Estou plenamente consciente da tua função digamos protetora em minha vida...
Você chega e tira sutilmente os doloridos espinhos tendo o cuidado de anestesiar-me antes da operação... Desculpe a máxima inocentemente poética, mas foi justamente por isso que escrevi aquele poema dizendo que há menos dor na aspereza dos espinhos que no colorido das flores... Foi com você que eu aprendi que há amargo no doce, e doce no amargor da vida...
Sei que não é a você que devo agradecer porque nenhum anjo pode enviar-se a si mesmo, mas tenho a tendência de dizer sempre a mesma palavra de gratidão que está dentro de mim a todos os que emprestam seu braço para os gestos de amor que recebo... Essa palavra teima aflorar aos meus lábios enquanto no meu peito exerce uma pressão e um peso antes de ser dita...
Os teus temores passaram a ser os meus e os meus se instalaram em você nessa troca que existe entre aqueles que os céus nos seus constantes mistérios entrelaçam como anjos acasalados... Porque muitas vezes dizemos o que não queremos, ou queremos o que não dizemos... Mas insisto que há sem dúvida uma troca tão elevada nessas vontades e desejos, que mesmo com o maior dos nossos entendimentos seriam pequenos diante do cenário desse amor que nos é mostrado...
Deixo a você as correções das rotas dos meus passos, elevando (você) a um nível que ainda não concedi a ninguém... Esse é meu voto de inteira confiança... Isso porque sei que por mais que eu veja, não posso ver de todos os ângulos. E se considerarmos que somos únicos nas situações em que vivemos (e ouso afirmar que somos), saberemos que temos também um ponto de vista inusitado em cada uma das nossas situações desejos e vontades... Isso pode ser bom ou ruim, dependendo do entendimento com que absorvemos a cada um deles, juntos ou não...
Você sabe da minha idade... Muitos não dizem que a tenho. Acontece que aprendi contigo esse segredo, e renovo meu pensamento a cada instante e quando os dias passam com seu tempo cadenciado eu tiro deles o que há de melhor, e deixo que (esse tempo) leve consigo o que há de pior... Então a minha alma parece experiente para os que ostentam as inconseqüências da juventude, e (parece) jovem para os que expõem as desesperanças da velhice, fazendo desta uma derrota consumada... Estou no meio dessas duas idades como quem anda de mãos dadas com o passado e o futuro ao mesmo tempo, e isso determina em que ponto estou nessa eternidade...
Você me incentiva dizendo palavras bonitas a respeito do que escrevo, ignorando que muito do que digo de você, o faço olhando o espelho, e que muito do que digo de mim é o que vejo refletido nos olhos da tua alma...