O diretor-executivo do Instituto de Contraterrorismo da Centro Interdisciplinar de Herzelyia e presidente da Academia Internacional de Contraterrorismo diz que o Ocidente não deve ter ilusões sobre a lógica dos combatentes islâmicos e deve achar o equilíbrio entre antiterrorismo e valores democráticos.
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Folha - A presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil está "muito longe" do foco de terroristas.
Boaz Ganor - Estou chocado. Não é apenas uma concepção errada, mas perigosa. O Brasil é vulnerável ao terrorismo de grupos jihadistas não menos do que Paris, ou até mais.
O fato de que esses atentados não aconteceram no Brasil até agora é porque as prioridades dos jihadistas, no momento, são outras.
Há risco de atentados n Olimpíada do Rio, em 2016?
Claro. O Brasil não faz parte da coalizão que está atacando as bases do Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Mas, quando representantes de EUA, França, Alemanha estiverem no Rio para a Olimpíada, tudo será diferente. Os atentados em Paris tinham como alvo também um jogo de futebol.
Eventos esportivos são ímãs para terroristas. Se a concepção for a de que o Brasil está seguro, temo um choque profundo.
O que ocorreu em Paris era esperado?
Sim e não. Não é uma surpresa que houve atentados. A França, nos últimos anos, se tornou uma incubadora de fundamentalistas. A surpresa foi modus operandi dos atentados. Até agora, havia o que chamo "ataques de iniciativa pessoal", cometidos por lobos solitários ou células pequenas inspiradas no EI.
Mas o que ocorreu em Paris foi um "atentado organizacional". O EI tomou a iniciativa, recrutou e treinou os terroristas, foi responsável pela confecção dos explosivos, a compra de armas, a coleta de informações. Essa é a novidade, um modus operandi que imita o da Al Qaeda.
Homenagens às vitimas dos atentados de Paris
Por que atacar a França?
O Ocidente pensa que os terroristas ou são malucos ou são totalmente racionais.
Errado. Eles são racionais, mas sua lógica é diferente da ocidental. Um dos motivos do atentado foi atuar contra países que estão atacando o EI no Iraque e na Síria.
Houve um atentado no Sinai contra o avião russo, em Beirute contra o Hizbullah, e em Paris. O Estado Islâmico quer passar uma mensagem de dissuasão contra quem atua contra eles, a coalizão iraniana-xiita-russa e a americana-europeia-ocidental.
A segunda explicação está mais no plano psicológico. O EI precisa demonstrar sucessos perante seus seguidores e crentes para continuar recrutando-os. Como, nos últimos meses, não registram sucessos militares, precisam realizar atentados desse tipo.
O que a Europa deve fazer?
Entender a lógica dos terroristas. A maioria absoluta dos muçulmanos não apoia o terrorismo. Mas não se pode ignorar o fato de que há um aspecto religioso profundo na base do fenômeno. Você pode lidar com isso pelo apaziguamento, mas estará pondo a cabeça dentro da terra.