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Ensaios-->O Brasil vai ao espaço. Nosso dinheiro também... -- 04/04/2006 - 10:49 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dois excelentes artigos sobre a 'aventura espacial' brasileira.

http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=4744

Policarpo espacial

por Fábio de Andrade em 04 de abril de 2006

Resumo: Nosso cambaleante presidente vai aloprar-nos dia e noite com a fantástica viagem espacial. Vai dizer que foi ele que planejou, calculou, inventou, apertou os parafusos...

© 2006 MidiaSemMascara.org


Nesses dias siderais que entramos em órbita (ou saímos dela?) pudemos conhecer o 'peru' mais caro da história brasileira.

Explico: Na aviação há uma figura quase folclórica chamada peru. É o famoso carona, aquele sujeito que fica catimbando ao redor dos pilotos para descolar um vôo, uma carona ou mesmo um passeio.

O peru não atrapalha mas no geral também não ajuda. Ocupa espaço. A caridade dos pilotos e proprietários de aeronaves é o combustível da peruzada.

Mas no espaço a coisa fica mais séria. Se fosse um peru particular, endinheirado, como o Dr. Greg Olsen, tudo bem. Esse distinto gringo gastou 20 milhões de doletas para se avarandar por uma semana na Estação Espacial. Cada um dá o que tem, e dá o que é seu. Aliás, uma bela ajuda ao programa espacial russo que vive à cata de dinheiro para manter suas moderníssimas astronaves indo e vindo. É uma espécie de lotação ou perueiro. Quando falha o busão, manda a van.

Mas vamos tentar entender a gênese da nossa corrida espacial e eleitoral.

De um lado temos o nosso astronauta, militar como todo patriota e patriota como todo militar. Lutou boa parte de sua vida para se ufanar acima da estratosfera, plantando feijões no algodão. Mas como sempre rola uma treta, lá pelas tantas o tal 'busão espacial' se estabacou. E nosso herói já estava com a passagem na mão e mala nas costas.

Deve ter sido um sufoco daqueles!

Anos de exaustivos treinamentos para nada? Mais espera? Frustração?

De outro lado temos um presidente com delírios totalitários, do mesmo partido que, num passado recente, afundou o próprio programa espacial brazuca, dispensando a ajuda americana em nome de uma tal 'soberania'. E esse presidente está numa enrascada infernal e precisa de um cabo eleitoral intergalático.

Prato feito. Sopa no mel. Dez milhões de dólares e mais algumas concessões ao russos de nossa Base em Alcântara foi o preço da mais arrojada propaganda política da história brasileira. Podem contar que no futuro alguém vai sair queimado dessa história... e o astronauta certamente vai sair candidato.

Nosso cambaleante presidente vai aloprar-nos dia e noite com a fantástica viagem espacial. Vai dizer que foi ele que planejou, calculou, inventou, apertou os parafusos... que um dia, num delírio noturno, viu a bandeira brasileira reluzente no espaço infinito. Ele é o cocheiro com delírios de estadista que encontramos no início de 'Os Bruzundangas'.

E nosso astronauta, de espírito elevado, compondo canções, agitando a camisa da seleção, é a mais perfeita reedição do Policarpo Quaresma.

Somos as histórias encarnadas de Lima Barreto. E esse escritor já sabia de uma coisa que poucos brasileiros atinaram: nada, absolutamente nada nesse País é sério. Não ajudamos na Construção da Estação Espacial, não desenvolvemos tecnologia de ponta, não criamos experimentos válidos para justificar uma viagem espacial, enfim, o Brasil de modo geral despreza o conhecimento.

E se alguns corajosos e valentes resolvem nadar contra a corrente e fazer ciência de verdade arrumam uma encrenca daquelas. Terão que lutar contra a burocracia universitária, o MST, as esquerdas, os intelecas estatais, enfim, lutar contra tudo e contra todos e correr o risco de morrer na praia.

O brasileiro nasce e já pequenino aprende a lição freire-gramsciana que está na boca de todos os educadores: Você é um coitado, um oprimido, um explorado, uma vítima do sistema e coisa e tal. Matemática e português, necas. Burro, ignorante e semi-analfabeto, cresce o brazuca cheio de ódio, um ódio intangível e inominável, um eterno mal-estar. Se entra para o círculo dos diplomados, lá pelas tantas se convence que não há realidade, que tudo depende do observador, que a junk science de Capra, Gotswami e congêneres é a quintessência da sabedoria.

Resultado: um semi-analfabeto, cheio de ódio e crente em seus poderes demiúrgicos. Alguém assim, além de desprezar o valor do conhecimento sequer o reconhece. E como todo convencido, acaba por odiar aquilo que não compreende.

Não espero um triste fim para nosso astronauta. Torço para que ele decole e pouse em segurança. Que seja feliz. Mas a lente de aumento do despeito e da empolação brasileira vai transformar esse acontecimento chinfrim numa retumbante odisséia. Podia ser sério. Podia ser científico, podia ser proveitoso e valer cada centavo. Podia...

Mas para variar, é só mais uma brincadeira.

***

http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=4742

1º de Abril

por Janer Cristaldo em 04 de abril de 2006

Resumo: Quando assistir às imagens do coronel Pontes em gravidade zero, sinta também os dólares decolando de seu bolso rumo ao espaço sideral para financiar este turismo que só serve para inflar a vaidade fátua de um país.

© 2006 MidiaSemMascara.org


Há turistas e turistas. Eu, que já residi bom tempo na Europa, não resisto a turismos ocasionais. Turismo é bom. As preocupações de um turista são o terrível dilema de em qual restaurante comer, qual ópera assistir, qual museu visitar e assim por diante. Ao voltar, volta com uma visão idílica do país visitado. Já o residente tem outros problemas, tipo encontrar apartamento para alugar, pagar taxas inerentes à residência, renovar visto de residente na polícia, enfim, uma série de pequenos aborrecimentos dos quais o turista está isento. A visão do residente sobre o país em que reside é sempre menos deslumbrada que a do turista do país em que visita. Residir tem seus desconfortos.

Morei na Europa e também fiz muito turismo por lá. Em geral, conciliando passeio com trabalho. Nos últimos anos, tenho me dado ao luxo de passear sem trabalhar. Já fui pago por Estados e instituições, sempre estrangeiras, insisto em salientar, pois do Brasil jamais recebi um vintém. Se já viajei como jornalista, bolsista ou convidado de colóquios ou festivais, hoje pago minhas viagens com meus dinheiros. Quando fui à Rússia em 2001, a agência de turismo com a qual negociava ofereceu-me vôos espaciais. Nada de estações orbitais, bem entendido, mas eu poderia dar-me ao luxo de “pilotar” MIGs (23, 25 ou 29, à minha escolha) ou de experimentar as sensações de gravidade zero, por vinte minutos, tudo isso por módicos 15 ou 20 mil dólares. Decolando de Baikonur. Com sua indústria espacial estagnada, a ex-todo poderosa Rússia resolveu reciclar em turismo sua sucata tecnológica.

Declinei da oferta. Quinze ou 20 mil dólares me parecem muita grana para meia hora de lazer. Não pensa o mesmo o governo brasileiro, ao pagar dez milhões de dólares para mandar um garoto-propaganda ao espaço. O coronel Marcos César Pontes, nova estrela de uma mídia deslumbrada com futilidades, ficará oito dias em órbita. Ou seja, 1,25 milhão de dólares por dia de hospedagem. Confesso que jamais me ocorreu reservar hotel tão caro. Primeiro, porque não teria como pagar nem mesmo um dia. Se convidado fosse pelo rico e generoso Estado brasileiro, sentir-me-ia constrangido ao contemplar, em órbita, o traçado das favelas que o rico e generoso Estado brasileiro não consegue coibir e nem mesmo controlar. A título de comparação, uma noite no Burj Al Arab, no Dubai, talvez o hotel mais sofisticado do mundo, está custando a bagatela de 1.325 dólares. O Brasil está pagando, aproximadamente, mais de 7.500 noites num Burj Al Arab ao coronel Pontes.

Há quem tenha vaidade suficiente para tanto. Dois milionários, o americano Dennis Tito e o sul-africano Mark Shuttleworth, desembolsaram 20 milhões de dólares cada um à Agência Espacial Russa para passar uma semana em órbita. Com duas ou três diferenças. Pagaram de seu próprio bolso, sem onerar seus Estados. Não serviram de garotos-propaganda para presidentes com ambições de reeleição. Nem voltaram como heróis. Apenas como milionários extravagantes, cuja fortuna lhes permitia tais luxos.

A velha Rússia comunista revelou-se exímia na busca de dinheiro privado para suas aventuras espaciais. Em 2000, da mesma Baikonur de onde decolou o coronel Pontes, subiu ao espaço uma Soyuz com propaganda de uma rede de pizzarias e usou seus cosmonautas – russo não é astronauta, é cosmonauta – para divulgar máquinas fotográficas. Mas tampouco recusa dinheiro público, preferentemente se não sair do falido Estado russo. O Brasil, esta esplêndida e próspera nação governada pelo PT, teve um desconto de camarada para camarada.


Foguete russo: brasileiro no espaço.


O tour – que poderia muito bem se chamar Cosmos Maravilhoso – ficou pela metade do preço, mas a Rússia levou um troco de não se jogar fora, a utilização da base de Alcântara para lançamentos espaciais. Cientistas que trabalham na incipiente indústria espacial brasileira estão estrilando, e com razão. Os dez milhões de dólares que seriam muito oportunos à pesquisa, estão sendo volatilizados para que o novo “herói” da pátria amada faça um aceno eleitoral ao Supremo Apedeuta da nação. Ora, direis, se o governo paga, que mal tem? Ocorre que governo não paga nada. Quem paga é o contribuinte.

Pontes voltará às terras de Pindorama como astronauta e herói. Não é nenhum dos dois. Ser astronauta é profissão, não turismo financiado por contribuintes. Astronauta é quem fica seis meses em órbita, com todos os riscos de vida e saúde inerentes à prolongada exposição à gravidade zero. O turista tupiniquim curtirá as emoções da viagem. Voltará com uma visão idílica do espaço. Dos desconfortos do residir, nem pensar.

Herói muito menos, ou teríamos de conferir o título a todo turista. (A imprensa brasileira tem fome de heróis. Até uma cadela, a Catita, já foi entronizada como heroína). A melhor definição para nosso subsidiado passageiro vem da ficção científica. Está mais para alien. Pegou carona numa nave de outra civilização, invadiu uma estação orbital sem ter porquê e logo será ejetado para não atrapalhar a vida a bordo.

Assim, leitor, quando assistir às imagens do coronel Pontes em gravidade zero, sinta também os dólares decolando de seu bolso rumo ao espaço sideral para financiar este turismo estúpido, que só serve para inflar a vaidade fátua de um país que não consegue mandar ao espaço e trazer de volta viva nem mesmo uma pulga. Mas astronauta nós já temos.

Quiseram os deuses do Acaso que nosso privilegiado turista espacial entrasse na estação orbital em uma data emblemática: 1° de abril. Dia dos bobos, espécimes que proliferam cada vez mais aceleradamente no Brasil. Nas últimas eleições, já eram 53 milhões.


COMO LER JORNAIS

Meu último ensaio já está nas boas bancas da WEB:

http://www.ebooksbrasil.org/nacionais/index.html

Se o leitor quiser um formato que dispensa soft leitor, clique direto em:

http://www.ebooksbrasil.org/nacionais/ebooklibris.html

O livro é uma reorganização de textos críticos (crônicas e ensaios), que analisam os bastidores e entrelinhas da imprensa nacional e internacional nos últimos vinte anos, como também fatos do mundo das Letras. Assim, para quem acompanha minha atividade jornalística, esta coletânea poderá ter um ar de déjà-vu. Para quem não acompanhou, uma oportunidade de entender como fazem os jornais para enganar o leitor.




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