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Ensaios-->UM DIA PESADO -- 30/03/2010 - 20:28 (Nicole Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM DIA PESADO


Eu chamaria o dia de hoje de dia pesado se eu pudesse dizer isso sobre os dias... Talvez eu possa. Talvez eu vá...

Não foi um dia triste, nem difícil... foi apenas pesado. Pesado porque eu passei boa parte dele fora de casa. Estive em muitos lugares fazendo muitas coisas...coisas bem diferentes, em lugares diferentes, com pessoas diferentes.

Fui ao mercado, à padaria, à universidade, e ao hospital, e minha mente estava espalhada por todos esses lugares: quando eu estava mercado, eu pensava na padaria, quando estava na padaria, eu pensava na universidade e quando eu estava no hospital eu pensava que eu estava com fome, cansada, com sono e que o médico estava atrasado...

Comecei a escrever no meu pequeno caderno que sempre carrego comigo, enquanto minha prima esperava pacientemente para ter a barriga de sete meses fuçada pela milésima vez...

Vento, janela, cortina, sussurro... as palavras primeiro se acumulavam em minha cabeça, depois no papel, mas eu estava cansada demais para colocá-las em versos, ou em frases que fizessem sentido, então apenas continuei escrevendo e empilhando cada uma delas, uma após a outra, até chegar a hora de virar a página.

Ele – o médico – começou a falar e falar e falar, e havia tantas perguntas e tantas dúvidas...: “Quando o bebê nasce?”, “Como?”, “Onde?”, “Ela está bem?”, “E a mãe?”, “E aquela dor que sentiu ontem?”, “E se a dor voltar o que é que a gente faz?”, “Ela vai ficar bem?”, “Tem certeza?”... Obrigada.

Daí eu vi aquela árvore... Foi tão rápido... tão rápido... Foi rápido porque o carro vermelho em que eu estava corria muito rápido. Acho que todo mundo estava cansado, e até o motorista – talvez principalmente o motorista – quisesse chegar em casa logo.

Olhei pra trás para ver a árvore uma vez mais através do vidro fumê da janela do carro, e, apesar disso, de já estar longe, ela era linda, linda: as flores eram da cor lilás e pareciam estar em todos os lugares... como estrelas no céu escuro... tão pequenas... mas grandes o suficiente para serem vistas no céu escuro.

Eu estava adorando comer a deliciosa macarronada que a Cida – a cozinheira – fez até que alguém achou que seria uma boa idéia deixar a minha cadela mais nova, Lilás – sim o nome dela é Lilás –, solta na sala de estar.

A minha Lilás é tão linda quanto as flores da árvore que eu tinha visto no carro vermelho, mas, infelizmente, não é tão quieta. Ela está sempre pronta para pular, correr e brincar. Ela é só um bebê. E os bebês estão sempre prontos para brincar, como o bebê que brinca na barriga da minha prima. E eu sou só uma garota que estava pronta para comer a macarronada que estava no prato, que estava no meu colo, e isso ela não entende, assim como não entende que eu estava adorando a idéia de que eu adoraria passar o resto do meu dia quietinha, como a árvore e não brincando como o bebê.

Meu irmão deve tê-la impedido um segundo antes de ela ter tido a chance de me ver sentada no chão, em frente ao sofá marrom, com um prato de macarronada, e um minuto depois de eu ter tido um Déjà vu de trás pra frente, porque eu não precisei parar de comer. Apenas a ouvi latindo, depois ouvi passos a minha volta, mas pareciam ruídos vindos de uma outra dimensão porque ela não se aproximou o suficiente para atrapalhar aquele momento e eu não tirei os olhos da janela, ainda na esperança absurda de voltar a ver aquela árvore...

De repente eu estou em frente ao computador checando esse meu blog, e aquele meu outro blog, as notícias, e a minha caixa postal.

A caixa postal... as mensagens... lidas, não lidas, lixo. Uma dela é sua; enviada a três dias atrás. Uma que ainda não respondi. Eu gostaria de ter respondido, mas andei correndo tanto... correndo como minha cadela na sala de estar. Não estou correndo agora, mas está tão tarde e estou tão cansada... Mesmo assim quero dizer “oi”, mas “oi”, por alguma razão, não parece o bastante, então deixe-me falar sobre o meu dia...

Eu tive um dia pesado. Não tenho certeza se posso dizer isso sobre os dias... Talvez eu possa. Então eu direi. Eu tive um dia pesado. Pensando nisso agora – agora que estou prestes a ir para a cama e a deixar esse dia acabar – vejo que um dia pesado é só um dia cheio de coisas a serem feitas, vistas e sentidas... Vejo que um dia pesado nada mais é do que um bom dia para se viver.


P.S: Que bom me despedir desse dia escrevendo para você.

Nicole Rodrigues
© 2007 Biblioteca Nacional. Todos os Direitos Reservados.
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