Para que o processo patológico de degenerescência de nossa consciência seja truncado e o processo de zéninguenismo pare, necessário que se faça a análise de mais um trecho da obra de Reich.
“Eu não posso arrancar-te do lameiro. Só tu podes fazê-lo. Nunca participei dos teus círculos e conferências porque a regra de oiro (sic) consiste em “calar o essencial”, “falar apenas o acessório”. É verdade que durante vinte e cinco anos lutei por ti, te sacrifiquei a minha segurança profissional e a paz de minha família; financiei organizações tuas, participei em marchas e manifestações de protesto”. (REICH, Wilhelm. Escuta, Zé Ninguém. 3.ed. Santos: Livraria Martins Fontes, 1974, p. 88)
Ninguém pode ajudar ninguém, se aquele que necessita de ajuda não aceitar o socorro que lhe está sendo dado. O processo de ajudar é feito de duas vias. Uma, aquela percorrida por quem está dando o auxílio; a outra, que deve ser percorrida por aquele que vai receber o socorro. Se uma das duas vias não for devidamente percorrida, o processo de ajuda perde o sentido de ser e mais, perde qualquer significado. Torna-se inócuo. O homem do mundo contemporâneo está doente. Sofre de solidão, de abandono, de falta de fé e esperança. Mas, ninguém poderá ajudá-lo se ele não quiser ajuda. É como a verdade. Se não estivermos dispostos a ouvir a verdade, ninguém no mundo nos poderá dizê-la.
Passamos a vida a discutir assuntos sem qualquer importância ou relevância, e deixamos os assuntos verdadeiramente importantes de lado. No dizer de Reich, substituímos o “essencial” pelo “acessório”. Reparamos nas roupas dos outros, no comportamento dos outros, no modo de falar e pensar dos outros, mas, nos esquecemos de falar de nós mesmos, de nosso comportamento, de nossos vícios, de nossas manias. O maior problema a ser enfrentado pelo homem não está fora dele, mas sim dentro. Somente quando aprendermos a fazer uma séria crítica sobre nós é que estaremos verdadeiramente diante da descoberta dos segredos do mundo, da compreensão do universo que nos envolve. Por que procurar fora o que está dentro? Somente o tolo ignora o problema e, ao ignorá-lo, cria condições para que ele se amplie ainda mais. Haverá erros? Certamente. Mas somente os homens que nunca fazem nada estão livres do erro. Entretanto, cometem o pior dos deslizes, o deslize da omissão. Não estamos no mundo por acaso. Viemos para uma finalidade. Mas, compete a cada um descobrir, por meio dos talentos que lhe foram confiados, qual sua missão.
Não desperdicem os talentos que vos foram confiados, mas coloquem eles à disposição da humanidade e de tudo quanto há de bom, puro e verdadeiro. Somente pela busca diária e constante do bem é que poderemos dar às nossas vidas um significado e assim, quando chegarmos ao fim de nossas existências, que possamos olhar para trás e ter a sensação de que tudo valeu a pena. Não importa que o mundo, medíocre e hipócrita nos julgue, o que importa é que aos olhos de Deus estejamos nos saindo bem. Afinal, nunca se esqueçam do que disse Madre Teresa de Calcutá: “Veja você, que no final das contas, é tudo entre você e Deus, nunca foi entre você e os outros”.
