Em 29 de outubro de 2012 06:40, Guido Schneider <> escreveu:
Félix bom dia.
Conforme prometido e com atraso, segue o texto sobre o Vale da Ribeira.
Qualquer critica ou sugestão acione.
Faça suas correçoes, que nada tenho como redator....e o portugues correto. Use-o.
Grande abraço
Guido
CAMPANHA do EXERCITO BRASILEIRO no VALE DA RIBEIRA em 1970 e seus efeitos
Guido Schneider
Os alarmes internos do 20 RI - Regimento de Infantaria do Exército Brasileiro em Curitiba soavam quase que diariamente, e mais uma vez a tropa ficava de prontidão, pois os tempos não eram nada abrasivos.
Incorporamos o EB no dia 16/01/1970 e fizemos curso de ‘’reco’’ enclausurados por 30 dias. Fazíamos parte da 2ª CIA sob o comando do Tenente Abraão, oficial da AMAN.
Efetuamos todos os treinamentos básicos para utilização e aplicação do FAL, as marchas de 4,8,12 km, e a seleção dos recrutas que fariam parte da famosa corrida do Facho.
Mas o alarme disparado na Unidade dia 06/05/1970 (sexta-feira, as 17hs) teve um efeito muito diferente . Ficamos detidos até o amanhecer do dia 07/05, quando o comando repassou a instrução de irmos imediatamente para casa, aos que residiam em Curitiba, e retornarmos até as 17hs deste mesmo dia, que era um sábado.
Nosso comandante explicou os motivos, deste retorno imediato ao quartel, e que deveríamos nos despedir dos familiares, pois não sabíamos o tempo quer ficaríamos ausentes. Alem disso o dia 08/05/1970 era o grande dia das mães.
Pois é, fomos para casa, demos aquele forte abraço na mamãe e nesta despedida o meu pai já alertava para a situação do ambiente no país , e a missão a que estávamos nos preparando a enfrentar. No retorno a Unidade Militar, os boatos eram muitos e o ambiente agitado entre as tropas era muito tenso.
Não sabíamos todos os motivos desta concentração, mas algo maior, seria o motivo. Neste mesmo dia, o Tenente Abraão veio conversar comigo , pois o nosso relacionamento era muito aberto e profissional , e assim me explicou: SCHNEIDER (meu nome de guerra), a missão que vamos enfrentar a partir de amanhã (8/5) é real, séria e muito grave, com riscos altíssimos. E frisou ainda que nosso pelotão seria o primeiro da infantaria a embarcar para o Vale da Ribeira. E foi o que aconteceu.
No amanhecer do dia 08/05, o comandante do quartel , explicou os reais motivos da nossa ida para o Vale da Ribeira, pois com a emboscada e morte de um oficial da PM de SP, recebemos o seguinte recado do Lamarca: ‘’ Nosso assunto não é com a Policia, mas sim com o Exército’’
Nossa unidade de infantes foi se acantonando nos caminhões , e o comboio foi se formando. O Tenete Abraão voltou a evocar o grito de guerra, e frisava que nós éramos os melhores soldados, e realmente considerávamos sob seu comando um grupo de soldados da pesada.Tanto que engajamos em janeiro de 70 e em maio do mesmo ano , estávamos a enfrentar uma missão real. Não sei afirmar quanto ao restante de outras unidades pois as corporações de 1969 já tinham todas dado baixa. O armamento que realmente tínhamos domínio era o FAL e o FAP, desmontávamos e montávamos de olhos vendados, e tínhamos já efetuado vários treinamentos de tiro, e tiro livre nas florestas da região. O manejo de outras armas, revólver, pistola, granada, só tínhamos o conhecimento teórico.
As 7hs da manhã, foi dada a partida do comboio, juntamente com outras unidades de Curitiba que não eram da infantaria. Aproximadamente uns 50 veículos motores , faziam parte da composição humana e armamentista.
O caminho pela BR-116, foi de aproximadamente 2 horas , percorremos 110(?) km até quase a divisa com o Estado de São Paulo, o local base do nosso acampamento, na época era um Posto da Polícia Rodoviária Federal. A topografia geográfica do local, era de montanhas acentuadas, mata atlântica densa, nenhuma residência próxima , a neblina uma constante, e como contra-ponto tínhamos uma temperatura gélida , quase as portas do inverno. E a visão horizontal da região não passava de 1km. Um vale mesmo, e a BR com uma pista, cortando todo este ambiente natural, foi o local escolhido pelo Capitão Lamarca e seus seguidores para alavancar o movimento de luta armada contra o sistema de Governo. Nunca chegou-se a comentar sobre a quantidade de componentes do nosso inimigo. Ficamos sabendo posteriormente em uma pequena reportagem da VEJA em 1978, que o número efetivo de soldados efetuando cerco em todo Vale da Ribeira, chegou a 5.000 homens e o efetivo do grupo de Lamarca eram 16 componentes.
A tensão aumentava, pois no processo de montagem do acampamento, víamos a quantidade de armamento, munição, granadas e outros equipamentos de guerra, a serem desembarcados e instalados : SURPREENDIA, e a ansiedade de todos, estava no semblante e a flor da pele.Todos os oficiais da nossa corporação, eram muito solícitos e companheiros, conversávamos muito nos intervalos de descanso, e nós , sempre agarrados ao fuzil.
A alimentação era muito boa e preparada para este tipo de situação, não havia Cassino para oficiais, todos nós fazíamos as refeições em conjunto(sem divisas).
Mas os encontros entre oficiais do II e III Exércitos, no primeiro dia foram uma constante, mas as estratégias que seriam utilizadas, nada chegavam aos nossos ouvidos. Estando eu montando guarda num desses encontros, percebi um grande mapa e os rabiscos sendo aplicados em um papel branco, apoiado num cavalete. Ao final de cada reunião estes papéis eram incinerados.
Não tínhamos conhecimento de quantos soldados estavam ali acampados, mas o nosso era o primeiro na linha de ação, cujo objetivo era controlar a BR-116 , vistoriar, obsevar a reação das pessoas que por ali transitavam de automóveis ônibus e outros. A documentação de identificação de todas as pessoas eram validadas contra a prova dÁágua, quem fazia este serviço individual, sempre eram os sargentos e cabos. Nós infantes, somente fazíamos a guarda e a vigia da região enfestada.
Toda estes procedimentos, ocasionaram filas quilométricas de auto-motores em ambos sentidos da BR, mas era ordem: revistar a todos, um por um.
Outras missões para nossa incumbência, eram : manter uma linha forte de proteção e guarda na encosta das montanhas, uma linha de soldados com armamento apontado para o interior da floresta e outra dando proteção aos soldados e oficiais que controlavam a rodovia. Uns 50 metros abaixo tinha , no mesmo formato um segundo posicionamento de soldados, para dar guarida e apoio a linha superior e identicamente as forças na base do acampamento.
Fazíamos incursões pela BR-116, até a divisa PR/SP, adentrávamos os restaurantes , postos de gasolina e residências a procura dos integrantes do grupo guerrilheiro do Capitão Lamarca.
Estas incursões eram as vezes camufladas, embaixo da lona dos caminhões carregados, para que pudéssemos observar e ou apanhar os inimigos de ‘’sopetão’’.
No segundo dia, um caminhão carregado chegou com toda lona perfurada e metralhada e os para-brisas estilhaçados. O estado do motorista era de pavor, com alguns cortes na cabeça pelos estilhaços. Ficou um dia conosco no acampamento, até chegar socorro para troca também de 2 pneus furados a bala, e o para-brisa. Nosso comando, avisou que os guerrilheiros perceberam nossa estratégia de viajar sob a lona, e começaram a atirar nos caminhões. Este tipo de ação foi suspensa, pois outros caminhões foram atingidos.
Outro tipo de levantamento e caça aos guerrilheiros, era no sentido de adentrar a floresta na busca do acampamento base, este tipo de ação era considerado o mais perigoso de todos. Fortemente armados, fuzil destravado e a ordem de fazer fogo , era só questão de comando. Fizemos várias vezes estas escaramuças , sempre acompanhados pela oficialidade e um especialista em sobrevivência e convivência na floresta.
Este oficial, realmente tinha por ele grande admiração, pois nós em Luzerna-Sc, vivíamos constantemente no mato e grandes noções tínhamos de comportamento. Mas este, soldado oficial, conhecia tudo de mato, ele sentia o cheiro dos nativos (caboclos) a longa distância, e quando mandávamos nos proteger , que o risco era eminente. Pois os nativos davam proteção aos guerrilheiros, e nós soldados poderíamos passar na floresta a meio metro de distancia deles e não perceberíamos. Além disso este oficial notava a presença de outros animais silvestres, cheiro de fumaça, de animais domésticos, pisadas nos caminhos e trilhas.
Já tínhamos atravessado o Rio Ribeira com 100 m de largura, e em SP e com autorização estávamos no caminho certo no encalço de Lamarca. ‘’ACHAMOS O ACAMPAMENTO’’ frisou o oficial em tom baixíssimo , e o local de linha de tiro do grupo guerrilheiro. Lenta e cautelosamente fizemos o cerco , esperamos por 1 hora obsevando o local, no sentido de localizar alguém. Nenhum movimento, e após análise do local, ao lado de um ‘’perau’’ muito escondido, fomos comunicados que o grupo de Lamarca estivera acampado ali 3 dias antes.
Esse espaço de tempo foi determinado pelo estado de decomposição das fezes ao redor do acampamento deixada pelos componentes, isto dito pelo oficial , o que era mais uma especialidade do oficial , conhecedor das matas. Não consegui lembrar o nome dele, mas é algo parecido com Gouveia. Esse acampamento, era pequeno, todo limpo e cortada as árvores menores ,as cadeiras de descanso (balanço) eram feitas de cipó , originadas das copas das árvores.Encontramos alguns panos (trapos) sujos, caixas de papelão usadas para repouso as quais deveriam conter alimentos. Na linha de tiro, não tivemos acesso por motivo de segurança e uma avaliação precisa de especialistas em armamentos, seria feita.
Eram 17 horas , aproximadamente, fomos procurar um local menos cheiroso para o nosso segundo repouso, achamos ali perto 2km mas no meio do Vale mesmo, a casa de um caboclo e pelo que soubemos dele, os guerrilheiros queriam somente saber notícias de SP, via o rádio de pilha do residente. Tonico e Tinoco era a forte admiração do homem da floresta. A choupana do morador , impressionava pelo seus improvisos, um cômodo só, sua cama ficava logo acima do chiqueiro onde mantinha uma porca e seus leitãozinhos , e acima da cama o puleiro das galinhas. O famoso fogão de barro com a chapa de ferro , a chaleira chiando, e a fumacinha saindo fina para o alto da clareira aberta. O famoso pica-fumo, o rolo do mesmo produto, e no lado externo as galinhas procurando local para o pouso , muitos outros porcos solto, gansos e os seus 3 melhores amigos de caça, o amigo cão. Ele se prontificou de abater um veado para nós , mas foi advertido pelo comando pela ameaça dos guerrilheiros e pelo deslocamento de outros grupos das forças oficiais. Para finalizar, disse que nada sabia do porque de tanta gente naquele local, e imaginava que era um grupo de caçadores como ele.
Outros detalhes a respeito deste caboclo solitário, foram extraídas em separado pelos oficiais comandantes.
Acampamos, e percebíamos no alto das montanhas jogos (fachos) de luzes, que pareciam senhas ou códigos de posicionamentos noturnos, fatos esses muito comuns em toda região do Vale da Ribeira.
Quando clareou novo dia, depois de uma severa guarda noturna do nosso acampamento, a neblina cobria somente o baixio daquele vale, acima percebia-se o sol radiante. Quando repentinamente o sobrevôo razante de 2 aviões por aquela imensidão de floresta. Aquietou-se. Novo motor de produto aéro, com tonalidade mais forte e fortes explosões que dariam sentido que fossem no outro lado daquelas montanhas, então: estavam bombardeando talvez o local do novo acampamento de Lamarca. Não obtivemos notícias, mais precisas a respeito.
Retornamos ao acampamento base, e novo destacamento continuou a sequência na perseguição do grupo guerrilheiro. Descansamos e voltamos as atividades, ao longo da BR-116.
Nossa escala de serviços , quando no acampamento base, era de 3 horas com direito a 6 horas de descanso, mas como já disse, sempre agarrados ao fuzil, esta era a ordem.
Os dias foram passando, e a tensão diminuía por que estávamos já aclimatados na região e tudo não era mais tão estranho. Mas os guerrilheiros continuavam por lá.
Efetuamos alguns deslocamentos de proteção a comboios que deslocavam até Registro-SP, levando e trazendo equipamentos e tropas. Lá neste acampamento, na verdade não era acampamento mas sim uma verdadeira operação e praça de guerra. O contingente de soldados, armamentos , helicópteros, e todo tipo de composição veicular, nos dava o sentido do efeito que todo esse movimento estava ocorrendo. IMPRESSIONAVA NOS.
Voltando a nossa base, no PR, ocorreram outros fatos que merecem registro. Eram aproximadamente 3hs da madrugada, forte tiroteio iniciou-se no setor da primeira guarnição de defesa no alto do morro do Vale. No Posto Rodoviário, a correria, gritaria e desespero dos caminhoneiros , passageiros dos ônibus e automóveis. Todos foram proteger-se sob o prédio de madeira do Posto , o qual estava alagado. Escolheram o pior local , também estratégicamente, pois num caso de bombardeio, seria este local o primeiro a ser visado.
Todo este povo foi retirado com nossa proteção, para lugar mais seguro. Mas os tiros continuavam no alto do morro. Estava eu , fazendo revista numa ‘’ jamanta cegonheira’’ e rápidamente desci, rastejando. O oficial do dia, montou rapidamente todo agrupamentos da infantaria na base do morro, e mais uma vez o FUZIL AUTOMÁTICO LEVE destravado, livre para disparar. Fomos rastejando subindo a montanha e carregando junto ao solo, caixas e mais caixas de munição. Pensei comigo, chegou a hora da verdade. A concentração e atenção máxima. Percebia meus companheiros , naquela escuridão todos altamente embuidos de que o que seria necessário, faríamos. Os disparos de fuzil no meio da floresta, mais ou menos a uns 100 metros acima, onde estávamos, foi cessando. A retirada do primeira linha de guarda defesa com afastamento lateral, para que nosso pelotão assumisse o adentramento para valer na floresta. Praticamente nada enxergávamos, e cuidadosamente nos agrupamos a uns 1000 metros nos penhascos do Vale. Amanheceu e nenhum guerrilheiro foi encontrado, mas os fachos de luzes cortando a noite lúgubre , percebeu-se.
Num outro dia, numa tarde ensolarada, estávamos numa estrada vicinal uns 20km do acampamento, a missão era localizarmos a casa de um morador local, que diziam estar subsidiando os guerrilheiros em alimento, estávamos a pé com duas colunas , cada uma ao seu lado da estrada. Uma Kombi veio em nosso encontro, e parou quando nos percebeu. Todos deitamos ao longo da estrada, fuzil apontado, quando saltaram 5 elementos da condução e embrenharam-se no mato. Montou-se o cerco, 1 elemento rendeu-se e preso e os outros foram presos dias após.
Outra cena digna de registro, numa das revistas corriqueiras de madrugada, chegou um automóvel preto, do qual nenhum elemento avistávamos pela proteção dos vidros. Foi reforçada a vigilância neste objetivo. Pelo sargento no momento, ordenou que todos descessem do automóvel. Saiu o motorista, já com as mãos levantadas e pela porta traseira saiu um Sr negro, alto de 1:90 e calmamente postou-se ao lado do automóvel. O sargento , muito meu amigo, com aquele tom bravio, assim frisou: DOCUMENTOS . Identificado o motorista e logo em seguida seu companheiro. Quando ele apresentou suas credenciais, súbitamente vi o sargento, fazendo continência para aquele elemento. Nada menos que o representante da ONU no Brasil dos Direitos Humanos de passagem pelo local. Imediatamente montou-se uma escolta de proteção , e este Sr. Foi conduzido para o comando e lá mantiveram-se em conversação por umas 2 horas, retornou ao seu automóvel e rumou para Curitiba, sem nada falar. Dois dias após , em regresso para São Paulo, voltou a cruzar nossas barreiras, mas de nada reclamando.
Sociológicamente, nosso contato com as pessoas que transitavam, foram tornando-se mais agradáveis. Os caminhoneiros ofereciam cigarro, aquele famoso cacho de banana carregado sobre a lona e outros produtos , mas energicamente fomos advertidos, pois nessas conversações poderia estar ‘’enrrustido’’ um guerrilheiro. Outras cenas de motoristas , transportando suas companheiras prostitutas de beira de estrada, os quais flagrávamos em cenas de muita curiosidade por nossa parte, afinal , tínhamos 18 anos e muito ainda aprenderíamos na vida , sobre estas vivencias sexuais.
Dia 28/5/1970 estava eu no horário de descanso, sentado observando o movimento, recebi o comunicado do cabo de nosso pelotão, que me dirigisse ao comando geral. O oficial do dia, comunicou-me que minha missão no VALE DO RIBEIRA estava concluída, e que por solicitação do 20 RI deveria me apresentar, na manhã seguinte. Motivo: como fazia parte dos corredores do FACHO corrida de 11 km realizada todo ano , no dia do Soldado (25/8), deveria retornar imediatamente pois defendíamos a invencibilidade para 9 anos consecutivos.
Despedi-me calorosamente de todos meus amigos de farda, desejando boa sorte, alguns com inveja e outros felizes que deste evento eu esta isento. Mas, neste retorno do Vale até Curitiba, aquele guerrilheiro preso na estrada vicinal , veio junto comigo no mesmo jipe , no banco traseiro, e dele não ouvi nenhuma palavra. E a ordem era: mantê-lo sem movimentos, estava algemado e sempre de cabeça baixa. Outro jipe seguia atrás , dando cobertura com mais 6 soldados. Na chegada a base do 20 RI foi encaminhado a prisão , e nunca mais o vi. Era um rapaz ruivo, de seus anos 25 anos.
Para mim, a corrida do Facho, independente de ser um bom corredor para 1000 ms, tinha como objetivo , baseado num posicionamento de um NB de 1969, que chegou gentilmente informando, que , quem fizesse parte da turma do FACHO, seria isolado de toda as obrigações e somente treinamento fariam. Não querendo perder o ano escolar, estava frequentando o último ano do Científico, e a escala vermelha e este plano de correr em 25/8; fiz meu esforço para lá chegar , entre 1200 soldados ficar em os 11 melhores corredores. E isto também aconteceu. Baseado na aplicação e determinação do jogador de futebol do CORITIBA FC e da Seleção Brasileira em 2 Copas do Mundo , Dirceu, que serviu esta unidade em 1969 comecei a treinar diariamente. Os resultados foram surpreendentes, ganhamos o Fachinho dentro do 20 RI e a competição de todas unidades da 5ª Região, pela nona vez consecutiva. Mas fui infeliz, uma semana antes da competição oficial no Centro de Curitiba, onde milhares de pessoas acompanham anualmente este evento, isto até hoje;, tive uma queda num treinamento noturno , e tive que engessar a perna por 30 dias. Este treinamento noturno acontecia as 4hs da madrugada, no local onde a corrida iria aconterer, pois o trânsito nas ruas do Centro da cidade , era bem reduzido.
Não saí na foto oficial, mas o sargenteante e treinador da equipe, oficializou e agradeceu os méritos e ganhei todos benefícios dos 11 soldados que correram, com 30 dias de dispensa.
Mas voltando ao Vale, para gáudio de todos e todos vivos , retornaram a base do 20 RI a soldadesca lá participante, nos primeiros dias de junho de 1970. Sendo recebidos por nós e pela Unidade com grande alegria, eram todos meus companheiros do dia a dia.
E nos dias seguintes , os soldados OLIVEIRA, 526-Locatelli, 527-Noronha, (já falecido) , 528-Pontelo , e o Schneider , cujo número é 529....e todos demais, deste magnífico pelotão , fazíamos nossa ordem unida, como se nada tivesse acontecido.
Obs. Final: Os soldados Oliveira e Noronha , briosos companheiros em tudo, não eram boca de rancho, repartia com eles todas as benésses que os corredores de facho possuíam. (leite em pacote, almoço especial, após os treinamentos e o apoio moral a eles eram muito importantes).
O soldado 527-Noronha, mantivemos até recentemente grande amizade desde 1970, quando veio a aquela notícia que ninguém espera. Mais um brioso soldado , que foi-se.
O soldado Oliveira, muito revoltado com os aspectos vitais, cometeu muitos infortúnios para ele mesmo. Ficou preso por várias vezes por má conduta, o erro menos significante foi por ter desertado. Numa manhã , em outubro de 1970, na troca da guarda , e eu na escolta dele, veio baixinho me comunicar, que manifestava interesse em participar da OLIMPÍADA DO EXERCITO, que iria breve ocorrer em Curitiba. Resultado fantástico de um soldado, extraído do MEIO RURAL , sem vivência pública e nenhum apoio da sociedade e familiares, mas amigo ‘’até debaixo d’água"" . Na travessia do Rio Ribeira, como exímio nadador, colocava um tronco seco de árvore na água, e mandava a turma agarrar-se a ele, então fazia a transposição. Foi Campeão Brasileiro do Exercito em salto com vara, e ninguém sabia destas qualidades. Da prisão para liberdade, total, ganhou premio medalha do 3. Exercito , da 5ª Região , do 20 RI, da 2ª CIA e do NOSSO PELOTÃO do comandante ABRÃO. Deu baixa.
Realmente, minhas refêrencias a ELE nas atividades cívico-militares a que estávamos envolvidos , um amigo, um baluarte pouco aproveitado. Companheiro em todos passos de caserna, mas sua postura não era para adequada para nenhum dos tempos. Quando em determinado dia,logo após sua baixa, andando eu pelas vias de Curitiba, vi estampado a fotografia do SOLDADO OLIVEIRA na manchete de todos jornais. Obviamente, era uma manchete muito triste, ao menos para mim o 529, como sempre referenciava-se para minha pessoa.
Este foi o único mártir, que considero, de toda esta ODISSÉIA, por nós vivenciada, e que em sua TUMBA tem outro NÚMERO.
Curitiba, 28 de Outubro 2012.
Guido Schneider
XXXXXXXXXXXX
De: Félix Maier
Para: Guido Schneider
Enviadas: Segunda-feira, 29 de Outubro de 2012 11:31
Assunto: Re: Vale do Ribeira - 1970
Caro Guido,
Obrigado pelo relato enviado, o qual gostei muito. Quer dizer que já naquela época os caras dos Direitos Humanos da ONU metiam o bedelho no Brasil... Vou utilizar parte do seu relado em meu livro. Pergunto: posso publicar seu texto na íntegra, no site Usina de Letras?
Em 1970, quando incorporei na 4ª Cia Inf (atual 30. BIMtz), de Apucarana, eu fiz o Curso Básico de Comandos na estação Véu de Noiva (estrada-de-ferro Curitiba-Paranaguá), cujos instrutores eram do 20. RI (atual 20. BIB), onde você serviu. Antes do embarque para Véu de Noiva, nós (efetivo de 1 pelotão) pernoitamos no 20ª RI. Lá, segundo me informaram, havia uma companhia, de elite, composta inclusive por militares que já haviam dado baixa e foram reconvocados, todos voluntários. Essa Cia havia sido estruturada para enfrentar a subversão, como o foco guerrilheiro de Lamarca no Ribeira. Eu gostaria de confirmar contigo, se realmente foi criada essa Cia, composta por militares antigos, alguns dos quais já haviam dado baixa e voltaram. Tá legal?
Mais uma vez, muito obrigado!
Abr,
Félix
XXXXXXXXXX
Em 30 de outubro de 2012 06:18, Guido Schneider <> escreveu:
Bom dia Felix,
Pode disponibilizar e utilizar este texto a vontade.
Sim Félix, esta Cia realmente existia e foi criada logo após o retorno dos soldados do Vale da Ribeira(junho/70). Realmente alguns eram enganjados soldados &
39;&
39;MACACO VELHO&
39;&
39; que ficavam perambulando no quartel. E de um dia para outro, esta CIA criada com estes soldados NB e muitos outros que nunca tinha visto, começaram a fazer treinamentos da PESADA, (este o nome da CIA). Era de admirar a quantidade e a qualidade de treinamentos, que chegavam a humilhar os recrutas.
E o comentário, era que , daqui para frente, ESTA CIA , e todas as outras teriam TREINAMENTOS deste NAIPE....
Mas estes soldados não participaram na operação do Vale da Ribeira.
Conte comigo, se necessitar mais algum dado. Eu escapei do treinamento no VÉU DA NOIVA, estrada de ferro Curitiba x Parangua, pois estavamos em treinamento pelo FACHO.(julho/70) . Eu sei que quando a turma voltou de lá, foi uma reclamação geral. Teve soldado com perna quebrada, braço enfaixado....dizem que a coisa foi pesada. Teve manifestação de alguns pais de soldados , que lá compareceram para protestar. Voce , esteve lá , em que mes de 70 ??????
Grande abraço
Guido
XXXXXXXXXXXXXX
De: Félix Maier <>
Para: Guido Schneider <>
Enviadas: Terça-feira, 30 de Outubro de 2012 11:51
Obrigado, Guido, irei postar seu relato na íntegra, no Usina de Letras.
Eu fiz o estágio em Véu de Noiva no mês de agosto de 1970. No total, éramos em torno de 25 militares, não me lembro o número exato. Eu fui porque era o cabo mais 'moderno', só por isso. No segundo trimestre daquele ano eu fiz o curso de cabo 'trepa-poste' na 5ª Cia Com, no Portão, época dos jogos da Copa do Mundo. No segundo semestre eu fiz o teste para Curso de Formação de Sargento no 13. RI de Ponta Grossa e depois, perto do fim do ano, voltei ao 20. RI para fazer os testes físicos, antes de ir para o Rio fazer o Curso de Sargento, em 1971.
Um abração,
Félix
XXXXXXXXXXXXXX
Terça-feira, 30 de Outubro de 2012 11:55
Félix, lembrei agora...
Não sei se foi na tua turma, no Véu da Noiva , que o oficial da AMAN, acho que o nome dele era GUEDES, numa instrução na travessia do rio, por corda (sem proteção alguma , caiu nos penhascos e morreu na hora).
O dito , era o mais F...o CDF...da AMAN...mas não obedeceu as seguranças mínimas....e foi-se (teve gente que comemorou)
Lembra-se deste caso ??
Outro caso curioso, a respeito dos testes físicos no 20 RI. Estávamos correndo ao redor do campo de futebol, quando meu companheiro ao lado , Soldado Pinheiro, teve um enfarte fulminante, e tb. foi-se.....
É....tem muitas histórias...
Em 1985 , refizemos alguns caminhos no Vale da Ribeira....e voltamos a casa do caboclo referenciada no texto.....é só tinha alguns restos do barraco....e nenhum sinal de vida.( será que não virou guerrilheiro ???)
Estivemos em Eldorado, onde tem uma das Cavernas mais bonitas que já vi....CAVERNA DO DIABO...vale a pena ver.
Aquela região, é de um paisagismo espetácular. Estivemos em Itaoca, cidadezinha de quilombolas, é uma miséria só.Estivemos
em Apíaí terra dos tomateiros japoneses. Em Adrianópolis, tinha a maior mineradora de chumbo do Brasil, foi desativada.
Infestou toda população e as futuras gerações tb.
Repetindo, tem lugar que a gente passa , físicamente pelo topo da SERRA, onde tem-se uma visão extraordinária de ambos lados.
Inclusive com visão do Atlantico. Não é por nada que Lamarca, escolheu este lugar.
Agora, a gruta de SEDE BELEM ....em Luzerna, é tb. um GRANDE efeito da natureza...HEHEHEHEHE...
Grande abraço
Guido