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Ensaios-->Massageando a mensagem: Maquiavel revisitado -- 20/10/2005 - 11:58 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MASSAGEANDO A MENSAGEM

Alvin Tofler

Variedades infinitas de burla (e de autoburla) são encontradas nas massas de dados, informações e conhecimentos que passam todo dia pelo setor de trabalho mental do governo. Limites de espaço tornam impossível continuar ilustrando-o e classificando-as aqui. Em vez disso, relacionaremos apenas mais algumas, de forma abriviada.

. A TÁTICA DA OMISSÃO. Por ser a política tão intensamente conflituosa, as mensagens políticas são ainda mais conscientemente seletivas do que a maioria. Caracteristicamente, elas têm buracos onde alguém aplicou a Tática da Omissão e arrancou delas fatos relevantes ou equilibrantes.

. A TÁTICA DA GENERALIDADE. Nesta, detalhes que poderiam levar a uma oposição burocrática ou política são atenuados com uma abstração afetada. Os comunicados diplomáticos estão cheios de exemplos – o que explica o seu freqüente estilo entorpecente.

. A TÁTICA DA ESCOLHA DO MOMENTO. Aqui, o método é retardar o envio da mensagem até que seja tarde demais para o destinatário tomar alguma providência. Volumosos documentos relativos ao orçamento são despejados no colo de legisladores que devem reagir a eles em poucos dias – muito antes de poderem resumi-los e analisá-los de maneira inteligente. Sabe-se que redatores de discursos da Casa Branca entregam seus rascunhos de um discurso presidencial no último momento possível, dando a outros funcionários um tempo mínimo para alterar o texto.

. A TÁTICA DO DRIBLE. Aqui, dados, informações e conhecimento são transmitidos como esmola, em pequeninos itens em horas diferentes, e não reunidos num só documento. Dessa maneira, o padrão dos acontecimentos é fragmentado e tornado menos visível para o destinatário.

. A TÁTICA DA ONDA GIGANTE. Quando alguém reclama que está sendo deixado sem informações, o jogador astuto despacha para ele ou ela tanto papel, que o receptor se afoga e não consegue descobrir os fatos essenciais em todo o palavrório.

. A TÁTICA DO VAPOR. Aqui, é liberada uma quantidade enorme de boatos vaporosos, juntamente com fatos verdadeiros, de modo que os receptores não conseguem distinguir estes daqueles.

. A TÁTICA DE SOPRAR DE VOLTA. Aqui, uma história falsa é colocada no exterior de modo a ser captada e repetida pela imprensa nacional. Essa tática é empregada por órgãos de serviço de informações e propaganda. Mas às vezes o sopro de volta é sem querer – ou parece ser.
Certa vez, a CIA colocou uma reportagem na imprensa italiana sobre a organização terrorista Brigadas Vermelhas. Esse trabalho foi selecionado e incluído em um livro publicado nos Estados Unidos, cujas provas tipográficas foram lidas pelo então secretário Al Haig. Quando Haig comentou a história numa entrevista coletiva, suas observações forma, por sua vez, incluídas na versão final do livro. Esse processo auto-referencial é mais comum do que se imagina.

. A TÁTICA DA GRANDE MENTIRA. Tornada famosa pelo ministro de propaganda de Hitler, Josef Goebbels, ela é baseada na idéia de que se uma mentira for suficientemente grande, será aceita mais depressa como verdade do que qualquer quantidade de simples mentirinhas. Nessa categoria estava o comunicado de 1987 divulgado por Moscou alegando que a epidemia mundial da AIDS fora provocada pela CIA durante experimentos com agentes de guerra biológica em Maryland. Amplamente disseminada pelo mundo inteiro, a história é totalmente repudiada pelos cientistas soviéticos.

. A TÁTICA DA INVERSÃO. Poucos exemplos de alterar, ou massagear, os fatos requerem tanto atrevimento quanto a Tática da Inversão. Esta simplesmente vira uma mensagem pelo avesso. Um exemplo ocorreu não faz muito tempo em Israel, onde não havia nem um pouco de amor entre o primeiro-ministro Yitzhak Shamir e o ministro das Relações Exteriores, Shimon Peres. A certa altura, Shamir instruiu o Ministério das Relações Exteriores no sentido de notificar a suas embaixadas no mundo todo que Peres não tinha autoridade para promover uma conferência internacional visando resolver o problema árabe-israelense.
Os assessores de Peres no ministério receberam a mensagem do primeiro-ministro, mas simplesmente apagaram-na e enviaram telegramas dizendo exatamente o contrário. Quando mais tarde perguntaram a um funcionário graduado como aquilo pudera acontecer, ele respondeu: “Como pode me fazer uma pergunta dessas? Isso é uma guerra”.


LUTADORES INTERNOS E FUNCIONÁRIOS ASTUTOS

Dada essa longa lista de técnicas amplamente usadas para alterar as mensagens que passam pelos gabinetes governamentais, torna-se claro que poucas declarações, mensagens ou “fatos” da vida política ou do governo podem ser aceitos pelo seu valor nominal. Quase nada está isento da influência do poder. A maioria dos dados, informações e conhecimentos circulando no governo está tão alterada politicamente, que mesmo se perguntarmos Cui bono? – de quem é o interesse servido? – e mesmo se acharmos que temos a resposta, ainda assim talvez não possamos atravessar o “rodopio” e chegar à realidade que está por baixo.

E tudo isso ocorre antes que os meios de divulgação reprocessem ainda mais a realidade para encaixá-la em suas próprias exigências. A massagem dos meios de comunicação desnatura ainda mais os “fatos”.

As implicações do que acabamos de ver vão ao ponto crucial das relações entre democracia e conhecimento. Diz-se que um público informado é um pré-requisito para a democracia. Mas o que entendemos por “informado”?

Restringir o segredo por parte do governo e obter o livre acesso a documentos são necessários em qualquer democracia. Mas estes são apenas fracos primeiros passos. Porque para compreender esses documentos precisamos saber como eles foram alterados ao longo do caminho enquanto passavam de mão em mão, nível a nível, e agência a agência nas entranhas burocráticas do governo.

O pleno “conteúdo” de qualquer mensagem não aparece na página ou na tela do computador. De fato, o mais importante conteúdo político do documento pode ser a história de seu processamento.

Em um nível ainda mais profundo, a ubiqüidade dessas infotáticas usadas mais comumente lança dúvida sobre qualquer idéia que ainda perdure, de que governar é uma atividade “racional” ou de que os líderes são capazes de decisões “com bases objetivas”.

Winston Churchill tinha razão quando se recusava a ler análises dos serviços de informações “peneiradas e condensadas”, insistindo em ver os “documentos autênticos (...) em sua forma original”, para que pudesse tirar suas próprias conclusões. Mas é obviamente impossível a qualquer pessoa que tome decisões ler todos os dados brutos, todas as informações, e se envolver com todo o conhecimento necessário à decisão.

O que vimos aqui são apenas uns poucos truques do ramo, explorados por lutadores internos políticos de grande experiência e funcionários astutos nas capitais do mundo, de Seul a Estocolmo ou de Bonn a Pequim. Políticos e burocratas espertos sabem, no íntimo, que dados, informações e conhecimento são armas contra os adversários – carregadas e prontas para ser disparadas – nas lutas pelo poder que constituem a vida política.

O que a maioria deles ainda não sabe, no entanto, é que todas essas manobras e artifícios maquiavélicos devem, agora, ser considerados como brinquedos de criança. Porque a luta pelo poder se altera quando o conhecimento sobre o conhecimento se torna a principal fonte de poder.

Como vemos em seguida, estamos prestes a entrar na era das “metatáticas” nas usinas de trabalho mental que chamamos de governo, deslocando todo o jogo do poder para um nível ainda mais alto.


Nota:

O texto acima foi retirado de “Powershift – as mudanças do poder”, de Alvin Tofler, Editora Record, 4ª Edição, Rio de Janeiro, 1990 – pg. 296 a 299 (Tradução de Luiz Carlos do Nascimento Silva). Alvin Tofler é também autor de “O Choque do Futuro”, seu trabalho mais famoso, também editado pela Record.





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