Quando alguém quer me contar um segredo, peço imediatamente que não me conte. Agradeço a confiança por querer me confidenciar, mas sinto que eles me fazem desonesto com as demais pessoas de meu relacionamento.
Penso primeiramente que guardar segredos é responsabilidade desnecessária, atribuições que não preciso assumir.
Quase sempre, os segredos nascem de fatos que comprometem, ou que não me dizem respeito, fazendo de mim um ouvinte escravo do silêncio.
Ainda que a curiosidade seja gerador do verbo aguçar, prefiro combatê-la, pois geralmente os segredos, quando não respeitados, são iniciadores de “fofocas”, muitas vezes comprometedoras e com efeitos indesejados.
Raras são as pessoas que desejam contar seus próprios segredos ou abrir o cofre de seu coração; normalmente elas querem, na verdade, contar segredos dos outros, quebrando assim à confiança daqueles que os confidenciou.
Entretanto não posso fazer disso uma regra, pois existem momentos que tenho a necessidade de ouvir confidências as quais me dizem respeito.
Melhor explicando: Se minha esposa tem alguma particularidade para compartilhar, eu preciso ouvi-la com o compromisso de não levar adiante.
Se meu filho recebeu um convite para um emprego, mas não está assegurado a sua contratação, não existe motivo para que torne o assunto público.
Quando um parente está com uma doença grave e eu tomei conhecimento, tenho a obrigação de me manter calado, respeitando tal confidência.
Esses casos eu não considero segredos, mas particularidades da convivência familiar que não precisam ser comentadas.
Os segredos dos quais me refiro são aqueles que começam assim:
- Vou te contar uma coisa, mas, por favor...
- Você sabe que fulano..., mas que isso fique entre nós!
- A fulana vai pedir demissão amanhã..., mas isso ainda é segredo!
Por que devo então ouvir esses comentários? Esses são os segredos indesejáveis, que só podem nos trazer desconfortos e gerar conflitos.
Quantos de nós já não ouvimos:
Você já sabe que o fulano vai se separar de fulana, eu já sei quem falou...
Somente ele sabia disso!
E aí o que era segredo, todos do seu ciclo de amizades já estavam sabendo.
Alguém do grupo quebrou o silêncio e construiu uma verdadeira fofoca.
Por esse e outros motivos, preciso ser franco e honesto comigo e com os outros.
Na roda de amigos eu brinco, se isso é segredo não me contem, pois meu apelido é “Bocão”!