Na alta madrugada, sobre mim, estrelas cadentes – caíam.
Em vão tentava alcançá-las, mas as minhas mãos, trementes, nada conseguiam. Meras quimeras, pois a cada passo o horizonte se perdia, envolto em minhas nostalgias, sentia-me só naquela fria praia – Praia do Sonho – sítio das lamentações.
Do mar vinham os murmulhos, arrulhos, que nas virações confundiam-se com os meus soluços confusos na orla a ecoar.
Sabia que não me escutaria. Mesmo assim, balbuciei o teu nome como se rezasse ave-marias.
Mas para o meu espanto, o eco só respondeu:
– Falenas... falenas... falenas...
Combalido, joguei-me na areia, enquanto o mar se espraiava pelo meu corpo, lavando a minha alma cansada, crucificada no lenho da ilusão.
Nas ânsias daquela perdida paixão, novamente gritei o teu nome.
Porém, o eco apenas respondeu:
– Poemas... poemas... poemas...
Levantei-me e comecei a seguir uma estrela caindo, lá para os lados do costão.
Desolado, procurei-a nas pedras, onde o mar se quebrava, formando espumas, rendas brancas a espargir o meu rosto – em desgosto pela separação!
Apenas caridosas estrelas-do-mar consolaram as minhas penas.
Sentei-me nas pedras, tentando voltar ao passado. Mas, nada! Os grilhões do sofrimento estavam presentes e me prendiam àquela triste madrugada.
Desolado, num último arroubo clamei o teu nome, pedindo para o mar te trazer nas ondas do preamar.
Apreensivo, aguardei o eco responder.
Mas, desta vez, somente o vento em seu farfalhar respondeu:
– Dilemas... dilemas... dilemas...
Traços de claridade rasgavam as entranhas da noite, quando voltei para o Baixio.
Atravessei a ponte com os primeiros raios de sol acariciando o meu rosto. Mas os meus desejos eram por outros carinhos. Neste momento, senti as tuas mãos levando as minhas para os arminhos dos teus seios!
Entrei pelo portão de treliça, a porta da varanda escancarada e as janelas fechadas mostravam – desolação.
Recolhi as minhas tralhas, pus minh’alma na mala e fui para a estação.
Embarquei na maria-fumaça que, sacolejando, levava todas as inspirações.
Por caprichos do destino, subi a serra, escutando os longos apitos chorando, despedindo-se de alguém. E, para maior sofrimento, paramos naquelas plagas – lugares dos meus amores, serras dos resplendores, em cujas matas te amei!
Paranapiacaba molhada, envolta por névoas, apitos e fumaças, recebeu-me bem disposta, abrindo as suas portas, seu carinho para mim!
Numa ladeira bem conhecida, subi, relembrando os momentos que, juntos em divertimentos, íamos, com pincéis e tintas, tingir as telas inda virgens, – virgem como tu.
No caminho, o bar do amigo, seu Manuel, com seus vinhos, esperava-me, comovido, ao ver-me triste e tão só.
Apenas serviu-me um copo, que bebi gole a gole, removendo da memória, teu vulto, teu hálito e teu ser.
Lá fiquei na mortalha, branca de névoa engasgada, nas montanhas e em mim, escutando, nos apitos, lamentos dos deuses aflitos, declamando em poemas, teu nome entre as falenas:
Helena... Helena... Helena...
Roberto Stavale
Paranapiacaba, dezembro de 1971
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