“Eu sou quem sou se penso que sou”.
E assim ele foi por muito tempo, porque era quem pensava que era. Mas um dia teve dúvida, e pensou:
“Mas eu não sou quem penso que sou. Porque se eu fosse, era só pensar que sou quem não sou e no mesmo instante seria... Ou não?... Por exemplo, eu vejo um homem e penso que eu não sou aquele homem, e não sou. Mas se eu pensasse que fosse, ainda assim, não seria. (Ou seria?... – perguntava baixinho.) Portanto, não sou quem penso que sou?”
Então ficou angustiado por muitos dias, porque por toda a vida tinha acreditado na teoria dos filósofos de que somos quem pensamos que somos.
Mas um dia, teve uma idéia como uma luz que brilhou em seu pensamento:
“Na verdade, eu sou quem penso que sou se acredito no que sou”.
E por muitos dias viveu esse novo pensamento, e seu rosto se alegrou, e riu intimamente de pensar que todos estavam enganados porque pensavam que eram quem pensavam que eram, mesmo que pensassem errado se eram quem pensavam que eram. Mas, novamente um “mas” surgiu em sua mente:
“Mas se uma pessoa acredita ser o que não é, ele só o é no pensamento. E se de fato não é, esse pensamento é que determina a loucura... Mas se eu tenho consciência de que não sou o que penso que sou, é porque de fato não sou, ou porque tenho consciência de que sou o que não sou?...”
Teve que parar um pouco e escrever o que pensou, porque os pensamentos já estavam muito confusos em sua cabeça. Então escreveu:
“Eu sou...”
Riscou o que escreveu, e recomeçou:
“Eu não sou...”
Riscou novamente e pensou:
“Não sei se sou ou se não sou...”