Carlos I.S. Azambuja
em 06 de setembro de 2004
Resumo:Saiba quais são as propostas da oposição cubana, antesde chegar ao poder.
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O texto abaixo é uma entrevista exclusiva de um dirigente da oposição ao regime cubano.
No momento em que esta matéria está sendo escrita, se acirra a campanha em solo cubano contra o regime ditatorial. Ainda que tenham sido atribuídos pela ditadura muitos significados e muitas interpretações à nossa campanha, trata-se essencialmente de uma luta política. Nesta luta suportamos revezes e obtivemos vitórias, enquanto o ditador pôde ostentar apenas uma façanha: ele tem amordaçado, com eficácia, todas as comunicações públicas em nosso país. A televisão, o rádio e a imprensa. É, de fato, uma guerra civil que se alastra.
Um dos resultados indesejáveis dessa censura férrea, reforçada pelo cerco militar, tem sido que nosso programa, com os objetivos, planos e aspirações, não tem sido divulgado ou explicado adequadamente dentro de Cuba.
Ainda que a ditadura, a ignorância, o regime militar e a opressão policial tenham gerado muitos males para o nosso povo, todos esses males têm uma raiz comum: a falta de liberdade. A palavra que melhor expressa nosso objetivo e espírito é simplesmente liberdade. Primeiro, e sobretudo, lutamos para pôr fim à ditadura em Cuba e lançar as fundações de um governo representativo.
Para alcançar isso tencionamos derrubar o ditador e todo o seu governo prendê-los e julgá-los perante tribunais revolucionários especiais. Para substituir o regime inconstitucional ajudaremos na convocação de uma convenção especial composta por delegados de nossas organizações cívicas: Lions, Rotary, associações profissionais tais como a de médicos, a de engenheiros e outras semelhantes. Isso será uma ruptura com procedimentos tradicionais, mas temos certeza de que será viável. Uma vez nomeado, a principal tarefa do governo provisório será a de preparar e conduzir eleições gerais, honestas, no prazo de 12 meses.
Temos um número de pontos de programa que poderão servir de base para a ação pelo governo provisório.
São eles os seguintes:
(1) Imediata liberdade para todos os prisioneiros políticos, civis e militares. Ainda que o mundo exterior pouco o saiba, há dúzias de oficiais e centenas de soldados presos dentro das Forças Armadas, por manifestarem repugnância ou por resistirem à repressão sanguinária do descontentamento político.
(2) Plena liberdade de manifestação para todos os meios de informação pública, radiofusão, televisão, imprensa diária e periódica. A censura arbitrária e a sistemática corrupção de jornalistas têm, há muito tempo, sido feridas infeccionadas de nossa nação.
(3) Desejamos restaurar, para todos os cidadãos, as liberdades pessoais e direitos políticos declarados na nossa mui desrespeitada Constituição.
(4) Queremos apagar a corrupção da vida pública cubana. Aqueles que se acostumaram ao logo dos anos a lidar com policiais venais, coletores de impostos ladrões, com a rapacidade de chefes militares, poderão pensar que isso é uma aspiração otimista. Mas tencionamos atacar esse problema na sua própria raiz, pela criação de um serviço público de carreira, fora do alcance da política e do nepotismo, assegurando aos funcionários de carreira remuneração que os permita viver sem ter que aceitar propinas.
(5) Somos a favor de leis de reforma agrária para acomodar a incerta relação entre as mazelas pecualiares à Cuba rural. Acreditamos que na solução da questão jurídica da propriedade, deve ser dada preferência a quem ocupa e lavra a terra. Todavia, nunca apoiaremos projeto de lei agrária que não faça provisão para a justa indenização dos donos desapropriados.
(6) Finalmente, apoiamos a rápida industrialização de nossa economia nacional e a melhora do nível de empregos.
A industrialização está no coração de nosso progresso econômico. Algo precisa ser feito a favor da enorme massa de desempregados. Eles só têm esperança de trabalho nos quatro meses da safra da cana de açúcar. O grande número de desempregados denuncia um mal econômico terrível que precisa ser curado sem demora, para não degenerar num caldo de cultura para o Comunismo.
A melhora não é tão difícil. Nosso país é rico em recursos naturais. Precisamos de uma indústria adequada de alimentos para processar nosas boas safras de frutas de instalações industriais ampliadas para processar o açúcar e seus importantes subprodutos da expansão de indústrais de bens de consumo, de metal, couro, tecidos, que muito contribuiriam para melhorar nossa balança comercial e de uma frota mercante de longo curso.
O Estado não precisa recorrer à expropriação para assumir um papel diretor de tal desenvolvimento econômico. Na reforma do sistema fiscal, que atualmente consiste em pagar suborno ao fiscal em lugar de recolher receitas para o Estado, será possível aumentar em várias vezes a arrecadação, para tratar da muito necessária expansão de nossa rede rodoviária.
Com padrões de vida ascendentes e com crescente confiaça no governo, virá o rápido progresso rumo à estabilidade política sob um governo representativo e genuinamente democrático. É por tudo isso, enfim, que lutamos.
Todavia, enquanto estivermos forçados a lutar, nossos projetos construtivos terão que marcar passo. Nossa tarefa imediata é inteiramente diferente: é a de queimar toda a safra cubana de cana de açúcar. Foi uma decisão penosa, e agora que estamos a executá-la, uma tarefa terrível. A cana de açúcar é a principal fonte de renda de Cuba metade da renda agrícola depende do açúcar. Mas a própria importância da safra de açúcar nos obriga a destruí-la.
Se a cana subir em chamas, se o Exército parar, a Polícia debandar por não serem pagos os seus vencimentos, o regime terá que capitular. E, o que é melhor, ganharemos a vitória decisiva com pouco derramamento de sangue, ao preço do sacrifício da safra deste ano.
Bem sei das pesadas perdas pessoais envolvidas, mas a única coisa que salvará a safra de cana será a capitulação do ditador. As chamas porão fogo na ditadura que tanto nos oprime agora.
Quando a tirania virar fumaça, enxergaremos o caminho para um futuro democrático decente.