A POESIA DE GIÓIA JÚNIOR
(In memoriam)
Filemon F. Martins
RAFAEL GIÓIA MARTINS JÚNIOR, nascido em 09 de agosto de 1931, em Campinas – São Paulo, poeta que se destacou no cenário do evangelismo brasileiro e na poesia cristã brasileira. Poeta, Jornalista, Radialista, Político e Professor universitário. Foi Presidente do Sindicato dos Profissionais do Rádio e da Associação dos Radialistas do Estado de São Paulo. Foi Vereador em São Paulo e como Deputado Estadual, foi Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, tendo sido também Deputado Federal.
Escreveu, entre outros, os seguintes livros: “CÂNTICO NOVO”, “MENINO POBRE”, “APARECEM AS FLORES NA TERRA”, “ESTÁTUAS DE SAL”, “CANTO MAIOR” e “BEM-ME-QUER.”
Foi membro ilustre da Igreja Batista de Vila Mariana, sob a responsabilidade do Pastor batista Dr. Rubens Lopes, excelente cronista e autor de livros, como “UM POUCO DE SOL”, cuja apresentação foi feita pelo poeta Gióia Júnior. Foi conferencista naquela e em outras Igrejas, além de ter sido, em certa ocasião, Orador Oficial da Convenção Batista Brasileira. Político de honra ilibada. Conciliou a vida pública com religião e poesia ao mesmo tempo. Exerceu os cargos eletivos de Vereador, Deputado Estadual e Federal, que lhe foram conferidos por eleitores das mais diferentes comunidades evangélicas, com dignidade e sabedoria. Nunca se deixou levar pelo fascínio do poder. Pertenceu também à Maçonaria, tendo sido membro da Academia Maçônica de Letras do Brasil.
Foi casado com Dinorá Fernandes Gióia Martins, com quem teve quatro filhos, Rafael, Rosely, Rubens e Rosana. Sete netos: Rafael, Rodrigo, Renata, Nilton, Ana Carolina, Rubens e Thiago.
O Escritor Mário Ribeiro Martins, no livro “ESCRITORES DE GOIÁS”, no capítulo “POETAS DO EVANGELISMO BRASILEIRO” faz referência ao trabalho de Gióia Júnior, afirmando: “A poesia de Gióia Júnior é expressivamente humana, o que se observa em um dos seus versos: Menino pobre do meu bairro, grita,/ para que escutem tua voz tremente,/ amargurada, enfraquecida e aflita./ Pelos irmãos que dantes não gritaram,/ clama nas ruas angustiosamente,/ exige o pão que os homens te roubaram.”
O poeta Cassiano Ricardo, falando sobre Gióia Júnior, afirmou: “Li (o poema JESUS, ALEGRIA DOS HOMENS) e verifiquei estar diante de um poeta que surpreende pela espontaneidade, pelas coisas generosas que diz, pelo “sentimento do mundo” que lhe é peculiar.”
Gióia Júnior trouxe a poesia do coração, uma poesia inspirada, harmônica, jorrando livre como a fonte, falando de fé, de esperança, de amor e de alegria. Mas falando também de sua gênese, de sua luta, como escreveu no soneto antológico “MINHA GÊNESE”: “Trago em meu sangue o germe da peleja.../ Venho da luta em que o gigante velho,/ tendo atacado a tradição da Igreja,/ abraçou a verdade do Evangelho./ Venho da guerra...O Gladiador ousado/não conhece a derrota, sangra, cai,/ mas levanta-se além, revigorado - / - venho da luta ingente de meu Pai./ Queira Deus que essa fibra de gigantes/ seja o cerne da minha fronte ousada,/ seja a força da minha inspiração./ Vede que são iguais nossos semblantes: / Vem chegando meu Pai da derrubada/ e eu vou partindo para a plantação!”
Sobre a poesia do vate Gióia Júnior, Oliveira Ribeiro Neto, afirmou: “Sua poesia brota pura, sentida e humana, ao mesmo tempo castigada e simples, como uma fuga de Bach, no entusiasmo do seu amor a Deus.” No poema “GANGORRA” há uma lição de moral para todos: “ A gangorra é como a vida,/ nos movimentos que tece;/ quando eu desço, você sobe,/ quando eu subo, você desce.../ Você, que ficou no alto,/ não deve de mim sorrir;/ você terá que descer,/ quando eu tiver que subir!”
Gióia Júnior, com seus versos cheios de emoção e mesclados de humanidade, simplicidade e saudade, fez sucesso na Televisão e no Rádio, quando declamava suas poesias, entre as quais, “ORAÇÃO DA MAÇANETA”, “FICA, SENHOR, COMIGO!” e a “GANGORRA.” Sonetista primoroso, emociona com “A CASA BRANCA”: “Entre as lembranças do passado, existe/ a casa branca de portão fechado,/ jardim florido e quarto perfumado:/ sonho doirado de um menino triste!/ Fiz-te o projeto, fiz-te a planta, fiz-te/ desde o alicerce aos cumes do telhado;/ viste o desenho e, para meu agrado,/ num delicado gesto consentiste.../ Garoto inquieto, para seu regalo,/ o próprio tempo em sua ingenuidade,/ vendo o castelo, foi desmoroná-lo.../ A casa branca já não mais existe;/ resta somente o escombro da saudade:/ amargo sonho de um menino triste!”
Gióia Júnior foi saudado por Mário Barreto França e ao lado de Jônatas Braga formou a tríade dos maiores poetas evangélicos do Brasil. Hoje, mais do que nunca vale a pena ler a poesia de Gióia Júnior. Mas, como ler, se todos os seus livros estão esgotados? Bom seria se alguma editora evangélica tornasse a editar sua obra completa, com ampla divulgação.
Do livro “O CÂNTICO NOVO”, página 42, extraímos o soneto FÉ: “Peço e confio plenamente. Venço/pelo poder da fé. Poder bendito/que faz de um pensamento um infinito/e faz de um grão de areia um ser imenso. Peço e confio plenamente. Penso/no poder invencível e inaudito/que no passado, de um valor restrito/fez um gigante de um vigor intenso. ...E nada temo, espero confiante/alimentado, não num sonho errante,/mas na certeza das vitórias ganhas. Peço e confio. Rogo e deposito/meus desejos nas mãos do Deus bendito/e sou capaz de transportar montanhas!”
Faleceu em São Paulo, a 04.04.1996,* com 65 anos. Seu pai, Raphael Gióia Martins, depois de ter sido padre, tornou-se Pastor da Primeira Igreja Batista do Brás, em São Paulo, por muitos anos, ainda na Rua Maria Marcolina, no bairro do Brás.
No Brasil, de memória curta, de políticos interesseiros e mentirosos, faz muita falta o político e intelectual Gióia Júnior, que pôde escrever versos, como estes: “Não negues nunca o pão ao que te bate à porta,/ nem o trates jamais de maneira violenta./Amar é o sumo bem e, se o pão alimenta,/o gesto vivifica e a palavra conforta./Vê no desconhecido a velha folha morta/que, às tontas, voluteia agarrada à tormenta;/ama-o como a ti mesmo. O amor constrói, sustenta,/encoraja, encaminha, ensina, instrui e exorta./Não o faças, porém, visando recompensa:/o interesse amesquinha e desvirtua a crença./Ama pelo prazer que o próprio amor produz./Ao que te pede o pão não o negues jamais,/nem queiras ver, depois, teu nome nos jornais;/faze-o, com humildade, em nome de Jesus!”
Está presente nos livros “ESCRITORES DE GOIÁS” e “MISSIONÁRIOS AMERICANOS e ALGUMAS FIGURAS DO BRASIL EVANGÉLICO”, de Mário Ribeiro Martins. É verbete da ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho e J. Galante, edição do MEC, 1990, com revisão de Graça Coutinho e Rita Moutinho Botelho, edição revista e atualizada, em 2001.
Durante algum tempo, apresentou pela Rádio Bandeirantes, o programa “CHEGA DE PROSA”, com Gióia Júnior, onde falava sobre assuntos variados e declamava seus versos escritos com sensibilidade e emoção. Terminava o programa com a expressão, que o caracterizou: “E CHEGA DE PROSA”...
* = Na biografia de Gióia Júnior há outra data de falecimento: 03/03/1996. Se alguém puder dirimir a dúvida, por favor, queira entrar em contato com o autor.
Esclarecimento: Para escrever este texto, o autor utilizou informações extraídas dos livros “ESCRITORES DE GOIÁS”, “MISSIONÁRIOS AMERICANOS e ALGUMAS FIGURAS DO BRASIL EVANGÉLICO” de Mário Ribeiro Martins, da Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante e dos sites http://reocities.com/paris/theatre/4002/index.htm - organizado pela família do poeta. www.museudatv.com.br/biografias/Gioia. E alguns dados da memória do autor, portanto, possíveis de eventuais equívocos.
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