Análise do discurso aplicada ao texto
“CICATRIZ NA MEMÓRIA”
Reportagem do Jornal Estado de Minas – 06/08/2005
ESTRUTURA
O texto apresenta uma estrutura em prosa, divida em 12 parágrafos. No canto superior esquerdo temos o desenho, em origami, de uma pomba. Uma referência explícita à cultura japonesa e ao tema da paz. Ao lado da imagem há um sintagma nominal, “HIROSHIMA 60 ANOS DEPOIS”, que procura situar o leitor no momento histórico da explosão da Bomba Atômica na cidade japonesa de Hiroshima. Introduz-se assim, a temática da guerra.
TÍTULO E SUBTÍTULO
O título “CICATRIZ NA MEMÓRIA” é uma metáfora, que pretende transmitir a idéia de uma lembrança dolorosa, algo que marcou e que perdura nos dias atuais.
O subtítulo, que recebe no léxico jornalístico a denominação de “bigode”, apresenta uma informação sobre o arsenal atual de armas nucleares. O narrador destaca que este arsenal é “suficiente para destruir o planeta muitas vezes”, o que evidencia o discurso a que se pretende dar voz.
Por um lado, a memória é defendida como um aspecto positivo, enquanto por outro, a guerra recebe uma caracterização negativa.
ILUSTRAÇÃO
A ilustração, localizada bem ao centro da reportagem, mostra o centro da cidade de Hiroshima devastado pela explosão da bomba. Na legenda, o narrador estabelece uma oposição. Se antes, o que havia ali era uma cidade histórica fundada no séc. XVI, destacando o tema do patrimônio histórico como algo a ser preservado, após o acontecimento, que se deu em questão de minutos, o que passou a existir foram as ruínas. Há uma relação entre tempo para construir e tempo para destruir.
CORPO DO TEXTO
O texto, que pretende falar de um fato histórico, inicia-se justamente a partir de uma perspectiva temporal, “No dia 5 de agosto de 1945”, sendo que o segundo e o terceiro parágrafos apresentam a mesma perspectiva, “Na manhã seguinte” e “Em dado momento”, respectivamente. O tempo é apresentado, pois, de forma gradativa e evolutiva. Inicia-se no dia anterior à explosão da bomba e caminha em direção aos dias atuais.
No primeiro parágrafo, a personagem principal Akie Yoshikawa é introduzida. O tema da morte se faz presente através da missão camicase, a ser empreendida pelo cunhado.
O terceiro parágrafo, construído a partir do discurso direto, mostra Akie Yoshikawa relembrando o momento exato em que a bomba explodiu. Interessante destacar este aspecto da sintaxe discursiva, já que se trata de uma estratégia argumentativa do narrador, com vistas a criar um efeito de verdade sobre o fato narrado.
O quarto parágrafo, ao falar sobre as condições atuais de Akie Yoshikawa, desloca o tempo para o presente. O espaço abrange o hospital da Cruz Vermelha, em Hiroshima. O termo hibakushas, um neologismo nipônico, explicado através do aposto evidenciado entre parênteses, trás a temática dos sobreviventes irradiados.
No sexto parágrafo, o tema em destaque são os esforços de guerra, isto é, as atividades desenvolvidas pelo governo japonês como medidas preventivas a eventuais ataques dos norte-americanos. Para dizer o porquê de Akie e sua mãe terem se dirigido para a escola transformada em abrigo, o narrador explicita as condições causais, o que pode ser percebido nas seguintes colocações: “como o Japão estava em guerra” “e ela trabalhava para o governo” “foi obrigada”.
O sétimo e o décimo primeiro parágrafos fazem, novamente, através do discurso direto, uma descrição dos efeitos imediatos da bomba sobre a população sobrevivente, mais fortemente atingida.
No oitavo parágrafo, o narrador se apropria de termos técnicos como, “pressão atmosférica” e “órgãos internos”, para descrever estas reações.
No nono parágrafo, Fumiko Oki, de 85 anos, ganha voz no discurso. Nesse momento, embora seja uma personagem secundária, o narrador a qualifica na condição de confirmar o relato anterior de Akie Yoshikawa. Este posicionamento pode ser compreendido quando se observa que esta nova personagem é alguns anos mais velha que a personagem principal. A questão da idade se torna, pois, uma referencia para a legitimidade do discurso.
Por fim, o último parágrafo apresenta uma síntese da reportagem, que é o relato de duas japonesas, após 60 anos da explosão da bomba atômica em Hiroshima. O texto termina com uma adesão explícita à valorização da memória “Não esquecer nada e não perdoar nada. Nunca os perdoarei”.
O discurso oscila entre a primeira e a terceira pessoa. O narrador demonstrar ter domínio na progressão dos acontecimentos, concedendo voz aos personagens nos momentos mais críticos, para em seguida retomar a narrativa.