Uma visita a um Poupatempo mostra uma parte de S. Paulo que é comum esquecer. Ao menos aqueles que lêem jornais, acessam a Internet e, bem ou mal, imaginam que são de classe média.
São desempregados, amalucados com olhar esgazeado e falando sozinhos. São mendigos que moram na rua e arranjam um bom lugar para passar a maior parte do tempo. São desempregados e aposentados fazendo bico de ocupantes de fila. São empregados que a necessidade de um documento transforma em desocupados ansiosos temporários.
Quando estou aqui, lembro sempre do verso de Eliot: as ondas lambendo os ossos dos afogados. O mar como uma máquina, tão natural e inevitável como a grande máquina da burocracia. E tão inútil quanto ela.
Sim, sei que o mar tem muita utilidade. E a burocracia também. Mas seria possível haver um mar com mais aparência de utilidade. E uma burocracia também...
Quando estou aqui no Poupatempo, aproveito para colocar em dia todos meus pensamentos.
Pelo menos aqueles depressivos, ansiosos, pessimistas...