A matéria abaixo foi escrita em 1993. Publico-a apenas com a finalidade de demonstrar a todos que a lerem, de que o nosso panorama brasileiro, se não procurar o caminho de uma tomada de posição do povo, (que se diz brasileiro e ama o país), não chegará a lugar nenhum. Tanto para nós adultos, tanto para as crianças que vêm aí. É um país condenado pela malta de ladrões que sempre nos governam! Não pode haver tanta falta de sensibilidade por parte do povo. Será que vamos apenas pular carnaval, beber cachaça, fazer churrascadas e assistir futebol, enquanto o país nos afunda (a nós e nossas famílias) no mais cruel destino, isto é sem destino? Ninguém no Brasil tem moral para criticar o presidente Bush, quando todos nós temos sido pequenos Bushes para nosso país! Poucos brasileiros se preocupam com o Brasil! Então, neste caso, a maioria não tem condições morais para dizer que ama este país. O amor por algo significa acima de tudo a busca da luta, da defesa, da melhoria daquilo que amamos. Ninguém ama seu filho, ou seu pai, se não cultiva este amor. E pátria, segundo Rui Barbosa, não passa de família amplificada. Quê pátria é esta que seu povo a deixa nas mãos dos lobos? Quê gente brasileira é esta, que só pensa em viver a vida se divertindo, quando no seu lindo país tem 40 milhões de pessoas comendo até casca de banana para sobreviver?
É. Fica difícil acreditar em pessoas que batem constantemente no peito e diz que é brasileiro. E também que o melhor do Brasil é o brasileiro. Quê brasileiro? No meu modesto ponto de vista, uma serpente no pantanal tem sido mais brasileira do que a maioria dos brasileiros! E tenho dito.
A matéria abaixo foi publicada num jornal aqui de minha cidade em 1993. Até hoje ela está com suas verdades intactas. Nada mudou. Nada mudará enquanto não houver brasileiros dentro do Brasil! Leia se quiser................................
SEM EDUCAÇÃO
A luta do professorado jauense e de todo o Estado de São Paulo por um salário melhor, só não é tão abrangente porque não recebe a adesão de muitos professores receosos pelo emprego e pelas perseguições, já comprovadas por este pai de aluno que lhes escreve.
Esta heróica classe está desaparecendo, cedendo lugar a uma outra que a sociedade muito faz por merecê-la. São novos profissionais alienados com a educação porque simplesmente a tem como bico, ou preenchimento do vazio de horas perdidas, já que, o esposo ou esposa ganha o suficiente para bem viverem. Os verdadeiros profissionais do ensino, amantes da profissão que exercem, resumem-se em um punhado de bravas senhoras a lutarem sem recursos e enfrentando um sistema travado na sua ignorância e intolerância para com a principal causa de todos os efeitos sociais.
O resultado disso está na burrice cada vez maior de nossos filhos, cujo estímulo retrocedeu pela falta de vontade e capacidade de alguns professores em detrimento daqueles que fazem do oficio um sacerdócio. Estes últimos pedem a melhoria de seus salários, mas muito mais que isto, solicitam também um investimento maior na educação como um todo por parte da sociedade. Eles bem o sabem, a educação é a pilastra que sustenta todas as demais colunatas sociais.
A educação, por exemplo, é bem mais importante do que a saúde de um povo. Pode-se perder a saúde, mas jamais a educação. Aliás, quem foi bem educado tem mais saúde do que os menos educados. Talvez seja por isso que vivemos um caos na saúde. Porém, o caos se generaliza porque ninguém entenderá um povo sem educação. Desde o futebol até a mais simples das atividades, como o plantio de uma horta, vive-se hoje no Brasil o drama do desentendimento, da irresponsabilidade, da impunidade e principalmente da miserável condição do espírito humano. Tudo por falta de uma boa escola.
Não existe saída. Por mais que os economistas aconselhem a investir neste Fundo de Investimento, ou naquelas ações, ou caderneta de poupança, só existe um investimento capaz de dar bons frutos: a educação. O resto é conseqüência. E isto não é apenas responsabilidade dos governos. É também de suma importância moral da família.
Só que a vontade de enriquecer materialmente hoje é tão forte, por força evidentemente da má educação, que os investimentos são desviados por todos, governo e família, para setores outros como o mercado financeiro, a desenfreada jogatina principalmente, e depois para o imobiliário. A educação vem por último nesta escala, quando deveria ser a primeira, já que ela sim trará, embora em longo prazo, a tal riqueza material.
Estamos vivendo em nosso país uma fase de penumbra e cegueira de difícil prognóstico. Nem sequer enxergamos a evolução de outros povos no setor da educação para seguir seus passos, pelo menos exemplarmente quando investem maciçamente.
A conseqüência está aí. Nós a vivemos diariamente na abominável violência. No oceano de favelas que proliferam pelo país. No registro de diversas chacinas: Casa de Detenção, Candelária e a dos Ianomâmis. A tragédia da fome. O salário mínimo sempre inferior a 100 dólares e outras tantas hecatombes.
O pior de tudo, entretanto é descobrirmos dentro da argamassa de carne, um homem mesquinho, deseducado e quase animal, obedecendo cegamente ao que dita a tv. e sem nenhuma opinião formada. É como procurar e não achar. Bater numa madeira e encontrá-la oca. Isto é, sem educação.
Jeovah de Moura Nunes
poeta, escritor e jornalista
(publicado pelo jornal “Comércio do Jahu” nº 22692, de 29 de agosto de 1993, (domingo)).