Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media
Jorge Pedro Sousa
2ª edição revista e ampliada
CAP.6
Pensamento comunicacional
o pensamento comunicacional se estruturou muito antes do século XX
Evidente nas obras de alguns &
64257;lósofos e políticos britânicos do século XVII.
Por exemplo, John Milton, em 1644, fez, perante o Parlamento Britânico, aquele que se considera ser o primeiro grande discurso moderno pela liberdade de imprensa, denominado Aeropagitica
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Thomas Hobbes defendeu a liberdade individual e, em consequência, a liberdade de expressão, no livro Leviathan (1651).
John Locke, na obra Ensaio Sobre o Governo Civil, de 1690, teoriza, igualmente, sobre o papel da imprensa livre numa sociedade democrática e liberal.
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Também nas obras de alguns pensadores germânicos, ligados à Universidade de Leipzig, percebe-se, no século XVII, preocupações com a imprensa emergente.
Christian Weise, por exemplo, publicou, em 1685, a primeira re&
64258;exão sobre os jornais baseada numa análise de conteúdo.
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Ahasver Fritsch assumiu um pensamento crítico e negativo para com a imprensa, na obra Discursus de Novellarum Quas Vocant Neue Zeitung Hodierno Usu et Abusu, publicada em 1676.
Christophorus Besoldus, em 1629, procurou caracterizar o conceito de 'periódico noticioso', numa obra intitulada Thesaurus Practicus.
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Porém, o principal expoente do grupo de pensadores alemães que se debruçaram sobre a imprensa no século XVII foi Tobias Peucer, o autor da primeira tese doutoral sobre jornalismo, apresentada, em 1690, na Universidade de Leipzig.
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A sua tese não apenas passa em revista algumas das posições dominantes sobre o papel da imprensa, como também relembra as pontes entre a história e o jornalismo e o historiador e o jornalista, abrindo, ainda, pistas para o entendimento de conceitos centrais da teoria do jornalismo contemporânea, como o conceito de noticiabilidade e a in&
64258;uência da história sobre as notícias.
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Apesar de tudo, a investigação sistemática sobre os meios de comunicação social ocorre já no século XX, no período subsequente à Primeira Guerra Mundial
Con&
64258;ito em que governos dos estados beligerantes tiveram uma atitude censória e propagandística
A re&
64258;exão sobre essa situação e sobre as cumplicidades entre a imprensa e o poder terá impulsionado, então, os primeiros estudos sistemáticos sobre a comunicação social.
Pensamento comunicacional
As primeiras grandes correntes do pensamento comunicacional contemporâneo foram desenhadas a partir da Europa e se estruturaram entre o &
64257;nal do século XIX e o princípio do século XX
Filósofos como Karl Marx, sociólogos como Tarde, Durkheim ou Max Weber e politólogos como Tocqueville deram contribuição relevante para o desenho do pensamento comunicacional contemporâneo.
Pensamento comunicacional
Karl Marx
Expôs os conceitos em que se baseia a crítica marxista da comunicação - classes sociais, dominação de classe, ideologia, dialéctica.
Para ele, nas sociedades capitalistas a imprensa dominante está ao serviço da classe dominante, a burguesia, sendo um dos meios de dominação ideológica da burguesia sobre o proletariado.
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Karl Marx
A imprensa é, assim, um meio de veiculação ideológica que, se pode ser usada pela burguesia, também pode ser usada pelo proletariado na luta ideológica por uma sociedade sem classes (comunista).
No entanto, há que dizer que, para Marx, as ideias (superestrutura) não conseguem modi&
64257;car, por si só, as relações sociais determinadas pelas ligações econômicas (infraestrutura).
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Marx não fez qualquer análise sistemática do papel da imprensa
essas noções impuseram à crítica marxista da comunicação uma amarra ideológica de que ela ainda não se conseguiu libertar (ou não quer libertar-se).
Essa amarra ideológica consiste na ideia de que os meios de comunicação fazem sistematicamente o jogo das forças dominantes
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Amarras ideológicas tem sido combatidas em vários estudos, que salientam, entre outras conclusões, o grau de autonomia dos jornalistas, as diferenças ideológicas entre pro&
64257;ssionais e mesmo entre os proprietários dos MCM e ainda o fato de os MCM não se agruparem num monólito ideológico, pelo contrário
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Émile Durkheim
Propôs o método funcionalista, do qual se desenhou o modelo funcionalista de análise dos efeitos da comunicação.
sustenta que os fenômenos sociais devem ser estudados como objetos ('coisas'), contemplando as formas de pensar, agir e sentir que são exteriores à consciência de cada indivíduo e se impõem a ela.
A explicação de um fato social tem sempre de ser procurada num fato social antecedente.
Pensamento comunicacional
Émile Durkheim
O estudo dos fatos sociais, deve ser feito em função das necessidades do organismo social em que esses fatos se inserem
Ou seja, antes de se procurarem explicações para os efeitos dos fenômenos sociais, é preciso compreender as respectivas causas e funções
Pensamento comunicacional
Émile Durkheim
Acentua que a comunicação contribui para a integração social
A língua materna, por exemplo, é aprendida de infância e obriga os falantes a um consenso lógico que enforma as suas formas de pensar, de agir e de ser
Induz, também, uma espécie de consciência coletiva, em consonância com as instâncias onde o uso da língua se faz e regula (escola, a religião, o mundo do trabalho, a imprensa, etc.).
Pensamento comunicacional
Max Webber
Contra as correntes que acreditavam na possibilidade de redução da realidade a conceitos abrangentes e claros, como o hegelianismo e o marxismo, Max Weber explica que as formas de ação social são irredutíveis a outra coisa que não elas mesmas, pois são dependentes do signi&
64257;cado que os indivíduos lhes dão
Pensamento comunicacional
Max Webber
A causalidade, nas ciências sociais, não pode ser entendida como uma mera sucessão de acontecimentos, pois tem de lhe ser adicionada a compreensão, que consiste na interpretação do signi&
64257;cado que os homens dão às suas ações
O indivíduo, nesse sentido, é a unidade básica de toda a relação social. As relações sociais estruturam-se, pela interação de indivíduos isolados, o que, naturalmente, engloba a comunicação
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Max Webber
As ações sociais dos indivíduos são intencionais, pois fazem sentido para quem as produz, estruturando-se em quatro tipos:
1 - Ação racional de &
64257;nalidade
Os indivíduos adaptam os meios aos &
64257;ns, calculando as consequências previsíveis
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Max Webber
2 - Ação racional de valor
Enraizada nas crenças, leva os indivíduos a agir por convicção, independentemente das consequências previsíveis da sua ação
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Max Webber
3. Ação afetiva
Quando a ação empreendida é dominada pelos sentimentos
4. Ação tradicional
Quando a ação social obedece aos hábitos, rotinas e costumes
Pensamento comunicacional
Max Webber
O sociólogo tem de compreender que todas as ações individuais têm um signi&
64257;cado individual, não podendo contentar-se com o estudo das causalidades sociais coletivas.
Sustenta, também, que há três ordens de comportamentos sociais e dominação, em função de uma motivação ancorada no entendimento da legitimidade
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Max Webber
1. Legitimidade legal-racional
crença que a legalidade e a regra comandam a obediência;
2. Legitimidade tradicional
ancora a obediência na referência ao passado e ao hábito;
3. Legitimidade carismática ou emocional
funda a obediência na crença no caráter sagrado ou excepcional de uma determinada pessoa.
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Max Webber
Na sociologia weberiana, distinguem-se, igualmente, várias formas de poder:
poder de classe (remete para o mercado e a possibilidade de adquirir bens);
poder das ordens (remete para as comunidades de indivíduos a&
64257;ns, como ocorre nas ordens pro&
64257;ssionais)
Pensamento comunicacional
Max Webber
poder dos partidos (remete para a institucionalização de uma elite dirigente e para a procura de vantagens materiais para os membros do partido)
o poder religioso, que admite várias tipologias
Pensamento comunicacional
Max Webber
Em 1910, Weber publicou um pequeno texto dedicado à sociologia da imprensa.
Esse texto abre pistas para a pesquisa comunicacional sociológica, debruçando-se sobre a pro&
64257;ssão de jornalista, a estrutura do mercado da informação, a organização das empresas de comunicação, as ligações entre a imprensa e o poder político
Pensamento comunicacional
Max Webber
As relações de complementaridade e substituição entre os meios de comunicação, os efeitos sobre a opinião pública, a modelação dos conteúdos da imprensa motivada pelos desejos da audiência e os efeitos perversos que, segundo os críticos da imprensa da época, o jornal provocava sobre o livro (que redundaria no desaparecimento deste último).
Weber concluiu que nas sociedades democráticas, a imprensa modi&
64257;ca a forma como o homem percebe o mundo, devido ao confronto permanente entre vários pontos de vista.
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Alexis Tocqueville
Principal estudioso da democracia no século XIX.
No livro De la Démocratie en Amérique, 1835-1840, mostra que a democracia é um movimento contínuo de igualização dos direitos sociais e dos salários.
Para ele, a imprensa tem um importante poder na democracia, exercendo três funções
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Alexis Tocqueville
1. Garantir a liberdade, forçando os políticos a comparecer no 'tribunal da opinião';
2. Sustentar e integrar a comunidade, dando-lhe referentes comuns;
3. Tornar possível e rápida uma ação concertada (por intermédio da imprensa, 'os homens falam sem se ver e se entendem sem estarem em contato direto')
Pensamento comunicacional
Para Tocqueville, a democracia pressupõe o fracionamento das ideias (cada um pode ter e defender ideias próprias).
Mas identi&
64257;ca-se, também, uma tendência, por vezes perversa, para o conformismo, o que, em parte, se deve à igualização das condições de vida e à necessidade que os indivíduos denotam de se associarem às opiniões comuns
Pensamento comunicacional
Tocqueville
A imprensa corresponde a esses impulsos, pois favorece determinadas opiniões e leva-as a triunfar mais rapidamente, promovendo a formação de consensos.
Consegue, ainda, incentivar as ações de cidadania, ou seja, as ações comuns de cidadãos preocupados com determinadas questões, que se envolvem na vida política.
Porém, a imprensa também pode ser perversa, ajudando a consolidar tiranias e mau gosto e fomentando a violência.
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Tocqueville
Evidencia, também, que as diferenças registradas entre os conteúdos e formatos dos jornais de diferentes países (em concreto, os americanos e os franceses) se devem a fatores econômicos, culturais e políticos
Pensamento comunicacional
Tocqueville formula, igualmente, uma dimensão ética para a imprensa em democracia.
Em primeiro lugar, considera que a imprensa faz mais bem do que mal;
em segundo lugar, considera que reduzir a imprensa ao silêncio não é solução;
em terceiro lugar, considera que o único modo de diluir os efeitos perversos da imprensa é multiplicar o número de jornais no espaço público
(Tocqueville viveu no século XIX, por isso só fala de jornais).
Pensamento comunicacional
Gabriel Tarde
sociólogo francês do &
64257;nal do século XIX
Pensamento tem sido recuperado para o patrimônio das Ciências da Comunicação, em particular, pela ação de outro dos grandes nomes do pensamento comunicacional – Elihu Katz.
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Tarde
imitação é um fato social, na medida em que a sociedade seria constituída por indivíduos que se imitam uns aos outros, o que explica as ações dos líderes sobre a multidão, a difusão de ideias e a geração de modelos de comportamento
Pensamento comunicacional
Tarde
a forma de que se reveste a imitação é mais importante do que o conteúdo que se pretende comunicar com essa imitação, pelo que o processo, por vezes, estaria cheio de irracionalidades.
Pensamento comunicacional
Tarde
é, ao mesmo tempo, precursor da teoria do &
64258;uxo de comunicação em duas etapas (two step &
64258;ow of communication) e das teorias do agenda-setting e da tematização.
No livro marcante A Opinião e a Multidão, Tarde diz que a imprensa não tem uma in&
64258;uência direta e autoritária sobre as pessoas e a sociedade.
Pelo contrário, o público é ativo.
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Tarde
Os jornais fornecem, apenas, uma espécie de menu de assuntos e perspectivas sobre a realidade, que animam as conversas (em linguagem atual, corresponderia à função de agenda-setting).
Mas essas conversas têm lugar desde tempos inde&
64257;nidos, ou seja, situam-se sempre a montante da ação dos jornais.
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Tarde
Os jornais apenas alimentam a conversação pública que une e integra indivíduos e grupos na sociedade.
Aliás, para Tarde é a conversação que está na origem das opiniões individuais, pois, para o sociólogo, a comunicação face-a-face é a mais poderosa.
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Tarde
As opiniões individuais agrupam-se em opiniões sociais, que conduzem às ações sociais dos grupos organizados, devido à ação agregadora de determinados indivíduos, que, além de liderarem esses processos, medeiam a ação da imprensa
Hoje daríamos o nome de líderes de opinião a esses indivíduos e ao reconhecimento do seu papel na mediação das mensagens mediáticas daríamos o nome de &
64258;uxo de comunicação em duas etapas.
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Tarde
Em suma, as opiniões constróem-se no processo comunicacional alimentado pela imprensa e, por vezes, mediado por 'líderes de opinião'
O poder da imprensa é, para Tarde, o poder de tornar possível a diversi&
64257;cação dos pontos de vista
Pensamento comunicacional
Ferdinand Tönnies
As relações sociais resultam de dois tipos contraditórios de vontade dos homens: a orgânica, que compreende o desejo, o hábito e a memória; e a arbirária, que compreende a conveniência, a re&
64258;exão e o conceito.
Pensamento comunicacional
Ferdinand Tönnies
Dois tipos de organização social resultam dessas duas vontades:
as comunidades, compostas por indivíduos unidos por laços naturais ou espontâneos;
as sociedades, compostas por indivíduos em livre associação mas em competição entre si.
Pensamento comunicacional
Ferdinand Tönnies
É um precursor das escolas de pensamento comunicacional que vêem nas tecnologias da comunicação artefatos capazes de devolver o homem a uma dimensão comunitária, uma vez que permitem aos indivíduos participar ativamente nas dinâmicas dessas comunidades.
FONTE:
www.fag.edu.br/.../TEORIAS%20DA%20COMUNICAÇÃO%20CLAUDEMIR%20A... (EM HTML)
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matéria divulgada, em 14/07/2010, por LAGO NETO - Rio de Janeiro(RJ)
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