As palavras não podem jamais expressar o que se passa no espírito. Elas podem no máximo ser símbolos pálidos dos sentimentos.
“A tempestade que cai lá fora, dentro é um som; no entanto nem som é chuva, nem chuva é som”. Eu explico, e a minha explicação jamais pode esclarecer o que realmente penso: Estou dentro de casa, e ouço que lá fora cai uma enorme tempestade. Ela é real, com ventos, relâmpagos e trovões. Mas ouço somente barulhos e clarões. No entanto sei que lá fora chove sendo que dentro é só um barulho. Mas barulho não é tempestade e nem tempestade é barulho. Se fosse, choveria dentro de casa.
No momento que o leitor lê essas palavras, pensa na mesma tempestade, e acredita que falo de algo real, senão já teria interrompido a leitura... E crê que falo a verdade e, no entanto, nem ouve o som. Ele é só um pensamento... Não existe som.
Outro exemplo: O amor que está dentro pode ser demonstrado por um carinho; no entanto nem carinho é amor nem amor é carinho. E quando descrevi num conto uma cena de amor, as pessoas reagiram com carinho, e em poucas horas recebi uma centena de e-mails. Foi uma reação de carinho, por uma história de amor inventada por mim... Ou um sentimento criado à partir de palavras.
Por isso novamente volto às palavras. O poder delas é muito grande, mas não se compara com o que está dentro do meu espírito. Tanto que posso dizer uma coisa e as pessoas entenderem outra. Tanto que as palavras ditas por exemplo por Jesus, podem causar tantas reações diferentes nas pessoas e mesmo as que se dizem cristãs se odiar enquanto pregam justamente o amor. Palavras, versos sentimentos.
Vejam isso: embora cheios de palavras de amor, não conseguem se amar. Mesmo pregando a paz, estão muito mais para a guerra, e ela só não acontece de fato, porque se reúnem separados. E a separação não é somente uma força de expressão, porque expressão é palavra que não define o ódio que o chamado cristianismo pode carregar sem nenhuma culpa de Jesus, que não disse nada do que os seus pretensos seguidores pregam.