Que título interessante, repleto de desejos fantasísticos, onde Sigmund Freud iniciaria a interpretação dos sonhos dos seus pacientes... Pois sonhar é paradoxalmente doentio quando não conseguimos extasiar os nossos sonhos... Sonhar é uma necessidade elementar dos seres humanos, pois os nossos sonhos são uma ponte, ainda que frágil, à realidade das coisas materiais... Se não sonharmos, idealizando os objetos desejáveis, não poderemos povoar as nossas vidas de inclinações existenciais: sonhar é viver subjetivamente num mundo objetivo que nos espera... Sonhar é ter a esperança de que as nossas vidas vão acontecer, na credibilidade proporcional aos nossos atos – onde ideologizamos...
O tamanho dos nossos sonhos é proporcional ao tamanho da nossa intelectualidade, sendo, portanto, uma variedade de nossos sonhos a seguir os estímulos químicos e orgânicos da realidade... Viver fora da realidade pode te parecer lunático; mas o sonhador, sendo um revolucionário, tem no mundo espiritual o alicerce dos seus desejos, criando idéias renovadoras em nossas sociedades em progresso material e espiritual constante... Sonhar já é um instrumento subjetivo de uma fuga da realidade: real este possível de ingentes questionamentos de ser ou não ser uma pretensiosa realidade crível – o risco de novas idéias controversas é contraditório em relação a um possível real, que nós, os intelectuais, supomos existir... Eu sei que sou o que, no momento, já não sou; ainda que exista a Eternidade antes de eu ter começado a sonhar que existo... Sonhar no que sou é afastar-me de mim mesmo, sendo o Outro desejável lacaniano, onde as imprecisões de características são incomensuráveis e, muitas vezes, inalcançáveis...
Estamos sempre sonhando, acordados ou dormindo, numa busca constante de satisfazer as nossas vontades, possivelmente neuroses freudianas, onde o nosso ser, em verdade, está em constante mutação à realidade... Somos alvos dos nossos sonhos à medida que não consigamos plenamente realizá-los; onde o ato de sonhar pode tornar-se infernizantes pesadelos psicológicos... Não tenho como não deduzir que a vida material é um ingente sonho, sempre sobressaindo em nossos corações o êxtase de vivenciar os momentos de felicidade que ela nos oportuniza... Mas se a vida material é um sonho, nós somos apenas sonhos? E a tal da realidade que sempre nos falam, onde está? No mundo material, tudo se transforma ao passar dos segundos; e o que hoje é real já não o é amanhã... E se o real deixa de ser real a todo instante, onde eu posso encaixar os alicerces dos meus sonhos mais íntimos? Eu preciso reciclar constantemente os meus angustiantes sonhos? A anatomia da corrupção, destruidora de todos os nossos sonhos, é uma fogueira toda desumana queimando os nossos desejos insaciáveis...
O êxtase do sonho é sonhar com o real, e o real não é nem um pouco material; ao contrário, os loucos é que estão todos certos: o real é o mundo espiritual... Somos espíritos eternos em processo evolutivo, estagiando nos sonhos da matéria; mas vivendo as etéreas realidades nos universos espirituais do nosso Deus onipotente... O grande êxtase do sonho material é a morte: a morte não existe, pois a vida é do espírito – e o corpo material, uma vestimenta em desuso...