Como era de se prever, a mais recente tentativa egípcia de se tornar uma democracia está naufragando num mar de sangue, onde o resultado pode ser uma ditadura ainda mais cruel que a de Hosni Mubarak, derrubada há pouco mais de dois anos numa revolta popular que também deixou centenas de mortos e milhares de feridos. Embora o país tenha passado por eleições presidenciais, as quais foram livres e democráticas, o primeiro presidente democraticamente eleito não correspondeu às aspirações populares e frustrou não só os egípcios como também a comunidade internacional. Talvez o maior erro dos egípcios tenha sido exatamente esperar mais do que a sua frágil democracia poderia lhes oferecer. O Egito não estava preparado para uma democracia à moda ocidental e menos ainda para um governo de forte influência muçulmana como era do presidente eleito Mohammed Mursi, cujo partido, a Irmandade Muçulmana, tem forte ligações com os movimentos religiosos. E os militares, ao tentar remediar o erro cometido pelos egípcios nas urnas, derrubando Mursi e o governo da Irmandade Muçulmana e pondo um governo interino em seu lugar, acabou dividindo o país entre aqueles que exigem a volta do presidente deposto e aqueles que apoiam o governo interino a fim de preservar o estado laico. Os ânimos se acirraram a tal ponto que um confronto entre as forças do governo e os apoiadores do presidente deposto foi inevitável, levando o país ao caos e talvez a uma guerra civil. E mesmo que não chegue a tanto -- se isso vier a ocorrer poderá mergulhar não só o Egito mais todo o Oriente Médio numa Guerra Civil como ocorre na Síria --, a Primavera Árabe e o sonho de democracia naquela região do Oriente Médio chegou ao fim. A população dos países que resistiram até o momento às manifestações por democracia, diante do caos nos vizinhos, sentir-se-á desencorajada a sair às ruas, uma vez que pior que um governo autoritário é não ter governo algum, onde impera tão somente o caos. Infelizmente os acontecimentos na Síria e no Egito decretaram o fim de uma revolução que parecia estar prestes a mudar todo o Oriente Médio. Talvez aquela região tenha de esperar mais 30 ou 50 anos para que algo de novo e realmente significante possa surgir.
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