Desculpe ter que dizer de cara que você está enganada quanto a algumas coisas. Infelizmente não tenho mesmo como responder a todos e-mails, mas tenho dado atenção especial a pessoas como você, se não de forma tão declarada, mas carinhosamente dentro da minha alma.
Sei o que sofre uma pessoa solitária, porque eu também o sou. Sei o que pulsa dentro de uma alma como a sua, porque penso que a minha tem a mesma cor. Um dos seus enganos é julgar quem te fala pelo número de palavras que a você é dirigida. Não é o número que importa, mas a qualidade, o tom, o carinho delas. Hoje por exemplo encontrei a Sabedoria e ela nem falou comigo, mas olhou no olho da minha alma...
Sou calado, e se você convivesse comigo talvez pensasse que não existe amor em meu coração porque passo muito tempo sem dizer uma palavra. Mas sei que você é palavra, e que o silêncio a angustia. Porque quem tem palavras retidas dentro do peito sente por vezes que irá explodir a qualquer momento se não as disser. Eu sei porque também tenho uma palavra dentro do peito que quer sair e não há quem a ouça. Faça o seguinte com elas: coma as boas, e jogue as ruins como aquele pescador fez com os peixes que pescou.
Penso, desculpe novamente dizer, que você deveria assumir a postura que tem dentro da alma. Você não é feita de lamentos. Nem se deleita em clamunhas. Mas tem um humor talvez incompreendido dentro do peito. Faça com que ele divirta a você mesma e me conte o resultado depois, se outras pessoas não se sentirão mais alegres ao seu redor, e se não rirão também, contagiando você num gostoso círculo vicioso de alegria e alegria... Dê uma olhada para dentro de si e veja se não há um paraíso a ser contemplado. Desculpe mais uma vez, mas não tenho como não ser insistente nisso que vejo... Vou ajudar você... É só ler e seguir as instruções... Feche os olhos e respire fundo. Expire. Repita o exercício. Se houver barulho à sua volta deixe de ouvi-lo. Isso. Veja que o paraíso que há dentro de você é um lugar de paz. Sente? Agora, ainda com os olhos fechados eleve os olhos da sua alma e contemple o que quiser. O que acha bonito. O que acha que é de paz. Tudo que acha que é bom... Esqueça as pessoas por enquanto, porque no paraíso encontramos outras (e talvez as mesmas) mais sossegadas, mais calmas, mais amáveis. Percebe? Quer andar um pouco? Aqui é andando que se descansa. Ande. É calado que se entende no paraíso, porque a nossa linguagem está acima, muito acima mesmo do significado das palavras... É no silêncio que ouvimos aqui. E comemos e bebemos de uma mesa que para os outros não existe. É por isso que eles não acreditam no paraíso. Mas aqui não precisamos que nos acreditem. Não precisamos das pessoas que sempre achamos que precisávamos, e aqui somos livres de todo contrato e cadeias que nos prendiam às pessoas que nos angustiam. Esqueça também quem você gosta por um pouco de tempo, e terá uma enorme surpresa de saber que aqueles que realmente nos fazem felizes estão todos aqui. Os outros não encontraremos. E outra surpresa: Todos os que nos dão alegrias e tristezas, encontraremos aqui, mas sem aquilo que nos entristecia...
Bem, esse é seu primeiro dia no paraíso. Se não conseguiu, tente novamente. A porta é um pouco estreita, e só se entra sozinho, mas ela está aí diante de você. Se conseguiu, repita o exercício para saber a segunda lição...