Usina de Letras
Usina de Letras
141 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62563 )
Cartas ( 21339)
Contos (13279)
Cordel (10457)
Crônicas (22549)
Discursos (3243)
Ensaios - (10496)
Erótico (13582)
Frases (50934)
Humor (20091)
Infantil (5515)
Infanto Juvenil (4840)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1377)
Poesias (140965)
Redação (3330)
Roteiro de Filme ou Novela (1064)
Teses / Monologos (2439)
Textos Jurídicos (1963)
Textos Religiosos/Sermões (6268)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->As causas psicossiciais da pobreza -- 08/03/2004 - 10:39 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS CAUSAS PSICOSSOCIAIS DA POBREZA

Alberto Oliva, filósofo
03/03/2004

Nas análises das causas responsáveis pela pobreza das pessoas e das nações não se dá a devida atenção aos fatores psicossociais. A teoria mais aceita é a de que as carências materiais decorrem da exploração, da mais-valia, das relações assimétricas entre os donos dos meios de produção e os que se vêem forçados a vender, a preço aviltado, sua força de trabalho. Marx em O Capital fala da miséria em que se encontra a classe operária no capitalismo nascente supondo que o quadro descrito se agravará levando a uma polarização entre burguesia e classe trabalhadora. Tudo culminando na revolução proletária. Eram tempos em que se acreditava em inevitabilidade histórica e em necessidades férreas. Adotado o pressuposto de que a opulência de uns poucos é a causa da pobreza da grande maioria, deixa de existir a possibilidade de ocorrerem melhoras que se traduzam em benefício para todos. Como o jogo é de soma zero - e é iníquo - o que resta fazer é tentar destruir revolucionariamente o sistema econômico.

Ao serem descritos como entes impotentes, e ao passarem a assim se ver, os
pobres se acomodam ou se anulam. E o pior é que apagam a chama da criatividade que existe dentro de cada ser humano. Esse é um cruel processo de desumanização. Sendo levados a se ver como vítimas de um sistema cujo funcionamento foge totalmente ao seu controle, perdem a capacidade de iniciativa. Desmotivados, ficam sem ter como sair da cilada social em que se encontram. Ficam reduzidos à condição de empregados apagados; condenados, num bom número de casos, a fazer sem entender. Ora, para que alguém consiga empregar a si mesmo, operar com suas próprias forças, é necessário que conheça suas potencialidades e que saiba como torná-las realidade. Só assim poderá se dedicar ao atendimento das próprias necessidades e vender, em melhores condições, sua força de trabalho ou se beneficiar de sua vocação empreendedora.

Nas sociedades livres, nas economias de mercado, as pessoas que conseguem destaque são as que criam novos produtos ou técnicas, convencendo as demais a consumi-los. São escravas da vontade alheia. Não prosperam, quando justas e éticas, porque exploram seus empregados, e sim por fazerem uso de seus talentos, direcionando-os para a satisfação dos desejos e das necessidades dos outros. A visão estereotipada de que empresários mandam e desmandam, de que são senhores do mercado, só se aplica a contextos em que a competição é diminuta ou inexistente. Os que combatem a competição como inimiga da solidariedade esquecem que sem ela perde-se o parâmetro fundamental para o estabelecimento de méritos. Não deixa de ser curioso que muitos daqueles que reconhecem a justeza de se concorrer a uma vaga de trabalho, de participar de um concurso público, têm ojeriza à concorrência no domínio da economia.

Felizes vão a um campo de futebol acompanhar o time de coração golear a
fraca equipe de um clube pequeno. Onde existe concorrência, o povo é mais explorado pelos governos que pelos empresários. O que está errado na percepção coletiva do brasileiro é a suposição de que a exploração é sempre praticada por empresários gananciosos. Esta 'tese', recorrente nas telenovelas, caiu no gosto do senso comum. Como os impostos são todos camuflados, poucos se dão conta de que vivem para sustentar governos perdulários e ineficientes. A espera do salvador, pátria equivale à ovelha que marca um encontro com o lobo imaginando que ele cumprirá a promessa de protegê-la de outros potenciais agressores. Para ter sucesso, as pessoas não precisam de esmola, e sim de um ambiente que favoreça seu crescimento emocional e intelectual.

A educação que prepara o indivíduo para ser criativo e empregar a si mesmo,
em vez de ser empregado por outro, não é a que inculca ideologias que levam à passividade da espera da revolução redentora. O ser humano precisa ser ensinado a se conhecer, não apenas em termos de sua constituição psíquica, mas principalmente no sentido de descobrir seu potencial de fazer coisas com as quais sequer sonha. Só isso lhe permite trabalhar para si e servir ao outro. A mentalidade que leva à passividade é uma das principais fontes da escravização. O homem, no desamparo de sua solidão, fica à mercê do que lhe oferecem. Das idéias ao trabalho, não é dono de nada. A despeito de ser muito difícil, é preciso desenvolver pedagogias socráticas que despertem o inventor e o descobridor que cada um, em maior ou menor proporção, carrega em estado de latência.

No início de seu governo, o presidente Lula disse que os países precisam parar de botar a culpa nos outros. Se fizessem o mesmo, as pessoas dedicariam mais tempo à descoberta de si mesmas. Identificariam os talentos que guardam como tesouros inexplorados. E criariam para si uma identidade, um projeto de vida. Essa é a forma mais revolucionária de alguém ser senhor de si para servir ao outro. Os discursos que tratam as pessoas como reféns do sistema não logram, diferentemente do que apregoam, libertá-las. O que fazem é mantê-las em imobilidade letárgica, manipulando politicamente seu infortúnio econômico. Só que não há ganho em substituir a suposta exploração econômica pela servidão política. A autêntica liberdade é a que permite que cada um busque suas potencialidades sem enfrentar entraves artificiais à sua plena realização. A busca do novo, de novos nichos, pressupõe retirar do espírito todas as amarras. A pior pobreza é a psicossocial. É ela que gera as privações materiais. As pessoas que estão à margem do sistema econômico não têm, no fundo, acesso a si mesmas, ao seu patrimônio de potencialidades.

É dos miseráveis que se extrai menos mais-valia porque eles sequer têm condições de oferecer o que têm de melhor.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui