“O paraíso é esse estranho território exíguo e esquivo...”
É esse lugar aonde só se pode chegar sendo convidado (e nunca por esforço próprio)... E quando alguém tenta agarrar de unhas e dentes pensando ser, já não é. Porque o paraíso não é bem um lugar que possa ser tomado por assalto como nos discursos daquele que clama no deserto...
Suponhamos que alguém vá ao inferno nos tempos em que o paraíso onde está se transmuta em dor e pranto... E (a dor e o pranto no paraíso) haverá de ser um teste infalível que define quem é quem quanto ao sentimento bipolar que define o lugar de onde é. Porque mesmo que muitos defendam o paraíso como uma propriedade que pode ser comprada às custas da freqüência aos porões escravos do medo, mesmo assim ele desvanece como uma bruma justamente no instante que parece encontrado...
Foi isso que aconteceu naquele dia em que eu me julgava eterno, e de repente, num estalo de pensar, num resvalar dos pés da consciência, num vacilo do caráter do meu coração, me vi em um inferno, sem mesmo ter afastado os meus pés do lugar onde fui colocado como o dono absoluto da herança eterna...
Foi isso mesmo que aconteceu com o meu primeiro irmão quando deu ouvido à voz de quem rasteja no pó dos sentimentos de chão... Foi o que aconteceu quando ouviu a fala dos desejos de um coração que ainda não sabia ver o que há de mais elevado no inebriar da alma daqueles que viram de perto o amor e a paz...
Foi ainda isso que aconteceu quando o nosso semelhante viu-se despido de toda a pureza, e sentiu-se envergonhado por ter dado mais ouvidos aos sentimentos que a razão... E foi por isso que ele não viveu perpetuamente no lugar onde deveria ficar para sempre...
Na verdade, jamais alguém foi expulso do paraíso... Ele não é um lugar... É um sentimento que faz com que o chão fuja de debaixo dos nossos pés quando não mais damos valor ao que de fato devemos dar...