O Presidente da República disse que o povo não sabe o que é dossiê, para insinuar, na sua lógica deformada, que, por isso, é irrelevante se sua ministra serviu-se de um deles para chantagear integrantes da oposição que pesquisavam irregularidades nos gastos com os cartões ditos corporativos do governo, inclusive, os seus próprios e os de seus familiares.
É verdade, a parcela alienada que o apóia não sabe o que é dossiê, mas esqueceu-se o presidente de que essas mesmas pessoas também não sabem o que são terras indígenas nem o que é Raposa-Serra do Sol.
Mas a parte esclarecida da sociedade brasileira, a que tem o poder de reverter as políticas suicidas desse governo deletério, sabe-o muito bem e, finalmente, deu mostra de que está disposta a defender, até as últimas conseqüências, os interesses nacionais ameaçados por governantes esquecidos dos seus deveres constitucionais.
Por outro lado, a insistência irracional com que o presidente e uma minguada meia dúzia de auxiliares, todos diretamente comprometidos com o processo questionado, colocam-se contra a vontade da Nação – manifestada por meio da quase unanimidade dos formadores de opinião, dos intelectuais, dos militares, dos meios de comunicação, e, até mesmos, dos ministros do Supremo Tribunal Federal – sugere que as vastas terras fronteiriças que pretendem destinar a uns poucos índios já foram, secretamente, alienadas, Deus saberá em troca de quê.
Chegada a hora de cumprir o trato e colocar à disposição dos interessados o produto do esbulho do nosso sagrado território, eis que a Nação desperta, e toda a presumível negociata fica ameaçada.
Somente isso explicaria o desespero do governo que, inicialmente, tentou calar o General Heleno, ameaçando-o com punição, mas a covardia de sempre levou ao vergonhoso retrocesso, com a divulgação de que o presidente tinha aceitado as explicações do General – explicações que ninguém viu, mesmo porque, nunca houve.
Não é preciso procurar muito para encontrarmos várias manifestações do que acabamos de dizer.
– O presidente tentou coagir, explicitamente, os ministros do Supremo Tribunal Federal, mandando que índios, manipulados por ONG, a serviço da causa espúria, pressionassem os integrantes da nossa mais alta corte.
– Seguindo esse exemplo, o ministro da Justiça partiu para a truculência e, tudo indica, “montou o circo”, induzindo alguns índios a invadirem as terras dos rizicultores. Com a arbitrariedade e o maniqueísmo que lhe são peculiares, mandou a sua “Gestapo” prender as vítimas, enquanto confraternizava com os criminosos, que diziam não respeitar a decisão do STF e que expulsariam os arrozeiros, fosse qual fosse a deliberação daquela corte. Em vez de reprimir os índios baderneiros, o ministro demonstrou o pouco respeito que tem pela Justiça, garantindo-lhes que a demarcação das terras continuaria como estava. Talvez pretendesse, com a arrogância, mostrar aos ministros do Supremo que as conseqüências seriam menos graves se preferissem aceitar as imposições do governo a ouvir a Nação. Também não deu certo. E o ministro, simplesmente, saiu de cena.
– O presidente e seus auxiliares ensaiaram, então, uma mudança radical em suas posições. Se, antes, diminuíram a importância do alerta do General Heleno – que traduziu o pensamento dos militares e de todos os brasileiros lúcidos – e afirmaram que não havia risco para a soberania nacional na Amazônia, passaram a gritar, aos quatro ventos, que “a Amazônia brasileira tem dono”, em resposta a matéria do New York Times, que, normalmente, seria, por eles, ignorada. E quem a ela se referisse, seria logo acusado de paranóico.
– O governo promoveu, ainda, um ridículo reajuste nos soldos, atrasado, pelo menos, dois anos, na vã esperança de que isso calasse os militares. A esta altura, já devem ter percebido que estes não se deixam subornar como aqueles com os quais costumam conviver.
– Diante da gravidade da situação, que se apresentava sem saída para o governo, o líder do MST, João Pedro Stédile, em uma entrevista contraditória no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, expressou o desejo de trabalhar junto com as Forças Armadas, chegando, mesmo, a pedir, para tanto, o apoio do General Heleno.
– Um dos primeiros indícios dessa mudança drástica da postura governamental, deu-nos o senador Romero Jucá, líder do governo no Senado, que vem trabalhando para conseguir, no STF, uma demarcação que respeite as áreas de interesse econômico do Estado de Roraima, contrariando o discurso do ministro da Justiça. Infelizmente, trata-se, apenas, de mais uma tentativa de salvar o projeto original, fazendo pequenas concessões para preservar, as absurdas extensões das terras indígenas.
– Já, ultimamente, pessoas ligadas ao governo, ou por estas contratadas, passaram a desfraldar a bandeira da soberania, palavra que não conhecem ou cujo significado sempre procuraram esvaziar.
– O Fantástico de ontem, 1º de junho, trouxe uma grande reportagem de 23 minutos, em que a ABIN – que nestes últimos tempos somente se tem preocupado com o sigilo dos gastos do presidente, de seus parentes e de seus ministros, resolveu divulgar o relatório da investigação que fizera sobre a compra de grandes extensões de terra na Amazônia, por certo empresário estrangeiro (relatório que provavelmente jamais viria a público, se o governo não quisesse vender a falsa imagem de defensor dos interesses nacionais). A matéria procurou mostrar que a iniciativa era do governo, que, supostamente, estaria preocupado com aquilo que, até a semana passada, negava com todo o empenho. Revelando grande criatividade, a produção do programa conseguiu, nele, dedicar dois minutos e trinta segundos ao presidente, que se mostrou caricato, como sempre, desta vez, brincando com um carrinho de plástico, enquanto se deslumbrava diante das câmaras. Deve-se destacar que a apresentação se deu de forma contínua, sem comerciais, sugerindo tratar-se de matéria paga.
É impressionante a capacidade que o presidente tem de “entregar os dedos para não perder os anéis”, sempre que não lhe restam outras opções.
Parece claro que o objetivo desesperado de tudo isso é mostrar aos ministros do STF que não há com que se preocupar, que o poder executivo está atento na defesa da nossa integridade territorial e da nossa soberania, que é mais “seguro” ficar com o governo e, que podem, portanto, decidir com tranqüilidade, pela demarcação contínua das terras indígenas.
Resta-nos esperar que o STF não se submeta a tais pressões e se abstenha de qualquer solução salomônica, pois estas são geralmente as piores possíveis, já que não preservam o essencial: a vida da criança.
Demarcar pequenas ilhas de Estado dentro de enormes terras indígenas, longe de resolver o problema, criará, ou melhor, preservará uma situação que, mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente, se resolverá pela violência.
Para o bem do Brasil, a demarcação das terras indígenas deverá ser declarada inconstitucional, pondo-se fim à trajetória de inconstitucionalidades do governo federal.
Se reservas indígenas forem indispensáveis, que sejam constituídas por pequenas ilhas dentro do Estado, e bem distantes das nossas fronteiras.
Se uns poucos índios aculturados, instigados por interesses alienígenas, estão dispostos a atentar contra a soberania e a integridade territorial nacionais, nós, os brasileiros, estamos decididos a defendê-las, contra tudo e contra todos, com o sacrifício da própria vida, se preciso for.