Na discussão sobre o que o Papa disse ou não disse sobre o Islã, o texto não tem nenhuma importância e Bento XVI está ali por nada. A realidade está em outro lugar, na grande rede da internet e nas televisões árabes a serviço de uma constelação mundial de líderes fundamentalistas. Eles têm a capacidade instantânea de mobilizar tropas de manifestantes e combatentes, de fanatizá-los e pagá-los, não importa sob qual pretexto. O sistema foi colocado em funcionamento pelas caricaturas dinamarquesas e se aperfeiçoa agora contra o papa. Amanhã, uma outra figura terá a mesma função.
Esta grande caixa islâmica é igualmente movida pelas mídias ocidentais, que amplificam o som, acentuam a imagem e jogam a fim de nos intimidar.
Mas quem são as vítimas imediatas dessa máquina de fúria? Cristão foram atacados na Caxemira e na Somália. Mas os islâmicos não querem conquistar o Ocidente. Primeiro, eles querem assumir o controle dos povos muçulmanos e reestabelecer o califado, mas em seus países, não nos nossos. O grande número de vítimas no Líbano, Caxemira, Paquistão, Irã, são outros muçulmanos. O inimigo absoluto para os muçulmanos fundamentalistas é, evidentemente, o muçulmano moderado, o muçulmano normal.
Enquanto eu defendia o Islã moderado, esclarecido (dediquei a ele um livro, Les Enfants de Rifaa , Os filhos de Rifaa, em 2003), o filósofo liberal Jean-François Revel me reprovava freqüentemente: 'Se estes teus muçulmanos moderados existem, eles que se manifestem'.
É verdade, nós os escutamos e os vemos muito pouco. Mas eles vivem sob o medo, estão dispersos e não dispõem dos meios financeiros ou midiáticos dos fundamentalistas. E nós? Temos o desejo de escutá-los? A mídia ocidental lhes dá a palavra? Ontem à noite, no canal norte-americano CBS, escutei uma integrante desses muçulmanos moderados que defendia o papa e pregava o diálogo entre as religiões. Muito bom. Mas esta jovem, muito elegante, vive na Califórnia, tinha um penteado de roqueira e se declarava feminista e muçulmana. Esta criatura hollywoodiana representava o Islã de maneira tão caricatural quanto os imãs briguentos de Srinagar: nenhum diálogo é possível entre esses extremos.
Tomada como refém, a maior parte dos muçulmanos está silenciosa: apenas a democracia lhes daria uma voz. Porta estreita demais, eu sei, mas ainda assim, uma porta.