Uma pobre sinopse do “pacifismo” brasileiro
Tenente-coronel do Exército Osmar José de Barros Ribeiro
em 10 Abr2014
Há 514 anos, atravessando “mares nunca dantes navegados”, toscas caravelas encimadas pela Cruz dos Templários e pelas Quinas de Portugal, aportavam em terras que, um dia, receberiam o nome de Brasil. Ao longo desses quinhentos e poucos anos, cerca de 33 gerações fizeram surgir um povo e uma nação que se caracteriza, ainda hoje, por alto grau de miscigenação, cultura diversificada e língua sem dialetos. E tudo em meio a lutas e sacrifícios.
Até meados do século findo, quando ainda não surgira entre nós a praga do “politicamente correto”, o passado não era perscrutado à luz de ideologias, teorias e outras modernidades. A escravidão de índios e negros, as lutas contra e entre eles nos albores da nossa formação, seu emprego contra invasores os mais diversos, tudo era visto como o desenrolar de uma História que corrigia erros e acentuava acertos. Deles, não eram feitos juízos de valor. Simplesmente, fruto de problemas diversos, haviam acontecido, cabendo-nos extrair ensinamentos dos fatos e das suas consequências.
Quando Colônia, tivemos guerras externas, motins e revoluções de maior ou menor porte, além da Guerra da Independência que nos livrou do jugo português. Nos albores do Império, vieram lutas voltadas para mudar a forma de governo, fruto da tomada de conhecimento das revoluções ocorridas na França e nos Estados Unidos. Entre nós, tais embates eram tratados a ferro e fogo, até que o primeiro e singular artífice da Unificação Nacional, o Duque de Caxias, além do comando militar exigiu o poder político nas Províncias rebeladas e, obtendo-o, através o instituto da Anistia, trouxe a paz onde havia a luta. Isso, sem falar na Guerra da Tríplice Aliança na qual, mais uma vez, pontificou o seu gênio estratégico e de pacificador.
Com a República, reacenderam-se as brasas da discórdia e vieram a Revolução Federalista, a Revolta da Armada, insurreições no Nordeste e no Norte, além de outros movimentos, sendo de citar a Revolta dos 18 do Forte, a Coluna Miguel Costa-Prestes, a Revolução de 1930 (marcando o surgimento da ditadura Vargas), a Revolução Constitucionalista de 1932, a Intentona Comunista de 1935 e a Insurreição Integralista de 1938. Alguns anos mais tarde, em 1961, a renúncia de um presidente esquizofrênico levou o País às portas da guerra civil, obstada pela adoção de uma solução de compromisso, de resto seguidamente violada por um dos participantes.
No clima mundial de confronto entre a Democracia e o Comunismo, tinham lugar as chamadas “guerras por procuração” nas quais se confrontavam os EUA e a então URSS. Não foi diferente entre nós. Desde o início dos anos de 1960 (e mesmo antes), militantes comunistas buscavam e obtinham armas, dinheiro e treinamento nos satélites soviéticos. Trata-se de uma longa história, narrada em diversas obras, tanto de um lado quanto de outro.
Resumindo: em 30 de Março de 1964, o governador de Minas Gerais declarou-se separado da Federação, contando com o apoio dos governadores de São Paulo e da Guanabara (hoje Rio de Janeiro). Era a consequência mais que natural da situação caótica na qual se encontrava o País, com desabastecimento de gêneros de primeira necessidade, greves e mais greves, motins militares em Brasília e no Rio de Janeiro, insurreições populares com cenas dantescas de vandalismo, etc. As tropas sediadas em Minas, rebelaram-se. Enviadas contra elas, as Unidades do então I Exército passaram-se para o outro lado; as do Grupamento de Unidades Escola defrontaram-se com os Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras e recusaram-se a combatê-los. O então II Exército declarou-se contra o Governo e o III Exército procedeu da mesma forma. Era, mais uma vez, o fim do sonho de implantar o Comunismo no Brasil.
A oposição armada aos governos militares e que tinha como objetivo a implantação do comunismo, foi fragorosa e inapelavelmente derrotada, com vítimas de um e outro lado, ao passo que a democrática, com representação no Congresso Nacional e na maioria dos órgãos de comunicação, levou os militares a aceitarem de bom grado, diga-se de passagem, um novo governo civil. Mas durou pouco a esperança e essa nova ilusão terminou com a ascensão de um partido que se dizia ético e implantou, com o apoio de aliados tão honestos quanto ele, uma cleptocracia no Brasil. Hoje, o esforço dos derrotados de ontem reside na extinção unilateral do santo remédio da Anistia Política.
Fica a pergunta: até quando será aceito esse despencar no abismo?