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Ensaios-->Uma poema épico para o Acre na lírica de Allan Rich. -- 15/01/2007 - 05:42 (ALZENIR M. A. RABELO MENDES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um poema épico para o Acre na lírica de Alan Rich.

Reflexo d´Alma, de Alan Rick Miranda, poeta, cronista e jornalista, natural do Estado Acre, cenário referendado nas páginas iniciais de sua coletânea de poemas predominantemente líricos, cuja essência se faz presente nas notas musicais, na sugestão imagética e nas indagações que emanam de uma sensibilidade criadora. Nessa obra, Alan Rick reserva uma página especial para um poema de tom épico que tem por espaço e tema a história das origens do acreano - do desbravamento à conquista - motivo gerador do poema Revolução - uma história de heróis, que faz a abertura da antologia de poesias líricas. Os elementos da poesia lírica se fazem presentes na leitura inicial do poema Revolução, ainda que a métrica e o conteúdo pautado no passado histórico sejam próprios à poesia épica.
A ausência da rigidez formal, da estrutura fixa proposta pelos clássicos, para os quais, a poesia épica deveria ser constituída pela proposição, invocação, oferecimento, narração e epílogo, fazem com que o poema ocupe uma posição especial no livro. Anteposto aos demais, Revolução... é uma homenagem “ao Acre e à sua gente”. Esse épico moderno é também um Clássico no sentido conferido pela estética romântica, de onde a influência é percebida no tratamento dado ao conteúdo, que tematiza a bravura do “retirante” e do migrante despatriado que se fez acreano pela conquista de uma “terra de ninguém”.
Reflexo d´Alma ou Atos do coração, assim poderia também ser intitulada a mais recente obra do autor de O efêmero e o Eterno, uma coletânia de poemas, crônicas e artigos, publicada em 1999, na qual o jovem escritor, em trânsito para a fase adulta, já exercitava a Arte Literária como quem “executa uma partitura única”, porém com “toques”, com “timbres” que desvelam os “Os atos do coração...” (Arrependimento - 1999). Em Reflexo d´Alma, o Eu-lírico, na condição de um analista, constrói teses e sínteses sobre o amor, em concepções e graus diferenciados, conforme a maturidade que se processa no seu íntimo durante o percurso natural vida.
No início da obra, a transição adolescência/maturidade flui na verbalização da efervescência dos impulsos juvenis. No poema de número I, o poeta define o amor, ora como “... fogo-fátuo... vertigem da paixão...”, ora como “...crua insanidade... / ...desejo patológico e egoísta” (Patologia da paixão – 1999). Essa concepção negativa sobre o amor transmuta-se no decorrer do tempo e da obra em “Sublimação... tradução do pelejar d’alma sofrida...”. A menção ao sofrimento, aqui, não é nem de longe, uma forma de fazer do ato de poetar um canto de lamento das agruras da vida. O sofrimento, para o eu-lírico “é degrau da sapiência” (Lúmen d’astro – 2003).
No conjunto dos textos escritos depois da fase da primeira obra, O efêmero e o eterno, o autor de Reflexo d´Álma permite ao leitor depreender que os ímpetos da paixão encontram-se disciplinados no “Eu” que se revela mais espiritualizado, havendo já percorrido metade de sua trajetória criativa. No poema de número X, o poeta analisa essa trajetória e constrói nova tese sobre o amor: “O tempo é de Deus emissário / O amor torna-se abençoado...”. O sentimento é reavaliado. A paixão, antes concebida como “desejo patológico e egoísta”, agora é justificada : “Paixão com amor não é pecado” (Fruit de la passion – 2003).
No entanto há na poesia da fase considerada como a do início da maturidade uma “nota” de dissabor no poeta apaixonado, crente que era no amor. A reflexão e o julgamento que faz sobre o homem que se “perde em devaneios e encantamentos” denota um certo desencanto, mesmo com a atenuante afirmação de que o homem apaixonado “não é nada / E é tudo e tanto ao mesmo tempo” (O homem apaixonado-2000).
O tom dessa nota percorre os demais poemas nos quais o tema central é a mulher que, desnudada do véu da idealização romântica, exala sensualidade, mas figura como a causadora do processo de crescimento interior do poeta. Processo, esse, que se dá pelo prazer e pela dor. Nos “poemas para mulheres”, o “timbre” muda, mas a “partitura” e o “sopro” são únicos. A nota melancólica permanece, mesmo quando o poeta evoca a musa de Poema à estrela única (In: O efêmero e o eterno), no Poema à amiga ausente (2004):
Tu que outrora eras presente
A quem me reportava com freqüência,
Da tua amizade agora sou descrente
Não há desculpa para tua ausência.

Assim, o “Eu-lírico que sonda e analisa os sentimentos de outros tantos outros “eus”, de Alma Triste ou Solitário, deixa-se sondar deixa nos versos impressos em Reflexo da Alma, especialmente, nos poemas que tematiza e “homenageia” a mulher como em: Descerebrada, Poema à mulher infantil e Poema à amiga ausente (2004). Nestes, desvela e revela a própria alma, e a de cada leitor sensível que, ali, no espaço da criação mimética pode também assumir a postura de co-autor.
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