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 | Ensaios-->E ambos Vicentes... -- 24/10/2013 - 16:42 (Brazílio)  | 
	
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E ambos Vicentes. Um foi ébrio, cantor, sedutor, 'nadava em ouro e tinha alcova de 
 
 cetim', já o outro, nem nos sonhos de ebriedade, nunca terá passado de Betim, tenho 
 
 por mim. 
 
 Enquanto num fim de tarde eu ouvia aquele vozeirão consagrado, no máximo som que 
 
 a radiolinha Philips portátil podia permitir: '... oh, Gilda, porque sonhador, fui deixar 
 
 um amor, na genuflexão do altar', a lembrança que me veio, se não a voz, entrou pela 
 
 janela, suave, mas penetrante: '...ói o maimeeeelo!' 
 
 E era um enchendo a casa, com sua canção em brasa, enquanto outro, do alpendre, 
 
 com seu balaio já descansando sobre a murada, ia vendendo marmelo para se fazer 
 
 marmelada. Ou pra se comer conforme o gosto de cada. 
 
 O vendedor Celestino vinha da Onça, uma cidadezinha próxima, onde floresciam e 
 
 frutificavam os marmeleiros, fruta rara, até pra mineiros. Se tinha gente de comparava 
 
 essa fruta ao jenipapo, tal a sua sensaboria, pra outros, como pra mim, era ela uma 
 
 iguaria, mesmo com marmelada enlatada da Cica ou da Peixe disponível em qualquer 
 
 armazém, ao custo de vintém. 
 
 E estavam ali, duelando para receberem a minha nobre atenção, dois Vicentes, entes 
 
 Celestinos que são. 
 
 Deixei a radiolinha (que a gente já chamava de toca-discos e que o mano Cashi, nas 
 
 noites mais inspiradas saia levando pras suas serenatas...e não sei se ouvintes das 
 
 mais sensatas) de lado, no descanso e fui cuidar da rara fruta, fruto de tanta luta. 
 
 Não voltei a ver o Marmeleiro Celestino - na certa teria ido de encontro ao seu destino. 
 
 Mas sem o amargor do cantor, ao implorar que não se fizesse na sua 'campa nenhuma 
 
 inscrição, deixai que os vermes pouco a pouco levem esse amargo coração'. 
 
 Sem parentes, ou mesmo dentes, o segundo dos Vicentes, com sua voz de menino, vai 
 
 ver de nós tá é rino.  |  
 
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