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Ensaios-->AQUELE PALHAÇO DE PAU -- 22/07/2005 - 17:35 (Glácia Daibert) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A Q U E L E P A L H A Ç O D E P A U

Não há ninguém que não adore as crianças
e não lhes dedique carinho enorme.
É que bem queremo-as, nós nos bem quistamos.
Os enganos, as desilusões, os desesperos e o fracasso
que todos tivemos, ante o futuro, que fôra idealizado
fazem com que a alma infantilize de novo
e se tome de inveja pelos que apenas engatinham
sobre as misérias do mundo.
Há em cada mulher em cada homem
uma vontade de começar tudo de novo
uma saudade doida da sua meninice...
De muito longe, cada um carrega uma impressão
que nunca mais se apagará da lembrança.
Recordo-me bem que eu tinha uma irrestível fascinação por um brinquedo
com que por força, folgastes também:
- o palhaço de pau, que gira nos basbantes.
Quando aquele trapésio singular pintado de verde e amarelo
vinha para a festa de meus olhos
sofria um gosto estranho.
Nas pontas de baixo, apertava gostosamente,
e nas de cima, no cordel trançado,
o palhaço desconjuntado desarticulava gestos imprevistos
cenas grotescas, atitudes elegantes e bizarras.
Então eu imaginava (vaidade louca)
que o universo seria para mim aquele boneco
Com a ponta dos dedos o manejaria,
dar-lhe-ia as posições que entendesse
pô-lo-ia sempre ao sabor do meu desejo e da minha ambição
Ah!!! quem dera ter ficado sempre pequenina
movendo a vida, aquele palhaço de pau
nas mãos macias
que ainda não tinham os calos do sofrimento....

GLÁCIA DAIBERT



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