioso do que a satisfação pessoal de seus prazeres e necessidades, homens que, de boa vontade, se expõem a perigos, injustiças e privações para servirem ao seu País sem dele nada exigir, porque à Pátria tudo se dá, nada se pede, nem mesmo compreensão ! Tal a razão porque devemos evocar, venerar, valorizar e imitar Caxias que foi muito além do devido ao pacificar o Brasil, ao garantir-lhe a unidade, ao assegurar-lhe a soberania, ..., enfim, ao reconciliar o Altar com o Trono, pondo fim à malfadada “questão religiosa”, “restituindo as lâmpadas aos lampadários”.

A aleivosia prossegue : “Caxias fora um militar que queria ‘até ignorar os nomes dos partidos que, por desgraça, entre nós existissem’ “. A frase proferida por Caxias, e que não é esta, o foi num contexto histórico restrito à província do Maranhão, durante a “Balaiada”, para onde fora enviado como presidente e comandante das armas da província, a fim de debelar tal revolta. A frase correta referia-se às duas mais importantes facções políticas daquela província : os conservadores, representados pelos grandes proprietários rurais, apelidados de ‘cabanos’, e os liberais, apodados de ‘bem-te-vis’, de oposição ao governo e que, de início, procuraram tirar proveito apoiando os revoltosos. Ei-la, como realmente foi : Maranhenses ! Mais militar que político, eu quero até ignorar o nome dos partidos políticos que por desgraça entre vós existem”. Confundia-se, então, como hoje, apartidário com apolítico, com isso pretendendo-se afastar os militares dos centros decisórios nacionais.

As alfinetadas continuam ; sinta-se o veneno da frase “A cada nova pacificação, quase sempre um novo título dado pelo imperador .... Em pouco tempo virou marechal-de-campo, com menos de 40 anos” (Napoleão ‘virou’ general aos vinte e oito anos ! Na França podia ?) .Questão de competência ! O articulista sugere, nas entrelinhas, a existência de como que uma ... ‘industria de títulos nobiliárquicos’, omitindo que tais títulos eram normalmente concedidos, tanto a militares quanto a civis, em consideração à prestação de relevantes serviços ao Império . Quando Caxias foi promovido a coronel e designado para combater a ‘Balaiada’ assim se manifestou o ministro da Guerra a seu respeito : “Eu não fiz hoje apenas um coronel; fiz o general que há de pacificar o Rio Grande. Conheço aquela província e não temos ali elementos para debelar a força daquela rebelião. Vá criar nome e prestígio no Maranhão e venha depois pacificar o Rio Grande”.

Haag sugere também, baseado em autores que não nomeia, que Caxias era adepto de matanças e torturas : “Alguns poucos livros (e os muitos livros, onde ficam ?) insinuaram o seu entusiasmo em chacinar paraguaios ou os insurretos do Império, mas, no geral, ele é impoluto (isto é, sem manchas !). Ora, não existe isso de alguém ser virtuoso no “atacado” e canalha no “varejo” : os homens de valor têm apenas uma face ! Mas a calunia irresponsável é fácil de ser desfeita, pois, já em 1851, ao iniciar-se a guerra contra Oribe, ele expediu uma Ordem do Dia da qual destaco o seguinte : “Soldados ! Ides combater a par de bravos, amestrados nos combates ; esses bravos são nossos amigos, nossos irmãos de armas. Não tendes no Estado Oriental (Uruguai) outros inimigos senão os soldados do General D. Manuel Oribe, e esses mesmos enquanto iludidos, empunham armas contra os interesses de sua pátria; desarmados ou vencidos, são americanos, são vossos irmãos, e como tais os deveis tratar. A verdadeira bravura do soldado é nobre, generosa e respeitadora dos princípios da humanidade”. Será esta a imagem que o jornalista faz de um torturador?

Quanto à intromissão na vida política do País, Caxias, além dos mais nobilitantes encargos militares, ocupou cargos e exerceu funções das mais relevantes: presidente e comandante das armas das províncias do Maranhão e do Rio Grande do Sul; vice-presidente da província de São Paulo (poucos paulistas sabem disto !); deputado pelo Maranhão ; senador pelo Rio Grande do Sul ; três vezes ministro da Guerra ; três vezes presidente do Conselho de Ministros ; conselheiro de Estado; conselheiro de guerra. Só na visão caolha e desprezível do articulista, e de seus “inspiradores”, se pode ver aí intromissão. Na verdade, foram comissões exercidas como encargo e missão e que lhe foram conferidas pelo governo imperial. E em todas elas Caxias demonstrou o seu tino administrativo, o seu espírito humanitário e conciliador, a sua larga visão de estadista. Como poucos, aliás, em toda a nossa História, na qual não se inscrevem como tais a maioria dos nossos (?) políticos no passado, no presente e quiçá no futuro. Somente os “tontos” vêem na ação política do Exército, em momentos graves da vida nacional, uma intromissão. Tampouco seriam esses elogios dados a Caxias o estigma que marca o Exército, nos dias de hoje, desprestigiado como instituição e maculado pela participação no golpe de 64 e na tortura (Ahhhhhh !!! Após tanto rodeio, aparece o chavão estúpido e de má fé !).

Que seus integrantes estejam empobrecidos, como afirma Haag, não é novidade ; se o articulista e os pesquisadores, o fossem de fato, concluiriam, após consultar algumas centenas de livros de História, que os militares sempre foram mal pagos, desprezados, atacados, injuriados, ... , mas, ainda assim, temidos pelos políticos, pelo poder central e por boa parcela da intelectualidade civil, que só os procuram (como vão procurar em futuro bem próximo !) em casos de ameaças e perigos extremos. E, finda a ... “intromissão”, põem-nos novamente de lado ! Mas dar-lhes-ei, neste texto, oportunidade de comprová-lo. Estas alimárias, que de políticos, administradores, estadistas ou intelectuais não passam de zero à esquerda (em todos os tempos da nossa História, resguardadas umas poucas e costumeiras exceções !), jamais perceberam a importância do Exército como avalista da consecução dos grandes objetivos e projetos nacionais ; jamais perceberam a extrema necessidade de o Brasil possuir um Exército (e uma Marinha e uma Aeronáutica !) condizente com as suas potencialidades que, produzindo segurança, propicie o desenvolvimento do País e sua inserção no 1o mundo, em pé de igualdade, jamais por favorecimentos interesseiros.

Aí vão uns poucos exemplos da estupidez governamental e/ou política em todos os tempos :
- o imperador Pedro II sempre teve pouca consideração pelo Exército, tanto antes como, e principalmente, depois da Guerra do Paraguai. Para se ter uma idéia do descaso de Pedro II, para com a Força, basta verificar que, no início dessa guerra, o seu efetivo total não chegava a vinte mil homens (1400 oficiais e 16000 praças), enquanto o nosso adversário tinha de 80000 a 100000 homens em armas.

- Prudente de Morais manipulou os orçamentos militares visando reduzir os efetivos e a importância do Exército e da Marinha (e foi salvo da morte certa pela bravura de um general, que interpondo-se entre ele e o assassino, levou a punhalada fatal !).

- Rui Barbosa e outros parlamentares obstruíram diversos programas visando à melhoria da situação das Forças Armadas, especialmente o Exército. O civilista Rui mereceria um capítulo à parte em que se estudasse com profundidade suas idéias e relações com os militares. Haveria muita surpresa e até mesmo choques, principalmente no que diz respeito ao tal de ... controle civil dos militares, que, afinal, nos foi imposto por pressões externas (EUA querem civis chefiando militares na AL, “O Globo”, 6 de maio de 1995). .

- Medeiros e Albuquerque, não escondendo a sua ojeriza pelos militares, declarava abertamente considerá-los uma classe de ... parasitas.

- Alberto Torres afirmava que “o quartel ... (preparando o soldado) ... deturpava o indivíduo, pervertia o homem chegado à família, deseducava o ‘socius’ da comunidade nacional”, asseverando que “a feição militar é a menos democrática das formas a ser (em) dadas à organização das forças nacionais”.

- “Epitácio (Pessoa) era um homem de tendências personalistas, de inclinação autoritária e impregnado de preconceitos contra a classe militar”.


- “... alguns exercitófobos, inclusive um respeitável contingente de intelectuais, procuravam retratar o Exército como um parasita sugando elementos vitais das entidades de saúde e bem estar, da indústria e da educação”.

- “Na China ele (João Goulart) fizera um pronunciamento particularmente radical, quando revelara sua intenção de estabelecer uma república popular no Brasil, mas acrescentando que para fazer isso seria necessário utilizar as praças para esmagar o quadro de oficiais, que ele considerava de reacionários“.

- Collor de Melo fechou o ‘buraco’ do Cachimbo liquidando com nossas experiências nucleares.

- Fernando Cardoso (VEJA, 18/10/2000): “... Gleuber (general de exército Gleuber Vieira, então comandante do Exército) estava muito insatisfeito devido aos problemas de orçamento, que têm impedido o reforço planejado para a defesa da Amazônia. Ele tinha em mente aumentar o efetivo e ter uma presença mais constantes dos militares, principalmente nas áreas de fronteira. O projeto foi empurrado com a barriga pelo governo, sempre adiando a liberação de verbas”. Por essas e outras o general Gleuber só não foi demitido do cargo (como o foi, em 1999, o comandante da Aeronáutica) porque o governo Cardoso não quis fomentar a crise já existente.

- Lula (seis meses de governo é muito pouco !!!) cortou a verba para a compra de míseros doze caças de interceptação para substituir os obsoletos Mirage. É a “lesma lerda”: salvo os militares, ninguém mais se preocupa com a defesa do País.

Para terminar, vejam a incoerência que domina o raciocínio dos políticos, mesmo em se tratando do doutor Roberto Campos:

- RC (a) : Elas (as Forças Armadas) são mal pagas e freqüentemente injustiçadas, mas são o esteio sobre o qual repousa a segurança do País. E são também a única corporação descontaminada, com capacidade operacional armada, a que podemos recorrer nesta emergência (emprego no Rio contra o crime organizado).

-RC (b) : “Mesmo que o País não gaste muito com as Forças Armadas, os orçamentos militares são um ônus rígido e inútil, porque hoje sofremos de carência de inimigos”.

Como diria o macaco : “Não precisa explicar, eu só queria entender !”.

O resultado dessa imprevidência, má vontade e revanchismo pode ser medido pela seguinte afirmação : “O pior de tudo é que não é possível cumprir tarefas básicas, como a preservação do território (como tem sido feito, a duras penas !) ou o preparo da tropa, conforme observou um ex-ministro do Exército. O País não entra em guerra há muito tempo, mas não pode deixar de estar pronto, um dia sequer, para fazê-lo”.

Outra referência “furada” : nem no Período Colonial, nem no Império era o Exército basicamente aristocrático, pois o pessoal de projeção social costumava valer-se da faculdade de pertencer às companhias de milícias, de privilegiados e nobres, para escapar ao serviço no exército regular. E um observador estrangeiro em contato com a Academia Militar, durante esse período, notou que o Exército estava repleto de ‘indivíduos da mais humilde origem’ o que evitava ‘que pessoas distintas colocassem seus filhos em uma atividade em que estariam em contato com pessoas com um status social bastante inferior’”. Além disso, o recrutamento de soldados se fazia, por dez anos, entre o rebotalho da sociedade (escravos, índios, criminosos e refratários).Os oficiais brasileiros, principalmente depois da Revolução Pernambucana de 1817, quando foram considerados como conspiradores em potencial, raramente eram mandados a Portugal se aperfeiçoarem. Mais : o Exército era empenhado em uma série de atividades não relacionadas com atribuições militares”. O emprego indevido ainda continua ; veja-se o desabafo (ou ironia ?) em um recorte de jornal : “As voltas que o mundo dá. Há 50 anos, o Exército brasileiro deu a sua quota de sangue, suor e lágrimas para o Dia da Vitória (II Guerra Mundial) tomando das tropas do Eixo o Monte Castelo. Agora, meio século depois, empenha-se em ocupar o Morro do Borel”. Esta foi uma ação contra o crime organizado que o Exército, como ‘ultima ratio’, não podia deixar de cumprir (vide Roberto Campos, acima). Mas entre aquele Exército e o atual, quanta diferença ! Para melhor !

Caxias também cumpriu missão semelhante, como nos informa o coronel Lima Figueiredo, citando Afonso de Carvalho: “A 17 de julho de 1831 era extinta a Guarda Militar da Província do Rio de Janeiro, sendo dispensados seus oficiais. Com eles, Caxias organiza o Batalhão Sagrado cuja missão era evitar a perturbação da ordem pública na Corte. Além de poluído, o Exército era um conglomerado de elementos díspares e heterogêneos (alemães, franceses, dinamarqueses, italianos e, principalmente, portugueses, isto é, mercenários). Não é possível que a idéia da Pátria possa animar com o devido entusiasmo e desprendimento homens sem ideal e sem bandeira. É então que o severo militar (Caxias) concebe uma medida radical, desconcertante para o meio, mas que só assim, pela sua violência e ineditismo, poderá fazer frente à situação : licenciou todos os soldados e formou um batalhão somente de oficiais, cujo número ascenderia a 400, sem vantagem material de espécie alguma”. E, relata um historiador, “o Rio de Janeiro assistiu, então, a um espetáculo inédito : patrulhas de capitães, majores e coronéis percorrendo as ruas em rondas diárias, impedindo as agitações”.

Assim, não foi a partir da proclamação da República, como afirma Haag, mas a partir de 1831, que a Pátria podia contar com os militares para ‘colocar ordem na casa’ sempre que necessário. É também a partir de 1831 que o exemplo de Caxias e dos oficiais de sua geração consolidou a idéia de que os oficiais de carreira do Exército (mais tarde estender-se-ia também às praças) constituem uma classe especial para a qual a honra militar é a mais importante das virtudes militares. Homens que, no cumprimento de suas missões, jamais se preocupam com as conseqüências políticas ou com os interesses partidários porque vêem apenas a honra e a dignidade da Pátria, quando enxovalhada.

Vê-se, por aí, que não é de hoje que o Exército combate também, e com maior severidade até, o ... “inimigo interno”, seja ele representado por um bando de malfeitores ou por tropilha de traidores subversivos. E não foi a partir de 1947 que os militares elegeram de vez o comunismo como o alvo estratégico de seus ataques, em razão da “ameaça subversiva e desnacionalizante” que ele representa. Cem anos antes, em 1848, o TenCel José Carlos de Carvalho, em conferência que contou com a presença do imperador Pedro II, já alertava sobre a necessidade de se conhecer e combater o comunismo para que não nos acontecesse o que então estava acontecendo com vários países europeus, ameaçados por guerras fratricidas intentadas pela agitação comunista. Falemos do ... “golpe” : segundo o “camarada” Gorender, insuspeito nesse caso por tratar-se de um dos dirigentes comunistas no Brasil, o golpe de 64 não foi golpe e, sim contragolpe. Se não, veja o articulista:

“Segundo penso, o período 1960-1964 marca o ponto mais alto das lutas dos trabalhadores brasileiros neste século, até agora. O auge da luta de classe, em que se pôs em xeque a estabilidade institucional da ordem burguesa sob os aspectos do direito de propriedade e da força coercitiva do Estado. Nos primeiros meses de 1964, esboçou-se uma situação pré-revolucionária (comunista !) e o golpe direitista se definiu, por isso mesmo, pelo caráter contra-revolucionário preventivo. ... Houve a possibilidade de vencer, mas foi perdida. Mais grave é que foi perdida de maneira desmoralizante”. Portanto, essa mania de falar em ‘golpe de 64’ revela ou estupidez ou má fé ou intenção de evitar o ... inevitável ! Afinal, para muitos observadores, a situação atual está muito pior do que estava no período 1960-1964 (situação “já”-revolucionária !!!).

Quanto à tortura, a revista VEJA (mas que coincidência !), na seção Veja Essa, publicou a seguinte declaração de José Genoino, atual presidente do PT, a respeito da divulgação, pelo Correio Brasiliense, de depoimentos seus, obtidos sob tortura, em que revelou codinomes de companheiros da guerrilha do Araguaia: “A tortura é um processo de negociação entre você e o torturador. Você tem de contar ao menos uma verdade. Se não fala nada, certamente morre. Não sou herói (novidade !!!). Heróis são os que morreram” (e morreram porque Genoíno contou ao menos uma verdade?). Infelizmente não tive acesso ao jornal para saber, se é que ele publicou, quantos “companheiros” o “camarada” Genoino “dedurou”, durante a sessão de tortura, se é que foi mesmo torturado (afinal, o papel aceita tudo!) e qual o fim deles. Realmente, como diria o Chacrinha, o PT “tá” bem de presidente!

Uma coisa é certa: sobre a tortura, e os torturados podemos ficar sabendo de tudo (instrumentos e métodos de tortura, torturadores, locais, resultados); agora, jamais saberemos quantos brasileiros inocentes foram salvos de morte certa (ao contrário da Russia, China, ... e Cuba !) graças a delação de “camaradas” que “negociaram” com o torturador, como afirmou o guerrilheiro por um dia. E como a relação dos mortos e desaparecidos políticos está sempre aumentando, seria interessante saber, aproximadamente pelo menos, quantos foram e quem são os “camaradas negociadores”.

Portanto, essa “herança do regime militar” não pesou nem pesa nada para a Instituição. Apesar dos percalços, falhas e erros, a ... ‘ditadura’, queiram ou não queiram as vivandeiras do caos, modernizou o País. Fato reconhecido até pelo “camarada Mr. ex-presidente” FHC. Vou além : até o trânsfuga Zé Rainha (não parece nome de bandido ?), pagodeiro do MST, afirmou recentemente que durante o regime militar, apesar da repressão, o povo não passava fome (mas que repressãozinha mais chinfrim !!!). Ao que acrescento: “Como não acontece no ‘fome zero’ do regime Lula (!!!). Ora, se os militares estavam trabalhando para desenvolver o País e os comunistas lutavam contra eles, temos aí indicação perfeita, segura, incontestável de que aos “bolcheniquins” não interessava o desenvolvimento brasileiro. Assim fosse e eles trabalhariam junto com os militares em vez de sabotá-los e combatê-los e procurar, até hoje, negar o inegável: a eles só interessava o caos que lhes permitiria, via revolução armada, submeter o povo brasileiro à ditadura comunista sob a inspiração dos mais diversos “cartolas” do movimento comunista internacional. Deram com os burros n’água e agora vêm com essa de que a repressão pesou para os militares. “Qualé”?

E quais eram (são) esses “bolcheniquins”? Dou uns poucos mas irrefutáveis exemplos (mortos ou vivos) : Prestes, Amazonas, Pomar, Marighella, Jover, Grabois, Gorender, Julião, Aldos (Arantes e Rebelo), Arraes, Brizola, Almino, Serra, Betinho, “Serjão”, FHC, Roberto Freire, Meneguelli, Vicentinho, Lindberg, Stédile, Conceição, Marta, Erundina, Olga Maranhão, Cecília, Boff, Betto, Casaldáliga, Genoíno, Palloci, Gushiken, Dirceu, Lula “et magna et concomitante caterva”. O fato de serem endeusados, festejados, bajulados e até condecorados não lhes retira o estigma amaldiçoado da traição. Afinal, já dissera o mencionado Napoleão (o Haag é sutil !!!) : “As honras, as recompensas, os afetos nunca podem ser para aqueles que serviram contra sua pátria !”. Está na hora de responder-lhes as “alfinetadas” e as ofensas, de revidar-lhes os acintes, de desmascarar o seu falso e oportunista nacionalismo, de desmistificar o seu idealismo anacrônico e canalha, de mostrar aos incrédulos o seu espírito internacional-entreguista. Não nos deixemos intimidar! Nem mesmo quando eles atiram seus cadáveres na liça da opinião pública, conduzida pela mídia comprada e/ou comprometida (e sobejamente identificada !) ; nas suas mortes não houve a grandeza da imolação pela honra da Pátria e pelo bem de seus filhos. Nem sejamos hipócritas : melhor haverem morrido uns poucos “bolcheniquins” do que tivessem perecido, por suas mãos, milhares, ou milhões, de brasileiros inocentes.

A boçalidade atinge o paroxismo quando o articulista cita um admirador (imagine se não o fosse!) de Caxias, que assim o descrevia : “Calmo, sereno, disciplinado, faltou-lhe, honra lhe seja feita, para impressionar com viveza o espírito das massas, esse desequilíbrio tão comum (?) nos grandes homens, que assinala para elas a sua grandeza em tudo, até mesmo nos excessos e aberrações da ordem moral”. Haag conclui: “O mito murchou”. Mais uma vez se engana, redondamente. Aí é que o mito demonstra todo o seu viço, toda a sua grandeza, todo o seu valor, provando, com uma vida e uma carreira plenas de dignidade, que não é necessário ceder à baixeza, nem ter algum distúrbio físico ou mental, nem tampouco algum vício infamante ou tara abominável para ser grande, para ser mito. Suas excelsas qualidades desmentem a cavilosa afirmação. Daí porque o Duque não é panacéia, mas inspiração ! E foi essa inspiração que virou-se contra “a aproximação da onda rubra e iconoclasta da desordem dos distúrbios e da anarquia” em 1935, em 1964, em 1968 (e em 2003/04 ?). E virar-se-á contra todo e qualquer inimigo, externo ou ... interno, que venha ameaçar a Pátria Brasileira. Esteja onde estiver, ocupe o cargo que ocupar ! Haag, aí, “pisou na bola” duas vezes : ao tentar desmoralizar nosso Patrono e ao julgar as massas tão estúpidas quanto os intelectuais de cocheira.

Assim, repito-me, a magnitude da nossa vocação e a nobreza da nossa missão podem ser resumidas - misto de pensamento, vontade e ação - num único verbo : “SERVIR” e para servir, além de muitas outras qualidades e qualificações, exige-se-nos uma condição essencial que uns poucos brasileiros traidores jamais possuirão : “DEVOTAMENTO”. Não temos do que nos envergonharmos ; porque não existe ignomínia na luta que visa à defesa da Pátria, à preservação da sua soberania e de sua liberdade, à manutenção de sua integridade territorial, à consolidação da unidade nacional, à garantia da ordem, e da lei, e da segurança interna e externa, ao estabelecimento, enfim, de condições geradoras de progresso e desenvolvimento com justiça social.

É por isto que o mito Caxias não perdeu força quando foi instituído o Dia do Exército. Por uma razão muito simples : “Caxias é o Exército, o Exército é Caxias” ! O remédio é o mesmo, o remédio é um só ! De Caxias e do Exército ninguém deve ter medo e, sim, confiança. Porque nós somos da Pátria a guarda, fiéis soldados !

“Veterano da Guerra da Independência”, o marechal Luís Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, é, por todos os méritos, o “Pacificador”, o “Filho Querido da Vitória”, o “Condestável do Império”, o “Patrono do Exército”, o “Símbolo da Nacionalidade”. É por tudo isto que, lágrimas nos olhos e aperto no velho coração de soldado, ainda ouço, acima do fragor da batalha, o brado patriótico do marechal sexagenário, espada na mão, irrompendo a cavalo pela ponte do Itororó:

“ SIGAM-ME OS QUE FOREM BRASILEIROS ! ”

(*) Articulista, professor e coronel da Reserva do Exército Brasileiro
Autorizo a publicação e/ou divulgação deste sem ônus para as partes.

Santos, SP, 25 de agosto de 2003
Ano do Bicentenário do marechal Luís Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias'




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