O bispo franciscano Luiz Flávio Capio em Cabrobó resolveu ceder aos apelos de Lula. Não foi corajoso o suficiente para conquistar pela luta seus anseios de melhoria no rio São Francisco. Nós já tivemos heróis no passado. Hoje em dia as coisas mudaram. Passar fome? Nem que a vaca tussa! Vivemos hoje de churrascadas e os excessos de farras com a carne dos animais, que morrem inutilmente. O valor que damos à carne deles é apenas para as orgias da carne na grelha. Pessoalmente já assisti até guerras de carnes atiradas um no outro, como se aquilo não tivesse nenhuma importância. E dizem com a boca cheia que nosso país é um país abençoado por Deus. Ora, se Deus abençoa um país que vive de farras e sujo pelo sangue dos animais, posso garantir a todos que este Deus não é o meu Deus. Pode ser o de todos os brasileiros, mas não é o meu. O meu Deus tem amor por nós e principalmente pelos animais. Estes brasileiros que têm a coragem de matar animais, comer sua carne e beber seu sangue, não têm a coragem de derramar o seu próprio sangue pela melhoria social do país. São covardes! São corajosos apenas para matar e comer a carne dos animais, como se estes fossem “coisas” e não seres vivos. Comer carne não é proibido. Mas, necessário se torna o respeito comedido pela criatura que morreu para que possamos continuar vivendo. Os índios sabem disso. Tanto que nos EUA rezam, agradecendo durante três dias antes de matarem os búfalos, que lhes darão o alimento e o calor de suas peles para suportarem o frio rigoroso. No Brasil certas tribos costumam agradecer às árvores que serão derrubadas para erguerem suas malocas. Na Índia – país genuinamente espiritualizado – come-se carne de gado somente quando a pessoa está doente e necessita de muita proteína animal. Claro que essa rotina não é generalizada. Em outras regiões existe um cardápio com alimentos carnívoros. Mas, o brasileiro exclusivamente, satisfaz a sua gula ingerindo a carne de animais, que no entender nosso são obrigados a morrerem para nosso divertimento. Nos EUA também ocorre tal costume. Tanto que as pessoas andando pelas ruas parecem manadas de elefantes de tão gordos. Não são gordos, sofrem de obesidades em razão do excesso de gorduras. Daí a armadilha dos ataques cardíacos. Uma rotina em todo os Estados.
Os outros bispos lá do nordeste, sem nenhuma ideologia além do amor ao dinheiro criticam severamente o bispo franciscano que estava em Cabrobó com sua greve de fome, simplesmente porque este tem ideologia, além da sua atividade cristã. Já o povo brasileiro com histeria, ou fanatismo religioso já considera o bispo um “santo”. Há quem diga que já faz milagres. Ora, milagres existem quando a gente se mexe, dentro de uma ideologia qualquer que venha favorecer a comunidade, tanto falando de pessoas, como a comunidade do meio-ambiente, onde se incluem as florestas, os rios, os seres vivos. Esse mesmo povo brasileiro fanático e cheio de histeria religiosa é o mesmo que mata animais para as suas orgias de sangue, bebendo cerveja e comendo carne de nossos irmãos menores. Lutar pela comunidade e pelo social, além do meio-ambiente, nem pensar! Nessa alienação está toda tragédia brasileira. É como aquele brasileiro que morreu em Londres porque foi confundido com um terrorista. O rapaz morava em Londres. Espalhava-se pelo país todas as informações sobre os cuidados que os policiais estavam tomando por motivos óbvios das explosões, que ocorreram no metrô e em outros locais. Mas, o brasileiro vivendo num país de primeiro mundo não sabia de nada. Todos sabiam. Ele não. E daí resolveu passar com uma mochila enorme pelo metrô, num dia em que toda a policia londrina havia anunciado estado de sítio. Cara! Esse brasileiro é o retrato do Brasil! Morre à-toa. Ou morre simplesmente porque deseja ardentemente ser um alienado de tudo. Não quer participar de nada que tem aspecto sério. Só quer mesmo fazer churrascadas, beber alcoólicos, “trepar” sexualmente falando e não se interessar pelas notícias que colocam as pessoas a par de tudo e por isso mesmo “sobrevivem”. Até os animais conhecem essa ciência de “permanecer a par de tudo” para sobreviverem. Mas, nós brasileiros não estamos nem aí. Nós queremos apenas o futebol. O carnaval. As churrascadas. As praias, festas juninas, forrobodós e tudo que tenha sinônimo de alegria. Isto é, não partidário da tristeza. Mas, a alegria é algo mais sério do que se imagina. É também um estado de espírito. Alegrias fabricadas não são alegrias. São tentativas de esquecer alguma coisa. Coisa esta que jamais será esquecida. É o que a psicologia chama de “trauma”. E os traumas brasileiros são apontados como os piores do mundo, simplesmente porque o trauma conduz o ser humano a um comportamento alienado. As religiões completam essa alienação porque dão esperanças, quase sempre incompletas às pessoas, para não dizer esperanças frustrantes. O exemplo está quando um país passa por situações de guerra. Duas pessoas, uma de cada país, em face de uma situação perigosa, podem tomar atitudes diferentes: uma fará frente ao perigo, outra fugirá. Com tanta alienação a pessoa fujona certamente será um brasileiro nesta comparação. Isto porque o comportamento varia conforme as solicitações do mundo exterior, e de acordo com as características psíquicas de cada um de nós.
Quais são as solicitações do mundo exterior dos brasileiros? Resposta: Samba, carnaval, futebol, excesso de religião, churrascadas, bebedeiras, reuniões sociais com altas demonstrações de esnobismos, passeatas gays, praias, vida mansa, jogo de loterias, bingos, etc. São características psíquicas que constroem o ego de cada um de nós, brasileiros. A maioria aceita essas características de mão beijada. Uma minoria recebe-a em seu interior, mas tem a capacidade de separá-las uma a uma e rejeitar o que não concorda. Simplesmente porque tem tendências morais elevadas e acredita em si próprio. E isto é uma tremenda força. Lembra-me muito aquele personagem infantil da televisão: o He Man. Ele costumava gritar: “eu tenho a força”. É isto que a maioria dos brasileiros precisam “a força” interior capaz da modificação do seu espírito alienado. Caso contrário vamos assistir diariamente o massacre de jovens no trânsito, o assassinato de pessoas alienadas das verdades sociais que, só passam a acreditar na existência dessas verdades depois que é atingido pelo destino e depois choram Inês já morta. A televisão está repleta de lágrimas de mães chorando a morte do filho. Só que a mãe, nem a televisão, conta para nós o que era o filho dela. Nem conta como criou o filho dela. Nem diz das alienações que ela passou para o filho a vida toda. Depois que o filho morre vai dizer que ele era “tão bonzinho!”
Gente! Bonzinho é quem se cuida! Quem luta para entender o mundo! Quem não é alienado! Quem participa das lutas sociais! Quem está de olho na política e se interessa pelo que faz nossos representantes no poder! Quem dá valor à vida de uma forma mais sentimental e sem excluir atividades emocionais. O que é isto? Gente, até o olhar de um felino, ou do seu cachorro dentro de sua casa é comovente. O animal, qualquer um deles, é o exemplo maior de participação. Ele sobrevive porque participa. Não é alienado. Quem é alienado está fragilizado e é por isso que o número de drogados aumenta. As drogas pegam os garotos porque são potencialmente alienados da vida real. Depois não conseguem sair delas porque continuam alienados. Pergunte a um garoto (rapaz) se ele conhece o momento político brasileiro. Ele vai-lhe dizer que isto não é interessante. Não vale a pena. E outras coisas semelhantes. É assim que descobrimos os alienados. Não sabem de nada, nem querem saber!
A armadilha está assim pronta e preparada para a pessoa alienada. Seu futuro é incerto e a qualquer momento cairá na armadilha que ela própria preparou, quando se recusou a viver a vida realmente como ela sempre foi: cheia de verdades. O futuro de quem é alienado é essa armadilha, infelizmente. E o pior: o futuro bom ou ruim do Brasil depende da intensidade dessa alienação nas massas. Quanto mais o povo brasileiro for alienado mais teremos uma péssima nação; e ao contrário quanto maior o interesse da população em conhecer os meandros da política e seus desvios, mais o país melhora. Isto porque se na alienação não se tem a coragem de cobrar dos governantes, no exercício, ou na prática da cidadania, coloca-se os governantes – que são nossos empregados – contra a parede e acabam fazendo o que o povo quer que eles façam, porque neste caso, houve a renúncia do imobilismo que a alienação nos dá. Houve a participação.
Jeovah de Moura Nunes
poeta, escritor e jornalista