Conclusão nº I. O processo de aquisição da linguagem
A aquisição da linguagem tem início com a formação de sinapses, nervos motores e sensoriais periféricos; são eles que viabilizam a circulação de sinais de todas as partes do corpo para o cérebro. A corrente sanguínea transporta sinais químicos, como hormônios, neurotransmissores e neuromoduladores. Há estados do corpo e estados da mente, que se caracterizam por uma constante modificação, segundo padrões da evolução natural.
Corpo e cérebro interagem intensamente entre si e formam um organismo que, por sua vez, interage com o ambiente. Essa interação entre o organismo e o ambiente se dá pela movimentação e pelos aparelhos sensoriais do organismo.
O ambiente estimula o organismo de diversos modos: via nervos dos olhos, pelos ouvidos e pelas milhares de terminações nervosas na pele, nas papilas gustativas e na mucosa nasal. As terminações nervosas enviam sinais para pontos de entrada circunscritos no cérebro, os chamados córtices sensoriais iniciais da visão, da audição, das sensações somáticas, do paladar e do olfato.
Vencidos os estados do corpo e da mente, o organismo fica em condições de enunciar fonemas, assimilar palavras e formar imagens, perceber cores e movimentos, a partir da interação com o ambiente, evoluindo com o tempo, a ponto de expressar-se: ele formula frases, períodos e discursos.
Quanto mais cedo o organismo se aproxime de outros contextos, onde possa interagir com o ambiente e assimilar outras gamas de sinais, ele o fará com naturalidade, como no caso da aprendizagem de outros idiomas.
Com a ajuda da internet, abriram-se portas para o 'papagaio velho' aprender a falar, através de softwares especialmente voltados para cursos de idiomas, dicionários e programações especiais.
Conclusão nº 2. A importância do ato de falar
Tive um mestre que, antes de falar, enfatizava que mestre é aquele que aprende, pedia misericórdia (queria ser recebido por todos, sem qualquer julgamento, qualquer acusação, qualquer condenação, face ao que ia apresentar) e compaixão (que cada um se colocasse no lugar dele com o mesmo sentimento, geralmente, de alegria por estar ali).
Não sou mestre, mas pratico o movimento da desaprendizagem, a fim de beber de qualquer pocinha de conhecimento novo, e peço o mesmo que o mestre citado.
Via Google, há inúmeros sites que tratam da importância dos atos de ler e ouvir, mas do ato de falar não encontrei nenhum especificamente. E, nessa busca, encontrei vários sites que tratam da Teoria dos atos de fala. Foi quando passei a navegar entre eles e a verificar se tinham liga com a presente avaliação.
John Langshaw Austin (1911-1960) e John Searle e outros, depois de muitas reflexões, concluiram que os enunciados são todos de realização (performance) explícita, ou seja, são performativos explícitos, mas deixaram impregnados em nosso vernáculo (coisas ainda não aceitas pelo AE, somente pelo H) os 'preconceitos' ilocução, ilocutório, ilocucionário, ilocucional, alocutário, locutivo, alocutivo e delocutivo.
De meu juízo, mesmo, dou importância ao ato da fala quando:
1. Antes do primeiro manuscrito, que teria sido a Teogonia, de Hesíodo, poeta e aedo grego do século VIII, o conhecimento era passado de geração para geração, através de cerimônias previamente anunciadas, com poemas cantados pelos aedos, os que dominavam as palavras, sob inspiração das musas. Dentre estas despontavam-se Calíope, a Belavoz, Clío, musa da história, e Polímnia, musa da retórica.
'E quando Zeus expulsou do céu os Titãs,
Terra prodigiosa pariu com ótimas armas Tifeu
amada por Tártaro graças a áurea Afrodite.
Ele tem braços dispostos a ações violentas
e infatigáveis pés de Deus poderoso. Dos ombros
cem cabeças de serpente, de víbora terrível,
expeliam línguas trevosas. Dos olhos
sob cílios nas cabeças divinas faiscava fogo
e das cabeças todas fogo queimava no olhar.
Vozes havia em todas as terríveis cabeças
a lançar vário som nefasto: ora falavam
como para Deuses entender, ora como
touro mugindo de indômito furor e possante voz,
ora como leão de ânimo impudente,
ora símil a cadelas, prodígio de ouvir-se,
ora assobiava a ecoar sob altas montanhas.'
(De Hesíodo, em Teogonia - A origem dos deuses).
2. ' Em 14.04.2003, monologuei sobre a fala, não sei por que motivo:
Recito com energia:
O que é a fala,
senão resposta de certo lugar do cérebro,
que recebeu estímulos
do lugar onde você foi criado?
Senão, recomposição de sons
em diferentes ritmos e tons;
senão agasalho, com furos de diferentes calibres,
protegendo as outras partes do cérebro
do silêncio do dia;
se não, denúncia de vida noturna;
se não, o que o vento leva,
o que a água faz,
o espaço que urina e fezes demarcam;
senão, gorjeios, arrulhos, gralhares,
coaxos, cricris, silvos, berros,
mogidos, uivos, cacarejos,
urros, latidos, rosnares, piados,
bramidos, frêmitos, rugidos,
de milhões de espécies
do mesmo habitat, se não,
de outros, que quase somem
quando vai-se a clareza,
quando ouvem trovões
e vêem raios --
se não, molham-se
com a chuva,
dormem em galhos,
em ninhos,
em tocas,
protegendo-se do frio,
da neve,
se não, do calor,
do Homem,
à beira de rios,
se não, de córregos,
de mares,
de velhos sinos,
se não, sob telhados,
em prisões,
espontaneamente,
sem nenhum desejo de transformação,
senão, cuidares, revelares, considerações,
admirações,
pura poesia,
que a Natureza insiste dispor
em cada estação,
a despeito de outros seres, formidáveis,
que vivem, apenas, falando,
apenas, marchando,
matando,
que pouco tentam conversar,
antes de qualquer ação,
e não conseguem isto,
senão sabendo dialogar,
querendo cuidar, revelar, considerar, transformar
para, enfim, poderem se-admirar
e se-libertar, em plena interindependência.
O exemplo do melhor diálogo pode estar na música,
nos eternos silêncios entre os sons,
compostos por admiradores da fala.
Oh, quanto eu gozarei quando souber dialogar... '
3. Deparei-me por acaso com uns versos, sob o título de Palavra Verdadeira, que já estavam “prontos” de há muito, inseridos entre as páginas de um livro, R. M. Rilke, Poemas, traduzido por José Paulo Paes, da Companhia das Letras. E, deste mesmo livro, se não me falha a retrógrada, eu havia anotado: “Poesia metafísica, no sentido dado por T. S. Eliot, sobre Chapman = apreensão direta e sensível do pensamento, ou recriação do pensamento em sensação”.
Reli o que estava escrito sob Palavra Verdadeira, onde estava “Quero sentir a palavra”, e lembrei-me dos meus seis amigos, para começar a recriar. Sentir o quê? Através de qual órgão? Sentir como? Onde? Quando? E, por mais recente, por quê? E pensei: em verdade, não posso sentir a palavra, mas os sons pronunciados por um aparelho fonador, ou reproduzidos pela minha memória, bem distintos uns dos outros, os fonemas, e o significado do conjunto deles, que pode estar num só termo ou numa sentença.
Isto é o que quero sentir? E o que são estes fonemas? Quero ouví-los, ou usar da minha visão? Fosse cego, poderia ser pelo tato, além da audição, se não fosse também surdo, reconhecendo-os pelos seus peculiares contornos, se relevados. Pelo nariz, nem cego sentiria nada de uma palavra, ainda que a tinta fosse fresca, ou o hálito úmido da sua fonte baforasse as suas narinas. Neste caso, o nariz sentiria a umidade dos perdigotos e a sinestesia entraria em ação, por causa de algum odor detectado pelo tato.
Pelo paladar, também, não poderia sentir nenhum fonema, nem o cego. Palavras — ainda que se refiram a doces feitos com frutas naturais, misturadas ao açúcar cristal, ou os adoçantes artificiais, a qualquer pudim feito com gostos-da-vida, goiabada... a deliciosos salgadinhos, suculentas macarronadas, pizzas, lasanhas, croquetes, feijoadas, a qualquer prato baiano, ou estrangeiro ou, ainda, a qualquer azedume — não são sápidas.
Palavras, neste enfoque, seriam apenas veículos que transportam instantes, cheios de riqueza ou de pobreza. Elas enriquecem interiormente o Ser, quando viabilizam a criação do possível útil e os discernimentos entre o poder querer ou não querer, o poder fazer ou não fazer, entre o poder sentir ou não sentir, entre o dever fazer e o não fazer.
Elas empobrecem o ser quando este envereda, mal utilizando-as, pelo mundo do impossível e do inútil; o ser é levado à servidão dos sentidos, ou a escravidão involuntária, e o impedem de escolher entre o poder querer ou não querer, poder sentir ou não sentir, entre o dever fazer ou não fazer.
Ou seja, o Ser reduz-se ao não poder não querer, não poder não fazer, não poder não entender... e outros 'não poder não'. Uma obediência de ordem senatorial...
Querendo já resumir, você pode dizer que as palavras seriam veículos de liberdade e de independência, as maiores riquezas do Ser, ou de servidão e impotência, as maiores e mais predominantes pobrezas do Ser.
4. Assimilei as máximas do 'sensus communis' e as regras da dialogia, do Dr. Ely Bonini Garcia, e associei-as às noções de precisão da linguagem, delineadas por Anthony Robbins, em seu livro “Poder sem limites”, de Anthony Robbins- Ed. Best Seller-2ª Ed.-pg. 207 a 218): a fusão desses conhecimentos são de enorme valor para a comunicação, seja na família, no lazer, ou no trabalho, levam as pessoas a posturas de promessa, acordo e compromisso, em bases de harmonia social raramente praticadas.
Conclusão nº3. A definição de língua e linguagem
Vide avaliação nº 1. (Não deveria ser 'As definições...'?)
Conclusão nº 4. A importância do ato comunicativo
Empolguei-me com a leitura dos sites a respeito da comunicabilidade, do ato comunicativo, das categorias do ato comunicativo, do funcionalismo (http://www.redesdecriacao.org.br/?verbete=74, http://www.labiutil.inf.ufsc.br/hiperdocumento/unidade2_3_1_1.html, http://www.radames.manosso.nom.br/retorica/comunicabilidade.htm,
http://www.letramagna.com/Abordagens.pdf), sobre estruturas... todos nos remetendo ao sensus communis, 'ao figo e à folha de figo, ao coração e à lingua', às regras da dialogia e à precisão da linguagem.
Porém, o site que diz mais respeito ao nosso contexto é o http://meusestudosdedireito.blogspot.com/2009/05/linguagem-juridica-ato-comunicativo.html, que trata do ato comunicativo jurídico, que salienta as direções onomasiológicas e semasiológicas para as quais estão voltados o emissor e o receptor, respectivamente, para a interação durante o processo comunicativo, a fim de efetuar-se o ato comunicativo jurídico. Cada qual com seu roteiro, o primeiro busca a expressão do seu pensamento, enquanto que o segundo, detentor da expressão, busca o pensamento; significados e significantes permeiam ambas as ativades.
Conclusão nº 5. Influência da linguística no processo de aprendizagem.
Linguística Geral, Fonética, Fonologia, Morfologia, Sintaxe, Semântica, Pragmática, Análise do Discurso, Linguística Aplicada, Sociolinguística, Psicolinguística, Dialetologia, Neurolinguística, Linguística Computacional, Lexicologia, Lexicografia e Terapia da Fala, todas estas divisões da linguística podem contribuir para o processo de aprendizagem, durante o Curso Fundamental, da Língua Portuguesa.
Conclusão nº 6. Como é ensinada a língua e a norma culta atualmente nas salas de aula.
Como são ensinadas, pelo que ouvi a Norma dizer, geram até comoção, pois alguns mestres não primam pelo ensino delas, tanto como deveriam. As crianças já não se alimentam como deveriam, detestam vegetais porque ouviram repetidas vezes o 'não gosto' dos pais. Certamente, ouviram algum 'detesto' quando falavam de Gramática, de Língua Culta, com maiúsculas; as crianças aprendem tudo a que têm acesso, ao que podem imitar. Mais tarde, se não tiveram acesso ao aprendizado saudável, às fábulas, às lendas, ao útil, ao salutar, podem buscar outros alimentos, outras químicas; isso, por não terem desfrutado de meio onde o aprendizado da linguagem não tenha sido escudado em processos comunicativos de valor.
Todas as conclusões anteriores a esta levam-nos a concluir que o cuidado com o processo comunicativo, com a língua falada e com a norma culta são de fundamental importância para a formação do cidadão e da sociedade de amanhã.