A doutrina fascista de Gramsci e de outros intelectuais europeus, como os integrantes da Escola de Frankfurt, modificou por completo toda a estrutura cultural do Ocidente nas últimas décadas - para pior.
No Brasil, vivemos, atualmente, em um verdadeiro sistema fascista, em que há a cooptação de todos os setores da sociedade com o Poder Central de Brasília, não havendo nenhum tipo de oposição política ao esquema. É o que eu batizei de "fascismo gay" (veja verbete abaixo), já que todos estão “alegres” em viver em tal sistema - gramscista-fascista em sua estrutura -, recebendo uma bolsa aqui, outra ali, todos satisfeitos em viver numa sociedade em que há apenas direitos, não deveres. Hoje, até empresários se dizem "socialistas", como o capitalista Paulo Skaff, presidente da Fiesp, que se candidatou nas eleições passadas pelo Partido Socialista Brasileiro para o governo de São Paulo, perdendo para Geraldo Alckmin.
Gramsci deve estar muito orgulhoso de seus escritos feitos no cárcere! Afinal, se tinha alguém que entendia verdadeiramente de fascismo, essa pessoa era Antonio Gramsci.
Os verbetes abaixo farão parte do meu livro A LÍNGUA DE PAU - Uma história da intolerância e da desinformação.
Aparelhamento - É a infiltração de um partido ou classe social em todos os órgãos do Estado, com o intuito de controle total a serviço de sua ideologia ou conveniências. O sucessor de FHC criou mais de 20.000 cargos de confiança para a companheirada, dentro da doutrina gramscista de “ocupação de espaços”. Além do aparelhamento do Estado, feito com vagar e vigor desde o início da Nova República, o objetivo é duplo: angariar votos (cada emprego garante, no mínimo, cinco votos para candidatos do partido) e fazer caixa para o PT, já que todo filiado tem obrigação de contribuir com o “dízimo” para a igreja petista, que pode chegar a 20% do salário. O “fascismo gay” do sucessor de FHC ampliou o aparelhamento do partido em antigos institutos, como o IBGE e o IPEA, que primavam pela seriedade e hoje têm a mesma credibilidade de um instituto cubano ou norte-coreano, ou seja, zero. “A mentalidade burocrática - que, de acordo com Brentano, é ‘a única caixa de ressonância da Associação para a Política Social’ - considera construtiva e positiva apenas a ideologia que exija o maior número de repartições públicas e de funcionários. E quem procura reduzir o número de agentes do Estado é tachado de ‘pessimista’ ou de ‘inimigo do Estado’ ” (MISES, 1987: 86). Se não existisse o aparelhamento esquerdista da mídia, o sucessor de FHC teria sofrido impeachment por conta do mensalão.
Cadernos do Cárcere - Antonio Gramsci foi um dos fundadores do Partido Comunista Italiano, em 1921. Cadernos do Cárcere é sua obra-prima, escrita durante sua prisão na Itália, de 1926 a 1935. “Esta publicação, difundida em vários continentes, passou a ser o catecismo das esquerdas, que viram nela uma forma muito mais potente de realizar o velho sonho de implantar o totalitarismo, sem que fosse necessário o derramamento de sangue, como ocorreu na Rússia, na China, em Cuba, no Leste Europeu, na Coreia do Norte, no Camboja e no Vietnã do Norte. (...) Gramsci professava que a implantação do comunismo não deve se dar pela força, como aconteceu na Rússia, mas de forma pacífica e sorrateira, infiltrando, lenta e gradualmente, a ideia revolucionária. (...) A originalidade da tese de Gramsci reside na substituição da noção de ‘ditadura do proletariado’ por ‘hegemonia do proletariado’ e ‘ocupação de espaços’, cuja classe, por sua vez, deveria ser, ao mesmo tempo, dirigente e dominante. Defendia que toda tomada de poder só pode ser feita com alianças e que o trabalho da classe revolucionária deve ser, primeiramente, político e intelectual” (Anatoli Oliynik, in “A Tomada do Poder - Gramsci e a Comunização do Brasil”-http://blog.anatolli.com.br/2009/10/12/gramsci-e-a-comunizacao-do-brasil-2/, acesso em 9/6/2011). “Paradoxal e surpreendentemente, a primeira publicação no Brasil dos Cadernos do Cárcere, do comunista italiano Antonio Gramsci - uma iniciativa de Ênio Silveira e de sua Editora Civilização Brasileira - veio à luz entre 1966 e 1968, com uma reedição em 1970, em plena ‘ditadura’. Um ‘cochilo’ da censura ou a ‘mordaça’ não era tão severa como muitos na época e ainda hoje querem fazer crer? Isto é a confirmação do que afirmou Olavo de Carvalho, ao dizer que ‘por uma coincidência das mais irônicas, foi a própria brandura do governo militar que permitiu a entronização da mentira esquerdista como história oficial’ quando ‘o governo, influenciado pela teoria golberiana, jamais fez o mínimo esforço para desafiar a hegemonia da esquerda nos meios intelectuais, considerados militarmente inofensivos’ ” (Gen Div Negrão Torres – História Oral do Exército/1964, Tomo 14, pg. 80).
Cooptação política - Processo pelo qual o Estado trata de submeter à sua tutela formas autônomas de participação. Por exemplo, no Governo Vargas, a criação do Ministério do Trabalho e do sistema previdenciário foram transformados em capital político do PTB. Com o governo petista, firmou-se no Brasil o “fascismo gay”, de base gramscista.
Escola de Frankfurt - Famosa escola (de pau) de pesquisa sociológica alemã da década de 1920, deu ênfase, entre outras pesquisas, à “personalidade autoritária” da sociedade e à “teoria crítica” ou contracultura, de modo a destruir instituições tradicionais, como a família e a religião, dentro do conceito “politicamente correto”. Tinha entre seus teóricos Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Eric Fromm, Walter Benjamin, Marx Horkheimer, Jürgen Habermas, Eric Hobsbawn, Umberto Eco. Tomando como ideal o “homem livre” (um tema sem teor científico, um mero sonho), deveria explicar por que, depois do Iluminismo e de Marx – agora, que pela primeira vez na história, a sociedade industrial estava finalmente organizada socialmente –, o mundo produzia ainda tantas personalidades autoritárias, líderes e seus vassalos. A chamada “Escala F” do livro Personalidade Autoritária (coproduzido por Max Horkheimer) “media” os traços da personalidade autoritária: 1) passividade automática ante os valores convencionais; 2) cega sujeição à autoridade; 3) inimigo da introspeção; 4) rígido; 5) pensamento mediante clichês; enfim, tudo se destinava a determinar e quantificar o antissemitismo, o racismo, o conservadorismo econômico etc. Horkheimer e Adorno foram diretores da Escola. Na década de 1930, a Escola transferiu suas atividades para os EUA, fugindo do Nazismo, primeiro para a Universidade de Colúmbia, em Nova York, e depois para a Califórnia. Após a II Guerra Mundial, a Escola voltou a seu lugar de origem, Frankfurt. A Escola de Frankfurt foi “erguida com o dinheiro de Hermann Weil, capitalista e explorador do trigo (e da mão-de-obra barata) argentino. Da cátedra da Escola, os seus integrantes mais notáveis (alguns deles filhos de banqueiros e milionários), diante da crescente supremacia do capitalismo, atiram sofisticados petardos contra o que julgam ser a ‘estrutura dominante’ da sociedade industrial contemporânea. Um dos seus mais destacados mentores, Theodor Adorno (1903-1969) - que morreu de enfarte após uma aluna ter ficado nua na sala de aula para testar o grau de sinceridade do mestre pelas liberdades individuais por ele proclamadas -, era taxativo em afirmar (Dialética Negativa, 1966), por meio da ‘ênfase dramática’, que o mundo e as consciências viviam alienados e não tinham mais salvação, apontando a concentração do capital, o planejamento burocrático e a máquina ‘reificadora’ da cultura de massa como forças destruidoras das liberdades individuais (vindo daí, naturalmente, todo o arsenal crítico mais pretensioso contra Hollywood)” (PONTES, 2003: 42).
Fascismo gay - Trata-se do fascismo brasileiro, de tempero gramscista, consolidado pelo sucessor de FHC, o gay fascism. Nesse modelo, não existe oposição e todos os setores da sociedade, inclusive empresários, estão “alegremente” (gay) cooptados com as benesses do Poder Central. “O ‘pensamento’ de Marx (e de seus seguidores) continua a causar estragos e até a apresentar-se como ‘hegemônico’, sobremodo em algumas partes da descarnada América Latina. É puro ‘non-sense’. Mas pelo menos no Brasil é inquestionável a supremacia da dogmática marxista, pois o país tornou-se o espaço vital onde milhares e milhares de militantes esquerdistas, comandados por uma máquina bem-azeitada e nutrida o mais das vezes nos fundos públicos (subtraídos a muque do bolso do trabalhador e dos empresários contribuintes), atuam sistemática e proficuamente nas cátedras, parlamentos, púlpitos, quartéis, mídias, associações civis e militares, sindicatos, prisões, palcos, telas e até nos prostíbulos, com o objetivo único e irreversível de ‘socializar’ a nação” (PONTES, 2003: 42-3). “Na medida em que crescem, de forma galopante as escorchantes tributações sobre os bens privados, do trabalhador e dos empresários, aumenta em proporção geométrica o número dos ‘excluídos’, pois uma coisa decorre da outra: é o Estado (com suas elites, suas agências, instituições e burocracia em geral) que se apropria, por força da violência legal (e da inércia ou ignorância da população), da riqueza produzida pela sociedade para usufruto diuturno de privilégios” (idem, pg. 43). No Brasil, “os antigos militantes da luta armada trocaram as selvas e os ‘aparelhos’ urbanos pelas vias democráticas: alguns tornaram-se parlamentares, ministros, membros do governo, ecologistas, professores, comentaristas da mídia, e outros tranformaram-se simplesmente em líderes religiosos e integrantes ativos das ONGs, constituídas por vasto contingente de ‘intelectuais orgânicos’ muito bem remunerados com recursos do próprio governo e de grupos e empresas internacionais. A estratégia ‘democraticamente’ adotada para tornar o Brasil uma ‘República Popular Socialista’ é a da ‘revolução passiva’, extraída dos ‘Cadernos do Cárcere’ de Antonio Gramsci (1891-1937), um membro do Comitê Central do Partido Comunista italiano que discordava parcialmente das teses revolucionárias de Lênin e pregava a tomada do poder pela ação ‘hegemônica’ dos intelectuais infiltrados no aparelho do Estado e suas instituições” (idem, pg. 57). “O mercado não dá a menor bola para esse tipo de debate. Ele não quer saber qual é a ideologia do petismo. A sua pergunta sempre será a seguinte: o modelo rende? Rende. Então tudo está no seu devido lugar” (AZEVEDO, 2008: 138). “Somos mais governados pelo PT que não vemos do que por aquele que vemos. (...) A mina de ouro está nas diretorias e nos milhares de cargos das estatais. É aí que está alojado o PT. É por isso que eles lamentam tanto as privatizações do governo FHC. Imaginem se essa gente tivesse, por exemplo, a Telebrás nas mãos: 27 presidências regionais, mais os milhares de cargos de confiança. Mais a Vale, a CSN, a Embraer...” (AZEVEDO, 2008: 124-5). “Dezenas de jornalistas aguardavam uma definição na portaria do edifício Rocha. Por pouco não desci para dizer-lhes que não haveria mais a chapa PT-PL. Quando já ia pegar o elevador, fui chamado de volta. As negociações haviam recomeçado, agora no quarto do anfitrião. Embora sempre procurasse me manter à distância nessas horas, esperando por uma decisão para comunicá-la à imprensa, estava claro para todos que o impasse se dava na questão da ajuda financeira que o PL tinha pedido ao PT para fazer sua campanha. Somente três anos depois, quando estourou o ‘escândalo do mensalão’, eu ficaria sabendo que o valor solicitado era de 10 milhões de reais. No início da noite, os dirigentes dos dois partidos anunciaram que a aliança estava selada, como queriam Lula e Alencar” (KOTSCHO, 2006: 223).
Gramscismo - “Gramsci, incapaz de se ver no papel de líder, tirou de Maquiavel não a idéia de um príncipe individual, como Mussolini o fez, mas sim a de um coletivo: o príncipe moderno, o príncipe mito, não pode ser uma pessoa real, um indivíduo concreto - ele só pode ser uma organização” (JOHNSON, 1994:78). “Gramsci, que queria ‘o partido’ como o Moderno Príncipe, dizia que ele deveria ser o ‘imperativo categórico’ da sociedade e que tudo deveria existir e ser feito em função de suas necessidades. Até mesmo a crítica deveria ser autorizada por ele e tê-lo como referência. Em certos setores da imprensa, já experimentamos algo parecido. Só se aceita que petistas contestem petistas” (AZEVEDO, 2008: 26-7). “O pacto urbano, em decorrência, é ‘soldado’ pela participação do intelectual, para usar uma expressão de Gramsci” (GENRO, 1982: 30).
Guerra de Movimento - Concepção gramscista, equivalente à “revolução permanente” de Marx e Engels, adotada pelos comunistas contra os Estados absolutistas ou despóticos do tipo “Oriental” e também contra os Estados liberais elitistas da 1ª metade do Século XIX, para implantação do socialismo.
Guerra de Posição - Concepção gramscista, mais adequada contra os Estados modernos e democráticos do tipo “Ocidental”, para conquista do socialismo. Essa concepção está sendo implantada com sucesso no Brasil, desde a redemocratização (1979), com a atuação das esquerdas em todos os órgãos nacionais, governamentais ou não - especialmente na Educação e nos meios culturais.
Hegemonia cultural - “A hegemonia consiste na criação de uma mentalidade uniforme em torno de determinadas questões, fazendo com que a população acredite ser correta esta ou aquela medida, este ou aquele critério, esta ou aquela ‘análise de situação’, de modo que quando o comunismo tiver tomado o poder, já não haja qualquer resistência. Isso deve ser feito, segundo ensina Gramsci, a partir de diretrizes indicadas pelo ‘intelectual coletivo’ (o partido), que as dissemina pelos ‘intelectuais orgânicos’ (ou ‘formadores de opinião’), sendo estes constituídos de intelectualoides de toda sorte, como professores – principalmente universitários (porque o jovem é um caldo de cultura excelente para isso), a mídia (jornalistas também intelectualoides) e o mercado editorial (autores de igual espécie), os quais, então, se encarregam de distribuí-las pela população. (...) A outra técnica gramsciana - a da ocupação de espaços - já dava mostras tão evidentes de visibilidade entre nós, com a nomeação de 20 mil cargos de confiança pelo PT em todo o território nacional (só para cargos federais!), que nem mesmo precisaria ser novamente denunciada. O que faltava, entretanto, era fazer a conexão com a primeira técnica - a hegemonia” (Dra. Marli Nogueira, Juíza do TRT em Brasília, in “Técnica Gramsciana e o Partido dos Trabalhadores”, 13/6/2005). “Nesse livro [O Repórter e o Poder, do jornalista José Carlos Bardawwil], ele dá vários depoimentos que mostrou o poder imenso que, já na década de 1970, o Partido [PCB]tinha sobre a classe jornalística” (Otto Maria Carpeaux - HOE/1964, Tomo 3, pg. 122). “Gramsci agora está convencido de que para se tornar ‘classe dirigente’, para triunfar naquela estratégia mais complexa de longo alcance, o proletariado não pode se limitar a controlar a produção econômica, mas deve também exercer sua direção político-cultural sobre o conjunto das forças sociais que, por essa ou aquela razão, desse ou daquele modo, se opõem ao capitalismo” (COUTINHO, 1989: 36). “As principais causas da corrupção são velhas conhecidas: instituições frágeis, hipertrofia do estado, burocracia e impunidade. O governo federal emprega 90000 pessoas em cargos de confiança. Nos Estados Unidos, há 9051. Na Grã-Bretanha, cerca de 300. ‘Isso faz com que os servidores trabalhem para partidos, e não para o povo, prejudicando severamente a eficiência do estado’, diz Claudio Weber Abramo, diretor da Transparência Brasil” (Revista Veja, in “A vingança contra os corruptos”, 26/10/2011, pg. 80).
Intelectual orgânico - Trata-se de intelectual orgânico ao Partido dos Trabalhadores, muito comum na USP (Emir Sader, Marilena Chauí, Maria Aparecida Aquino), na Unicamp e na UnB (Marcos Bagno, reitor José Geraldo Sousa, o “Zé do MST”). A expressão foi criada por Gramsci para qualificar o militante marxista existente na cultura e no magistério. “Quem ler qualquer revista ou jornal, ou livros acadêmicos, ou vir o vestibular (da USP, da UFPR, da UNICAMP) não demorará muito até encontrar frases do tipo ‘a exploração dos trabalhadores pelos capitalistas’ ou ‘o capitalismo baseia-se na exploração de uns pelos outros’ ” (PEREIRA, 2003: 271). “Marcuse usava uma expressão absolutamente fantástica: dizia que a estratégia deveria ser não a de atacar o sistema, mas a de fazer sua decomposição difusa. Isto é, você espalharia, por tudo quanto é lado, militantes e intelectuais - sem ligação aparente uns com os outros - que iriam corroendo, aos poucos, todos os valores, instituições etc. e destruindo sua estrutura de dentro para fora” (Otto Maria Carpeaux - HOE/1964, Tomo 3, pg. 118-9).
Politicamente correto - Não se deve chamar um homem baixo de “anão”. Nem de “baixinho”. É politicamente correto chamá-lo de “negativamente avantajado”. Preto brasileiro deve ser chamado de “afro-brasileiro” (Gustavo Kuerten, Giselle Bünchen, teuto-brasileiros). Infanticídio não existe mais, apenas “aborto”, um “direito da mulher dispor de seu próprio corpo”. Prostituta não é mais prostituta, é “empresária do sexo”. Papa-defunto virou “empresário do luto”. “Pederasta”, palavra que tentaram riscar do atual Código Civil, passou a ser o inofensivo “gay”. Os proprietários do Dicionário Webster foram obrigados a “riscar” várias palavras, como “crioulo”. Uma deputada distrital do PT, no Governo Cristóvam Buarque, apresentou projeto semelhante, visando riscar do Dicionário Aurélio palavras julgadas “ofensivas”. (Na mesma época, o PT negou a Pelé o título de cidadão brasiliense.) Com essa bobagem semântica - a “novalíngua” -, o movimento do “politicamente correto”, dominado pelas esquerdas, se assenhorou da mídia e aproveita para distorcer fatos que lhe são antipáticos e dourar a pílula que todos devem engolir. Politicamente correto não é nada mais do que “marxismo cultural” ou “multiculturalismo” e tem por objetivo destruir a cultura ocidental e a religião cristã, com a contribuição importante de Georg Lukacs (“terrorismo cultural”), Antonio Gramsci (“longa marcha nas instituições”, ou seja, o domínio das escolas, mídia, até igrejas, para influenciar a cultura) e os integrantes da “teoria crítica” da Escola de Frankfurt, que inicialmente seria chamada de “Instituto para o Marxismo”: Max Horkheimer, Theodor Adorno, Eric Fromm, Wilhelm Reich e Herbert Marcuse. ”A correção política é a carrancuda vingança do rancoroso, intolerante e mal-intencionado idiota sobre tudo aquilo que tem vida no mundo. Não é nada mais do que o recurso insincero e desprovido de humor de mentes tão medíocres, que, para eles, o ressurgimento do stalinismo é preferível à dor de um vislumbre do Ser - é o último vestígio da besta que Nietzsche identificava como ‘ressentimento’. Tais mentes tiram sua melancólica noção de prazer - como as fantasiosas ereções de eunucos centenários - maquiando o pouco que desejam conhecer da História para pessoas que parecem não se conformar com os padrões artificiais dos mais ineptos governos do século XX” (SEYMOUR-SMITH, 2002: 84-5). “Um dos objetivos da "novilíngua" (vide Orwell) é apagar as emoções e tornar tudo pasteurizado, anódino, sem emoção. Os sentimentos devem ser varridos para debaixo do tapete. Tome cuidado com o que fala. O termo ‘crioulo’ pode enquadrá-lo na Lei Caó (cujo apelido nos tempos da UNE era Crioulo). Tudo depende de como se fala, embora a descrição ‘passou por aqui, era um crioulão’ seja adequada. Mas, se fosse vivo, Adolfo Caminha teria problemas com ‘O bom crioulo’ ” (Fritz Utzeri, in “O Politicamente correto”). Até o Exército Brasileiro se rendeu à língua do PC: não se realizam mais grupos de trabalho para tratar de Recursos Humanos, mas de “Talentos Humanos”. Nos EUA, o jornalista Bernard Goldberg lançou o livro Bias - A CBS Insider Exposes How the Media Distort the News (Tendencioso - Um Conhecedor da CBS Mostra Como a Mídia Distorce as Notícias). Logo, Goldberg foi tachado de “mentiroso”, “extremista de direita”. Uma das teses polêmicas de Goldberg se refere aos doentes da AIDS, cujos números foram escondidos para agradar ao lobby dos homossexuais e das minorias raciais dos EUA (negros e hispânicos), para acelerar as pesquisas de remédios. Por exemplo, dos aidéticos mostrados na TV, 6% eram gays, 16% eram negros e hispânicos e 2% eram drogados. Na verdade, 58% eram gays, 46% eram negros e hispânicos e 23% eram drogados (período estudado: 1992 a 1995). A Universidade de Oxford, nos EUA, lançou uma versão “politicamente correta” do Novo Testamento (Novo Testamento e Salmos: uma versão não excludente), onde há alterações, como: “A expressão Deus Pai passa a ser Deus Pai e Mãe; a oração Pai-Nosso recebe o nome de Pai e Mãe Nossos; foi excluído o termo ‘escuridão’ como sinônimo do mal por Ter conotação racista; eliminaram-se as acusações de que os judeus mataram Jesus Cristo; as mulheres deixam de ser ‘sujeitas’ aos maridos e passam a ser ‘compromissadas’; as crianças devem ‘prestar atenção aos pais’, não ‘obedecê-los’ ” (“Deus Pai e Mãe”,in revista Istoé, 6/9/1995). “Em qualquer país, preconceitos e maneiras ofensivas de pensar ficam entranhados na linguagem e nas instituições sem às vezes nos darmos conta disso. O legado mais positivo do politicamente correto foi chamar atenção para esse fato e nos tornar mais atentos para as situações em que ofendíamos inadvertidamente um grupo ou uma minoria. (...) No ambiente acadêmico, qualquer opinião deve passar pelo teste do debate, e ser mantida ou descartada por seus méritos, não porque alguém disse que ela é aceitável ou inaceitável a priori. O politicamente correto tentou estabelecer códigos do que era apropriado pensar e dizer e, nesse sentido, foi muito nefasto” (Lawrence Summers, reitor da Universidade de Harvard, entrevista a Veja, 31/3/2004, pg. 14). “O politicamente correto consiste na observação da sociedade e da história em termos maniqueístas. O politicamente correto representa o bem e o politicamente incorreto representa o mal. O sumo bem consiste em buscar as opções e a tolerância nos demais, a menos que as opções do outro não sejam politicamente incorretas; o sumo mal encontra-se nos dados que precederiam à opção, quer sejam estes de caráter étnico, histórico, social, moral e sexual, e inclusive nos avatares humanos. O politicamente correto não atende à igualdade de oportunidade alguma no ponto de partida, senão, ao igualitarismo nos resultados no ponto de chegada” (Entrevista de Vladimir Volkoff a Marc Vittelio - site Mídia Sem Máscara, 27/04/2004). “O típico intelectual exasperado de hoje defende sistematicamente reivindicações contraditórias: liberação do aborto e repressão ao assédio sexual, moralismo político e imoralismo erótico, liberação das drogas e proibição dos cigarros, destruição das religiões tradicionais e defesa das culturas pré-modernas, democracia direta e controle estatal da posse de armas, liberdade irrestrita para o cidadão e maior intervenção do Estado na conduta privada, antirracismo e defesa de ‘identidades culturais’ sustentadas na separação das raças, e assim por diante” (CARVALHO, 2000: 90-91). Por pressão de grupos LGBT, MPF e Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, do MJ, o ministério da Defesa irá propor aos legisladores tirar a palavra “pederastia” do Código Penal Militar, que em seu art. 235 trata aquela prática como crime.
Revolução Passiva - No Brasil, “os antigos militantes da luta armada trocaram as selvas e os ‘aparelhos’ urbanos pelas vias democráticas: alguns tornaram-se parlamentares, ministros, membros do governo, ecologistas, professores, comentaristas da mídia, e outros transformaram-se simplesmente em líderes religiosos e integrantes ativos das ONGs, constituídas por vasto contingente de ‘intelectuais orgânicos’ muito bem remunerados com recursos do próprio governo e de grupos e empresas internacionais. A estratégia ‘democraticamente’ adotada para tornar o Brasil uma ‘República Popular Socialista’ é a da ‘revolução passiva’, extraída dos ‘Cadernos do Cárcere’ de Antonio Gramsci (1891-1937), um membro do Comitê Central do Partido Comunista italiano que discordava parcialmente das teses revolucionárias de Lênin e pregava a tomada do poder pela ação ‘hegemônica’ dos intelectuais infiltrados no aparelho do Estado e suas instituições” (PONTES, 2003: 57).
Senso comum - O mundo como conhecemos é alicerçado no senso comum dos povos. O marxismo quer “superar” esse conceito, criar uma “ruptura”. Gramsci denominava esse objetivo estratégico de “superação do senso comum”: “É exatamente a ‘superação do senso comum’ que fez com que todos acreditassem piamente que a Contrarrevolução de 1964 não passou de um ato impensado dos militares que, na falta do que fazer, decidiram implantar uma ditadura” (Marli Nogueira, Juíza do TRT em Brasília, in "Técnica Gramsciana e o Partido dos Trabalhadores", 13/6/2005). “Segundo Sérgio Augusto de Avelar Coutinho, a superação do senso comum é um empreendimento de profunda transformação cultural e psicológica da sociedade e ‘consiste em apagar certos valores tradicionais e uma parte significativa da herança cultural da sociedade burguesa e substituí-la por conceitos novos e pragmáticos” (PEDROSA: 2008, 73). “Certamente, tal reviravolta, orientada pelas ideias de Gramsci, devia ser compreendida por intelectuais para a tomada do poder no lugar dos operários, marinheiros, soldados e camponeses da velha ortodoxia leninista, stalinista ou maoísta. Desta forma, o movimento seria direcionado para a formação de mentalidades nas universidades e escolas, campos preferidos para ‘conscientização’ do rumo das transformações” (idem, pg. 73). O “fascismo gay” brasileiro é isso, a mudança radical do senso comum antigo, da ética judaico-cristã, uma quebra de paradigma das leis sociais e econômicas, que devem dar vez a esse híbrido stalinista-gramscista, o comunofascismo.
Socialismo do século XXI - Sistema neocomunista, em implantação na Venezuela (Hugo Cháves), na Bolívia (Evo Cocales), no Equador (Rafael Garcia), na Nicarágua (Daniel Ortega), na Argentina (Cristina Kirchner), no Brasil (Lula-Dilma), obedecendo ao objetivo estratégico do Foro de São Paulo (FSP), que é comunizar toda a América Latina. Segundo Viviana Padelin, do movimento Fraternidad Libertaria Latinoamericana, esse tipo de socialismo é implantado em três etapas (Cfr. Las fases del neocomunismo o socialismo de siglo XXI, disponível na internet):
1ª. Etapa - Governo populista: assistencialismo, aumento da quantidade de cargos públicos, aumento de salários, controle paulatino dos meios de comunicação e da cultura, corrupção, discriminação e direitos humanos, revisão da história recente (governos militares), desvalorização dos símbolos pátrios, aumento da delinquência, desmantelamento progressivo das forças de segurança ou sua cooptação com o novo regime, utilização de menores de idade para delinquir, fragmentação da oposição, ataques à Igreja Católica, ocupação de fábricas e terras “não produtivas”, aumento de ONGs de esquerda, criação de grupos de choque, criação de novas universidades de orientação esquerdista, aumento de impostos, aumento do consumo de drogas e narcotráfico, censo habitacional para conhecer os domicílios desocupados, fragmentação da central sindical, quebra do sistema de saúde;
2ª. Etapa- Etapa de implantação e consolidação: quebra da classe média, reforma constitucional, aprovação de casamento homossexual, aprovação do aborto, lei da censura, perseguição midiática e judicial, colapso do judiciário, a delinquência governa as ruas, legalização da maconha, destruição moral e física das Forças Armadas e da Segurança Pública, oposição fragmentada (incapaz de gestão eficaz, mesmo vencendo as eleições), elegem-se novos inimigos para serem combatidos pelos grupos de choque do sistema, divisão de municípios e estados, perseguição religiosa (especialmente contra católicos e evangélicos), criação de milícias armadas;
3ª. Etapa- Fase inicial do neocomunismo: “expropriações”, presos e crimes políticos, ataque à Igreja Católica, regime eleitoral à feição do partido do governo, eleições espúrias, espiral inflacionária.
A autora se esqueceu de acrescentar o item “desarmamento da população”. A Venezuela de Hugo Chávez é o país que está mais avançado na implantação do neocomunismo. Como visto acima, o Brasilistão do “fascismo gay” já queimou algumas das etapas previstas no “Socialismo do Século XXI”. Enquanto Chávez se utiliza da truculência para implantar o socialismo, a esquerda brasileira se utiliza da revolução passiva e permanente preconizada por Gramsci, de modo a cooptar toda a sociedade em torno de um partido-governo, o PT. A estratégia brasileira rumo ao socialismo, ao contrário do que parece, é muito mais insidiosa e perigosa do que a estratégia do brucutu Chávez, porque se este cair, cai também o “bolivarianismo” venezuelano. No Brasil, ao contrário, seja quem for o presidente eleito, o “fascismo gay” vai seguir “alegre” como nunca, porque já existe uma grande ruptura na sociedade brasileira e quebra de paradigmas no que se refere ao antigo senso comum, à ética, à religiosidade, fruto de nossa herança cultural judaico-cristã, a qual é ferozmente combatida pelo socialismo ateu.
Sociedade civil - Denominação utilizada pela primeira vez por Adam Ferguson, em 1767, em seu Ensaio sobre a história da sociedade civil, no qual discorre sobre as virtudes do homem na sociedade civil, ou seja, a "sociedade civilizada", em oposição ao homem isolado e bruto. O marxista francês L. Althusser, aplicando a dialética hegeliana, afirmou que em cada sociedade há embutidas duas sociedades diferentes e opostas: a sociedade política ou Estado (classe dominante) e a sociedade civil (sociedade dominada ou povo), denominações fartamente utilizadas por Antônio Gramsci. Gramsci, um dos fundadores do Partido Comunista da Itália, Seção Italiana da Internacional Comunista, em sua Teoria Ampliada do Estado considera duas esferas no interior das superestruturas:
1) Sociedade Política, que ele chama de “Estado em sentido estrito” ou “Estado-coerção”, que é formada pelo conjunto de mecanismos através dos quais a classe dominante detém o monopólio legal da repressão e da violência, e que identifica com os aparelhos de coerção sob controle das burocracias executiva e policial-militar; e
2) Sociedade Civil: compreende as ONG, organizações comunitárias, associações de moradores, organizações religiosas, partidos políticos, sindicatos, associações profissionais, corporações privadas sem finalidades lucrativas, organizações societárias (membros, sócios), e todas as formas de organizações e instituições privadas, como fundações, escolas, universidades, centros de pesquisas e a organização material da cultura (revistas, jornais, editoras, meios de comunicação de massa etc.). Entenda-se “sociedade socialista”, no pensamento de pau gramscista. Segundo Gramsci, é a Sociedade Civil, em sua “guerra de posição” nos estados democráticos modernos, que irá levar esses países à conquista do socialismo. A “guerra de movimento” ou “revolução permanente”, na acepção de Marx e Engels em 1850, será adotada contra os estados absolutistas ou despóticos, ou contra estados democraticamente fracos. O Brasil, desde o advento da Nova República, em que o “Estado coercitivo” tradicional está se tornando cada vez mais inoperante e inútil, está pavimentando rapidamente o caminho que levará ao paraíso sonhado por Antonio Gramsci. Com o sucessor de FHC, consolida-se, enfim, o “fascismo gay”. Afinal, se alguém entendia o que era fascismo, essa pessoa era Gramsci.
USP - Universidade de São Paulo: fundada em 1934, no Governo de Armando Sales de Oliveira, e nesta, a Faculdade de Filosofia e Letras, que se tornaria, com Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni, numa das matrizes de difusão do Marxismo. Em 1958, foi montado na Faculdade de Filosofia da USP o “Seminário Marx” por Fernando Henrique Cardoso, Ruth Cardoso, José Artur Gianotti, Octávio Ianni, Paul Singer, Juarez Brandão Lopes e Roberto Schwartz. Em 1966, os autores mais lidos eram Lebret, Mounier, Marx, Sartre, Teilhard de Chardin e o Pe. Henrique de Lima Vaz, seguidos por Michel Quoist, Kalil Gilbran, Celso Furtado e José de Castro (que publicou, em 1947, Geografia da Fome, e em 1951, Geopolítica da Fome). “Não foi Marcuse o único guru dessa geração. Outros disputavam essa influência, Mao, Guevara, Debray, o pétreo estalinista Lukacz, sobretudo Gramsci, os autores da Escola de Frankfurt - Walter Benjamin, Adorno, o ascendente jamais cadente Eric Hobsbawn, marxista inglês, e o então noviço Umberto Eco, que ainda esperaria alguns anos pelas grandes tiragens da perversa O Nome da Rosa, e Althusser, que propunha nova leitura de Marx, nova interpretação teológica dos santos livros. (...) A Revista Civilização Brasileira, de Enio da Silveira, acolhia autores prestigiosos. Corria de mão em mão. Entre seus colaboradores o agora, avançado e liberal Alceu Amoroso Lima, o futuroso FHC, Ferreira Gullar, Paulo Francis, ao tempo trotskista – depois, em boa hora, convertido à democracia, por isso repudiado e mantido no escanteio –, Nelson Werneck Sodré, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho – todos crismados ‘aprendizes’ de Lukacz” (José Arthur Rios in “Raízes do Marxismo Universitário”). Arthur Rios é o criador de um axioma imortal: “Pais positivistas, filhos marxistas, netos terroristas”.
Bibliografia:
AZEVEDO, Reinaldo. O País dos Petralhas. Record, São Paulo e Rio de Janeiro, 2008.
CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições (2ª edição, revista). Realizações, São Paulo, 2000.
COUTINHO, Carlos Nelson (org.). Gramsci e a América Latina. Editora Paz e Terra. São Paulo, 1988 (Tradução de Marco Aurélio Nogueira).
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci - Um estudo sobre seu pensamento político. Editora Campus, Rio de Janeiro, 1989.
GENRO, Tarso Fernando. Literatura & Ideologia - Um novo romance latino-americano. Edições Criar, Curitiba, 1982.
JOHNSON, Paul. Tempos Modernos - O mundo dos anos 20 aos 80. Bibliex e Instituto Liberal, Rio, 1994 (Tradução de Gilda de Brito Mac-Dowell e Sérgio Maranhão da Matta).
KOTSCHO, Ricardo. Do golpe ao Planalto - Uma vida de repórter. Companhia das Letras, São Paulo, 2006.
MISES, Ludwig von. Uma crítica ao intervencionismo. Instituto Liberal e Nórdica, Rio, 1987 (Tradução de Arlette Franco).
PEDROSA, J. F. Maya. O Revisionismo Histórico Brasileiro - Uma proposta para discussão. Bibliex, Rio, 2008.
PEREIRA, Alfredo Severo dos Santos. As Falsas Bases do Comunismo (3ª. edição). Editora Vila do Príncipe, Curitiba, 2003.
Seremos marxistas? Existirão marxistas? Tolice, só tu és imortal. (Gramsci)
Em 27 de abril de 1937, morria aos 46 anos Antonio Gramsci, o mais importante, talvez o maior pensador da tradição marxista ocidental do século passado. A morte o derrotou no instante em que conseguira a liberdade: dois dias antes, recebera o documento com a declaração de que não havia mais qualquer medida de segurança em relação a ele, assinado pelo juiz do Tribunal Especial de Roma. Fora preso por ordem de Mussolini, em 8 de novembro de 1926. No processo-farsa montado pelo Estado fascista, o acusador pediu aos juízes sua condenação e, diante de Gramsci, sentenciou: “É preciso impedir este cérebro de funcionar”. Condenaram-no, é verdade, mas não conseguiram impedir que, de dentro da prisão, fosse escrita uma obra monumental.
Encarcerado, fez com que sua inteligência penetrasse na densidade sombria da realidade. Recusou a vaidade demagógica de uns e o dogmatismo degenerado de outros. Não pensou em formular uma nova e original concepção da práxis. Só mais tarde manifestou a consciência do valor de sua produção intelectual. Ousou, de dentro do cárcere, na solidão política, desafiar a ignorância e as banalidades stalinistas. Foi também por muito tempo negligenciado e desconsiderado inclusive por muitos companheiros, os quais deveriam tê-lo valorizado e amado mais intensamente. Em primeiro lugar, comovendo-se por aquele homem frágil, sofredor e perseguido. Em segundo, admirando sua coragem e combatividade. Em terceiro, admirando seu pensamento denso e profundo, bem como seus ensinamentos e a visão inovadora sobre a filosofia de Marx.
Nada mais justo, ao se completarem setenta anos de sua morte, do que recordar algumas contribuições daquele pensamento inovador na tradição de Marx.
Há uma controvérsia sobre o porquê da recusa de Gramsci em usar o termo “materialismo” ou “marxismo”. Parte dos estudiosos explica o fato como uma maneira de ultrapassar a rigidez da censura. Entretanto, é preciso ressaltar que aqueles termos estavam relacionados a uma leitura economicista, dogmática e ortodoxa de Marx. O símbolo mais conhecido era o Manual (ou Ensaio popular) de Nikolai Bukharin. Em defesa do novo conceito foi buscar o exemplo de Marx no prefácio de O capital. Ali estavam explicitados os termos “dialética racional” e “dialética mística”, em vez de “dialética materialista” e “dialética idealista”. O próprio Marx não quis se identificar com o materialismo vulgar.
Há outra convicção: o uso do termo “filosofia da práxis” foi uma consciente revalorização da atividade cultural e da dimensão ético-política. Ao mesmo tempo que travava uma batalha contra os dogmáticos, não deixou de considerar, também, que a filosofia da práxis deveria reconquistar a força criadora que marcava o pensamento moderno, mesmo que preconceituoso e desfavorável a priori em relação a Marx: Bergson, Sorel, Croce, Weber, Veblen, Freud, William James e, através de Spengler, também Nietzsche.
Seria interessante relacionar a crítica que Gramsci fez a duas correntes filosóficas existentes: uma ortodoxa, outra eclética. A primeira tendência era representada por Plekhanov, cujo ensaio mais conhecido era Os problemas fundamentais do marxismo. A obra não foi poupada por Gramsci, que a chamou de materialista vulgar e típica do método positivista. A segunda, que queria ligar a “filosofia da práxis” ao kantismo e outras correntes não positivistas e não materialistas, era representada por Otto Bauer, o qual chegou a afirmar que o marxismo poderia ser fundamentado e integrado por qualquer filosofia. Daí sua preocupação em colocar em circulação o pensamento de outro italiano: Antonio Labriola. Era o contraponto ao grupo intelectual alemão que exercia uma forte influência em determinada leitura de Marx, na Rússia. Por isso, Gramsci valoriza a idéia de Labriola de que a filosofia da práxis era independente de qualquer outra filosofia, sendo auto-suficiente.
Qual o núcleo central do pensamento gramsciano? A palavra-chave é o homem como bloco histórico, categoria que adquiriu de Sorel e a que deu outra dimensão. Discutiu o tema, contrapondo-se à teoria da dualidade, presente inclusive em Georg Lukács. E assim se expressou: “Deve-se estudar a posição do professor Lukács em face da filosofia da práxis. Lukács, ao que parece, afirma que só se pode falar de dialética para a história dos homens, não para a natureza. Pode estar equivocado e pode ter razão. Se sua afirmação pressupõe um dualismo entre a natureza e o homem, ele está equivocado porque cai em uma concepção da natureza própria da religião e da filosofia greco-cristã, bem como do idealismo, que realmente não consegue unificar e relacionar o homem e natureza mais do que verbalmente. Mas, se a história humana deve ser concebida também como história da natureza (através também da história da ciência), como então a dialética pode ser destacada da natureza? Lukács, talvez, por reação às teorias barrocas do Ensaio popular, caiu no erro oposto, em uma forma de idealismo” [1].
Reafirmou sua concepção unitária do homem, quando escreveu: “É possível dizer que cada um transforma a si mesmo, se modifica, na medida em que transforma e modifica todo o conjunto de relações do qual ele é o ponto central. Neste sentido o verdadeiro filósofo é — e não pode deixar de ser — nada mais do que o político, isto é, o homem ativo que modifica o ambiente, entendido por ambiente o conjunto das relações de que o indivíduo faz parte. Se a própria individualidade é o conjunto destas relações, conquistar uma personalidade significa adquirir consciência destas relações, modificar a própria personalidade significa modificar o conjunto destas relações” [2]. Aí também está presente uma leitura antipragmática, uma reelaboração inovadora da teoria do conhecimento expressa por Marx na décima-primeira tese sobre Feuerbach: “Os filósofos de limitaram a interpretar o mundo diferentemente, cabe transformá-lo” [3]. Isto é, o conceito unitário: conhecer a realidade e transformá-la.
O bloco histórico está presente na relação entre intelectuais e não intelectuais, através dos conceitos de senso comume bom senso. Gramsci evidenciou que todos os homens são filósofos, inconscientemente, e definiu os limites e as características dessa peculiaridade. Esta singularidade está contida, em primeiro lugar, na própria linguagem, que é um conjunto de conceitos com conteúdos; ou seja, em qualquer simples manifestação intelectual fica explícita uma concepção de mundo. Em segundo lugar, a religião popular, com todo o sistema de crenças, superstições, etc. E encontrou a chave para unificar, criticamente, essas duas instâncias. Resolveu a questão de maneira muito original. Estabeleceu uma relação entre a passagem do saber ao compreender e ao sentir, e, ao mesmo tempo e inversamente, do sentir ao compreender e ao saber. Destacou que o popular sente, mas nem sempre compreende ou sabe. O intelectual sabe, mas nem sempre compreende, em especial, sente. É indispensável, portanto, reconciliar senso comum e bom senso. Sem essa conexão entre intelectuais e a grande maioria da população, não se faz política.
Essa relação unitária perpassa todo o trabalho e a formação de outros conceitos e categorias. Está presente, também, no estudo da estrutura e superestrutura. Outro exemplo claro é quando se refere às “ondas” dos movimentos históricos: de um lado, chamou a atenção para o exagero do economicismo ou do doutrinarismo pedante, e, de outro lado, para o limite extremo de ideologismo. Essa separação poderia levar a graves erros na arte política de construir a história presente e futura e daria lugar a fórmulas infantis de otimismo.
Outra contribuição importante: estabeleceu uma distinção metodológica de dois momentos para a análise de uma situação concreta, circunstância ou conjuntura: a) um momento unido à estrutura objetiva, de acordo com o grau de desenvolvimento das forças materiais de produção: a formação dos agrupamentos sociais, suas funções e posição na produção. Essa análise permite dizer se, numa determinada sociedade, já existem as condições indispensáveis e suficientes para sua transformação; b) outro momento é a relação política de forças, a avaliação do grau de homogeneidade, autoconsciência e organização adquirido pelos diferentes grupos sociais. Na vida real, entretanto, considerou que estes momentos se confundiam reciprocamente.
E, com base na análise de conjuntura, procurou resolver duas questões apresentadas por Marx no “Prefácio” de Para a crítica da economia política: a) “uma formação social nunca perece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais ela é suficientemente desenvolvida, e novas relações de produção mais adiantadas jamais tomarão o lugar, antes que suas condições materiais de existência tenham sido geradas no seio mesmo da velha sociedade”; b) é por isso que “a humanidade só se propõe as tarefas que pode resolver, pois, se se considera mais atentamente, se chegará à conclusão de que a própria tarefa só aparece onde as condições materiais de sua solução já existem, ou, pelo menos, captadas no processo do seu devir” [4]. Na sua enorme pesquisa fragmentada, apresentou e desenvolveu a categoria de revolução passiva. Inferiu-a dos dois princípios estabelecidos por Marx no “Prefácio” de 1859, reportando-a à descrição daqueles dois momentos que podiam distinguir a situação concreta e o equilíbrio das forças, com a máxima valorização do segundo momento [5].
A chave bloco histórico serviu-lhe para resolver um falso problema da separação entre Estado e sociedade civil, separação que só existe metodologicamente. Mas deixou muito bem explicitado que esta relação dialética exigia um reconhecimento do terreno nacional. Ao analisar as formações sociais pouco desenvolvidas e comparando com as mais desenvolvidas, chegou a uma conclusão importante: nas primeiras, o Estado é tudo, a sociedade civil é primitiva, gelatinosa, sem consistência; nas segundas, há entre o Estado e a sociedade civil uma relação de disputa, pendência, e, diante de qualquer tremor ou oscilação do Estado, imediatamente descobre-se uma poderosa estrutura da sociedade civil. O Estado é apenas um posto avançado, por trás do qual se situa uma poderosa rede de proteção blindada.
A partir dessa leitura, reexaminou o conceito leniniano de hegemonia. E, entre os elementos força e consenso, deu ênfase aos ordenadores do sistema de hegemonia: a) as organizações e instituições políticas e culturais, nas quais esse sistema se materializou; b) os sujeitos, forças sociais e instituições que o construíram e o reproduzem. Mas demonstrou, também, que os sistemas hegemônicos não eram eternos, mas históricos, bem como salientou os processos e possibilidades de se construir novas hegemonias político-morais.
Através de uma série de problemas do pensamento filosófico examinados por Gramsci no início da década 30, foi possível antecipar as novas contradições das sociedades modernas, suas complicações, crises econômicas e morais, bem como a passagem do velho individualismo econômico para a economia programática, uma nova hegemonia. Vislumbrou as grandes transformações capitalistas. Em Americanismo e fordismo demonstrou sua enorme capacidade de olhar o mundo além do seu tempo.
A mesma coerência unitária esteve presente na sua visão de partido político. Recusou um tipo de organização oriental, burocrática. Iniciou a análise partindo do questionamento da necessidade histórica da sua existência e propôs algumas condições, entre elas a possibilidade de triunfo ou, pelos menos, a perspectiva de alcançá-lo. Mas, para isso, era necessária a unidade de três grupos de elementos: a) um elemento de homens comuns, cuja participação seria caracterizada pela disciplina e fidelidade; b) o elemento principal de coesão, que unificaria no campo nacional, tornando-o eficiente e poderoso, um conjunto de forças. Este grupo seria dotado de determinadas premissas, como criatividade, perspectiva e união; c) um elemento médio, que articularia o primeiro grupo com o segundo, colocando-os em sólido contato intelectual e moral.
Seu pensamento avançava por fragmentos, abandonados logo em seguida; em outros casos, aperfeiçoava-os. Não era uma obra sistemática. Por isso, há estudiosos e especialistas de sua obra que apresentam grande diversidade de interpretações: uns, com matizes, formas e graus diferentes, colocam-na no campo exclusivo do leninismo; outros interessam-se, fundamentalmente, pelas inovações que ele introduziu na análise das superestruturas; e ainda há quem o prefira como filósofo da sociedade industrial. A controvérsia é natural numa obra inconclusa.
O que é o homem? Para Gramsci, era a grande questão, a primeira e principal pergunta da filosofia. E questionou: como respondê-la? Sua conclusão foi resumida em ritmo de novas perguntas, mais ou menos assim: o que o homem pode se tornar? o homem pode controlar seu próprio destino? ele pode se fazer? ele pode criar sua própria vida? E concluiu que o homem é um processo — exatamente, o processo de seus atos. Em suma, a humanidade se reflete em cada individualidade e é composta de distintos elementos: a) o indivíduo; b) os outros homens; c) a natureza [6]. Isto é, em outras palavras, o bloco histórico. Só metodologicamente é possível fragmentá-lo.
Não deixou de polemizar com o pensamento mais rigoroso e mais fecundo que formava as grandes correntes de opinião. Assim o fez quando estudou o conceito de classe política de Gaetano Mosca, relacionando-o com o conceito de elite de Vilfredo Pareto. Foi Benedetto Croce seu principal interlocutor. O conjunto dos Cadernos do cárcere, na verdade, é um combate em duas frentes: contra o pensamento especulativo e idealista (Croce) e a chamada ortodoxia vulgar e positivista do marxismo.
E, hoje, as categorias gramscianas são reconhecidas e estudadas nos meios acadêmicos e políticos como instrumentos de análise da modernização conservadora brasileira e suas complexas superestruturas.
Sua vida, pelo modo, lugar e tempo de sua concretização, poderia ser designada como a de um homem derrotado. Na escuridão de uma época, fez valer a extraordinária força moral e o rigor intelectual do homem que, sem se deixar abater, fez de suas derrotas novas fontes de energia para recomeçar e avançar. Suportou seu destino com coragem e sobriedade intelectual, sem concessões ao vulgar e ao patético, conservando sempre o controle racional dos sentimentos. Diante disso, como resistir à tentação de falar sobre Gramsci e sua obra tão rica e fecunda, dando-lhe, ao mesmo tempo, o papel de herói num mundo cheio de vilões teóricos?
Referindo-se a Marx, Norberto Bobbio diz que, para garantir um lugar entre os clássicos, um pensador deve obter o reconhecimento de três qualidades: a) deve ser considerado como intérprete tão importante da época em que viveu que não se possa prescindir de sua obra para conhecer o “espírito do tempo”; b) deve ser sempre atual, no sentido de que cada geração sinta necessidade de relê-lo, e, relendo-o, dedique-lhe uma nova interpretação; c) deve ter elaborado categorias gerais de compreensão histórica das quais não se possa prescindir para interpretar uma realidade mesmo distinta daquela a partir da qual derivou essas categorias e à qual as aplicou [7]. Esta afirmação caberia também para Gramsci? Ninguém hoje duvida de que deva ser considerado um clássico na história do pensamento.
Finalmente, nessa pequena homenagem, não poderia faltar um trecho de sua carta de 10 de maio de 1928, enviada para a mãe: “Gostaria muito de abraçá-la bem apertado para que sentisse o quanto eu gosto de você e como gostaria de consolá-la por esse desgosto que lhe dei, mas não podia agir de outro modo. A vida é assim, muito dura, e os filhos algumas vezes têm de dar grandes desgostos às suas mães, se querem conservar a sua honra e a sua dignidade de homens” [8].
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Gilvan Cavalcanti de Melo, 71 anos, é membro efetivo dos Diretórios Nacional e Regional/RJ do PPS e do Conselho Editorial da revista Política democrática.
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[1] Gramsci, Antonio. Concepção dialética da história. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p. 173.
[2] Id., p. 40.
[3] Marx, Karl. “Teses sobre Feuerbach”. 2. ed. São Paulo, Abril (Col. Pensadores), 1978, p. 53.
[4] Marx, Karl. “Prefácio” de Para a crítica da economia política, ib., p. 130.
[5] Vianna, Luiz Werneck. A revolução passiva —iberismo e americanismo no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1997, p. 18-88.
[6] Gramsci, Antonio. Concepção dialética da história, cit., p. 39.
[7] Bobbio, Norberto. Teoria geral da política. A filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 114.
[8] Fiori, Giuseppe. A vida de Antonio Gramsci. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 360.