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Ensaios-->AS INJUSTIÇAS DO PODER -- 11/02/2006 - 08:56 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS INJUSTIÇAS DO PODER

Fernando Zocca

A fina flor provinciana, para manter-se nos cargos eletivos cria barreiras sociais incríveis contra os que consideram adversos.
A escol usa rotulações pejorativas contra aqueles que não lhes são favoráveis. Os tais poderosos de araque, por meio dos correligionários, imiscuídos nas seitas, difamam espalhando mentiras contra quem não gostam.
O poder é assim. Os mandões de araque usam e abusam da potência exercida de modo difuso, não necessariamente explícito, pelo conjunto das relações sociais sobre os indivíduos, e lhes impõe determinações reguladoras de seus modos de ser, comportamentos, interesses, e ideologias.
Os poderosos ocupantes dos tais cargos eletivos não se cansam de oprimir e explorar os desafortunados, tornando-os motivo de assombro, piadas e caçoadas.
O poder ostenta força e pratica injustiça contra o pobre que ainda tem de se desculpar. Os injustiçosos não se cansam jamais das humilhações que praticam. Eles, os injustos, devem seu status social ao grau de perversidade que os formam. Nos caminhos trilhados por essa gente poderosa, em direção à acumulação da riqueza, jazem os corpos das suas vítimas. A impunidade gera a ascensão do injusto e a disseminação da injustiça.



CORTADORES DE CANA MORREM NOS CANAVIAIS BRASILEIROS



José Mário Alves Gomes, de 45 anos, foi mais um dos que morreram a serviço dos senhores de engenho no Brasil. O cortador faleceu no dia 21 de outubro de 2005 num dos canaviais da Usina Santa Helena, do Grupo Cosan de Piracicaba.
José Mário faz parte de um grupo de 13 pessoas mortas em circunstâncias semelhantes. A ONU (Organização das Nações Unidas) suspeita que os trabalhadores morreram em conseqüência do excesso de trabalho. Duas missões de observadores da entidade estiveram na região dos canaviais paulistas.
Antônio Ribeiro Lopes, de 55 anos faleceu no dia 23 de novembro à noite, depois de sentir-se mal, na lavoura de cana da usina Moreno, situada no município de Luís Antônio, perto de Ribeirão Preto.
As precárias condições de trabalho, oferecidas pelos latifundiários, provocaram a paralisação dos trabalhadores da Usina Bonfim, no dia 24 de novembro. 250 migrantes, trazidos de outros estados brasileiros, bloquearam a estrada de acesso aos alojamentos, impedindo a saída dos ônibus. Eles pleiteavam o imediato acerto de contas e a volta para casa.
O cortador Sidnei Oliveira protestou dizendo: 'Do jeito que somos tratados, isso não vai parar.' O corpo de Antônio Ribeiro Lopes foi velado em Guariba. Dezenas de companheiros deixaram o trabalho para ir ao sepultamento.
No atestado de óbito a constatação: a morte de Antônio Ribeiro foi causada por edema e hemorragia pulmonar. Ele sofria do mal de chagas.
Antônio Ribeiro Lopes era natural de Berilo (MG) e morava em Luís Antônio havia mais de 15 anos. Ele cortava cana quando sentiu-se mal, pediu para descansar e, ao voltar caiu morto na plantação.
Em julho faleceu, numa situação semelhante, o cortador Valdecy de Paula Lima de 34 anos. Ele veio com a família do Maranhão para trabalhar no corte da cana da usina Moreno.
Todas as mortes estão sendo investigadas por 13 órgãos públicos e entidades civis. No dia 25 de novembro, o procurador federal do trabalho da 15a. Região Aparício Quirino Salomão pediu a exumação do cadáver de José Mário Alves Gomes, de 45 anos, morto no dia 21 num canavial da Usina Santa Helena. O corpo do trabalhador foi enterrado em Araçuaí (MG).
Os cortadores de cana ficam alojados até oito meses no meio dos canaviais. Eles não recebem alimentação adequada e há casos em que a assistência médica é cortada.
O presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Guaíba Wilson Rodrigues da Silva visitou o local onde ocorreram os óbitos, para mediar as negociações entre a empresa e os cortadores. Segundo ele a usina Bonfim pertencia a empresa Corona e foi adquirida há um mês pelo Grupo Cosan.
O Grupo Cosan esclareceu que não é proprietário da usina Bonfim, mas que parte de suas ações foi adquirida por um dos seus acionistas.
O representante da usina Waldemar Boccaro Júnior negou a existência de más condições de trabalho e alimentação. Ele disse que a higiene dos alojamentos é de responsabilidade dos trabalhadores. Segundo Waldemar, a atuação dos 'gatos' na intermediação entre os trabalhadores e as usinas, agrava as condições dos migrantes.


OS MORTOS DA PRAÇA


O desabamento do edifício Luis de Queiroz, em Piracicaba, no dia 6 de novembro de 1964, completou 41 anos. Morreram mais de 45 pessoas; toneladas de escombros demoraram anos para serem retirados do centro do desastre.
O plano da obra tinha, dentre seus mentores, os usineiros Raul Cury e mais 99 acionistas. Nos cálculos estruturais trabalharam engenheiros jovens e recém formados. O arquiteto João Chaddad, na época estava com 30 anos e, depois das mortes perdeu uns 4 ou cinco projetos prediais.
A estrutura foi concebida para suportar o peso de 12 andares, 54 apartamentos e uma caixa d água que serviria à população do empreendimento; cada laje da construção pesava 20 toneladas.
Durante o curso dos trabalhos, a direção do empreendimento, sob nova inspiração, resolveu acrescer mais 3 andares à estrutura. Com 15 pavimentos, a altura da construção passou para 40 metros. No térreo do edifício havia um cinema recém inaugurado. Era o cine Plaza, e possuía a capacidade para acomodar 1.300 pessoas.
No dia da ocorrência às 13:30, o cinema estava vazio. O filme, que seria assistido por muita gente, na sessão da noite chamava-se 'A vida íntima de Christine Killer'.
O ruído e a poeira produzidos pelo desabamento, foram percebidos a quilômetros de distância. O edifício Luiz de Queiroz ocupava a maior área construída no interior do Brasil: eram 22 mil metros quadrados. Em 30 segundos tudo veio abaixo.
O conselho coordenador das entidades civis de Piracicaba, criou uma comissão especial para compensar as vítimas. A entidade arrecadou 13 milhões de cruzeiros, entre dinheiro e alimentos. Aviões da Força Aérea Brasileira chegavam à cidade trazendo medicamentos e sangue.
Famílias inteiras morreram. O comerciante Francisco Candeias Coroa perdeu a mulher, 3 filhas e a sogra. Houve muita repercussão da imprensa do mundo todo. O papa Paulo VI enviou benções especiais.
O governador do Estado de S. Paulo Adhemar de Barros Filho desembarcou no aeroporto Pedro Morganti no dia 9 de novembro de 1964, segunda-feira e não foi recebido pelo prefeito Luciano Guidotti.
No dia 10 de novembro O Diário de Piracicaba publicava o discurso do governador, levado ao ar no dia 9, pela Rádio PRD 6, hoje Rádio Difusora. Ele dizia: 'Nós não vamos discutir o episódio lamentável. Não vamos lamentar as mortes. Vamos chorar e rezar por elas, além de providenciar, de tal maneira que o restante desse prédio não constitua uma ameaça para a população. Já determinei ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para examinar o restante do prédio. Nenhum de nós poderá dizer que foi ultrapassado o gabarito; se foi excesso de peso ou se foi material de segunda classe. Tudo isso quem vai dizer é o IPT. O que for necessário será feito.'
Os engenheiros responsáveis pelos cálculos estruturais e obra decidiram pela interdição do local. As lajes pendentes, seguras por vergalhões de aço, ofereciam risco e amedrontavam. Ninguém sabia como retira-las. Um helicóptero da FAB sobrevoou os escombros para tentar cortar os ferros. Mas o perigo da operação impediu que um funcionário, sustado por uma corda, executasse o plano.
O esqueleto da obra assassina foi posto abaixo no dia 8 de novembro de 1971, exatos 7 anos depois do morticínio.
Hoje o arquiteto João Chaddad faz parte do governo do Sr. Barjas Negri, (PSDB) e com um projeto seu, a prefeitura modificou a praça José Bonifácio, onde ocorreu a matança coletiva.
No dia 23 de novembro de 2003 o usineiro Raul Cury, na época presidente da Companhia de Melhoramentos Urbanos - Comurba - responsável pela construção do Edifício Luiz de Queiroz, em entrevista ao Jornal de Piracicaba disse que o assunto lhe trazia muitos dissabores e que o erro de cálculo causou a catástrofe. Sobre o que havia restado da tragédia depois de tanto tempo ele respondeu: 'Tristeza, dissabor, desencanto e angústia de pensar o que poderia ter sido se a tragédia não tivesse acontecido.Quando passo lá olho, e a minha visão é a de um prédio bonito, um cinema bonito, as lojas, tudo. A queda do Comurba foi a grande mágoa da minha vida. Foi um traumatismo enorme, violento demais. Falar todo mundo falou. Todos viraram engenheiros e técnicos, mas na hora de fazer, ninguém faz.... Agora, quero ter um pouco de paz. Gostaria de esquecer e ser esquecido.'





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