O Brasil vem nos últimos anos trilhando um caminho perigoso, um caminho que não condiz com a nossa tradição e o qual, no passado, fez do nosso país um exemplo para mundo. Estou falando da intolerância. Não de um tipo específico de intolerância, mas da intolerância como um todo. Usando um jargão do ex-presidente Lula, “nunca na história desse país” se viu tanta intolerância política, religiosa, racial e de gênero como agora. Embora o Brasil tenha sido um dos últimos países do mundo a pôr fim à escravidão, o convívio entre brancos e negros, apesar da marginalização e da disparidade social que perdura até hoje, não houve uma cultura racista e uma segregação como em muitos países. O mesmo pode ser dito com relação ao preconceito por gênero. O Brasil, durante o século XX, foi um exemplo de tolerância aos homossexuais e visto como vanguardista, sendo inclusive referência na América Latina. No entanto, a partir dos anos 90 do século passado, os primeiros casos de violência contra os homossexuais começaram a surgir e passaram ser mais frequentes nos anos seguintes, o que levou o poder público a reagir com uma lei específica para lidar com a homofobia, um termo praticamente desconhecido há duas décadas. A intolerância religiosa é mais antiga, uma vez que sempre houve por uma parte da sociedade uma certa aversão os cultos afros como o candomblé e a macumba por exemplo. No entanto, nas últimas décadas não só aumentou a aversão a essas e outras religiões do gênero como começaram a surgir casos de violência contra os seus praticantes e destruição de templos, mostrando que está surgindo no país um radicalismo cristão, radicalismo esse que não condiz com a nossa tradição. E por último e mais recente ainda, a intolerância política. Claro que isso é em parte fruto dos escândalos políticos que envolve o PT e o fato dele estar há mais de dez anos no poder. E o que agravou mais essa situação foi, de um lado, a agressiva campanha eleitoral do ano passado e, por outro, a vitória apertada de Dilma no pleito, vitória essa obtida graças ao grande número de votos dos nordestinos, os quais sempre foram vistos com maus olhos pelos estados do Sudeste e do Sul do Brasil. Ainda sim isso não justifica o ódio duma parte da sociedade a um partido político como se ele fosse o culpado por todos os males do país, embora é preciso reconhecer sua parcela de culpa nos últimos escândalos de corrupção e na atual crise econômica. Isso no entanto não é motivo para tamanho ódio e radicalismo. O Brasil é um país democrático e é dever de todo cidadão respeitar o desejo da maioria por mais tenhamos a convicção de esteja errada; aliás, a convicção é na mais das vezes o que gera o ódio e a intolerância, pois o convicto está fechado a qualquer outro tipo de argumento. E usando uma afirmação de Nietzsche, a qual diz que “Convicções são inimigos da verdade mais perigosos que as mentiras”, é possível afirmar que as pessoas hoje em dia estão levando suas convicções às últimas consequências, achando que a verdade delas não só vale mais do que a verdade do outro como também é a única e exclusiva verdade. Daí esse mar de intolerância que vem ganhando força nas últimas décadas e o qual pode num futuro bem próximo provocar profundas divisões na sociedade brasileira. Talvez esteja na hora das pessoas fazer alguma coisa antes que seja tarde demais.