Outro dia, conversando com um amigo, ele me disse estar desapontado com a atitude da maioria das pessoas que não reconhecem o esforço imenso que fazemos para ajudá-los e, além disso, nos crucificam quando deixamos de fazê-lo.
Respondi-lhe que acho interessante a similitude das palavras doer e doar. E acredito sinceramente nessa premissa:
DOAMOS PARA QUE NÃO DOA!
Na doação, mais das vezes, procuramos alívio para a dor da não aceitação pelo outro. Procuramos fazer com que sejamos amados; indispensavelmente amados. O que aceita a doação, procura o mesmo, mas de maneira inversa: aceita a doação para sentir-se amado. Daí a frustração quando deixamos de doar. Não nos acostumamos a “pagar” pelo amor escassamente recebido enquanto o outro se acostuma a receber sem retribuir.
Por isso somos execrados quando mudamos de atitude e imaginamos que bom mesmo é o que não deu nada, pois também nada lhe será cobrado. Não é por que estamos errados, mas é assim por que a fonte deles secou e isso dá raiva, frustra tanto quanto o ato de dar sem nada receber em troca.
Para aquele que recebe tudo é pouco, sugam-nos até a raiz dos ossos, mantêm-nos na corda bamba do iminente desamor, e por medo de machucarmos e sairmos machucados nós cedemos. Cedemos até não darmos mais conta... E então começa o calvário das lamentações. Nossas e dos outros.
Qual seria a medida exata da doação? Acredito que seria aquela em que ambas as partes sejam beneficiadas de igual maneira. É preciso dizer claramente que se trata de uma doação, tornar o recebedor cônscio do que está recebendo e mostrar que em seu devido tempo estaremos aguardando um retorno quer em sentimentos, quer em atitudes. Dessa forma quem doa, sabe que o outro está comprometido com a sua consciência, sabedor que é de que está recebendo ajuda valiosa e NECESSÁRIA.
Por que enfatizo necessária? Porque muitas vezes pensamos estar ajudando no silêncio e de maneira altruísta quando o outro não está nos pedindo nem precisando daquele tipo de ajuda. Quando achamos que está na nossa hora de receber a retribuição o outro nem sabe o porquê da nossa cobrança...
É... É estranho o comportamento humano. Tantas vezes transgredimos com a nossa Verdade, com a real intenção do que fazemos, e o fazemos de maneira tão escondida nos critérios de “superioridade de sentimentos”, que acabamos por cobrar essa nobreza que nem foi percebida por quem a recebeu.
As Escrituras Sagradas, muito sabiamente, nos exortam a concordar com uma das suas máximas: “E conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. Sim... Muito embora as regras sociais e religiosas nos digam que devemos fazer o bem indiscriminadamente, a Bíblia nos ensina a andar na Verdade. Isto inclui falar com sinceridade que estamos ajudando sim e que estamos esperando retorno na hora própria...
Se essa for a sua verdade, meu caro leitor, não faça cerimônia. Fale alto e bom som. O que dói não é deixar de ser abastecido da bondade alheia, é nem sermos avisados que estamos recebendo algo de tamanha importância para o “doa-dor”
Por isso dói. Em ambas as partes. Doar sem motivo e receber sem ser necessário.