Diferentemente do que a presidenta Dilma vem pregando, o processo de impeachment contra ela não é um golpe porque está na Constituição e foi respaldado pelo STF, o qual definiu no final de 2015 as regras a ser seguida tanto pela Câmara dos Deputados quanto pelo Senado Federal. Portanto, trata-se de um processo legítimo. Até aí tudo bem. Por outro lado, é preciso reconhecer que este mesmo processo é uma vergonha para o país. E por mais que se alegue que a presidenta Dilma não tem condições de continuar comandando a nação por ter perdido toda a legitimidade, ainda sim isso não justifica o seu afastamento, até porque a Constituição diz nada sobre isso. Mas como o impeachment é um processo político e portanto uma disputa de forças antagônicas pelo poder, quem tem mais força política vence. De forma que é previsível, dadas as condições atuais, não só o afastamento temporário da Dilma como a sua perda de mandato a ser votada pelo Senado após a conclusão do processo. Por mais que ela não tenha cometido crime algum, ela está sendo cassada por outras razões. E dentre as quais podemos citar: ser membro do PT, partido esse envolvido no “mensalão” e “petrolão” e odiado pela elite brasileira; por não ter sido capaz de evitar a grave crise econômica pela qual o Brasil está passando; por não ter tino político e não manter um diálogo amplo e claro com o Congresso; por ignorar certos setores da sociedade civil; por ser mulher; por apoiar os regimes cubano e venezuelano; entre outros fatores. E como essas razões não justificam o impeachment, seus opositores estão usando a desculpa das pedaladas fiscais para tirá-la do poder. Mas a questão não é essa, até porque o afastamento da Presidenta Dilma é fato consumado. Os 13 anos e meio do PT no poder está chegando ao fim. O que mancha todo o processo e transformará Dilma em vítima de um complô e um golpe são os parlamentares que encabeçam esse processo. Com raras exceções, a maioria daqueles que tornaram o processo possível não tem a menor legitimidade para isso. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, quem aceitou o pedido, está atolado até o pescoço no mar de lama da Lava a Jato. O mesmo vale para a metade daqueles que aprovaram o relatório na Comissão de Impeachment na Câmara, os quais também estão envolvidos em corrupção ou respondem por outros crimes. Dezenas de deputados que voltam pelo “sim” na aprovação da admissibilidade do processo no Plenário da Câmara respondem processos de corrupção ou estão sob investigação. No Senado, onde o processo ocorrerá de fato, a coisa não é diferente. A comissão eleita para analisar o processo tem vários senadores respondendo por corrupção; inclusive o relator do processo, o senador Anastasia do PSDB. Aliás, o próprio Romero Jucá, líder do PMDB, partido que vem patrocinando o afastamento da Dilma para assumir o poder com Michel Temer, foi denunciado pelo STF e responde pelo seu envolvimento na Lava a Jato. São tantos agindo por interesses particulares, muitos para desviarem o foco das investigações sobre si, que chamar o impeachment de golpe não parece tão absurdo assim. Se for ver a coisa por esse lado, Dilma tem um quê de razão. Afinal, que país é esse onde uma presidenta, que não responde por crime algum na justiça, é cassada por parlamentares cujo nome é mais sujo que pau de galinheiro? Um país minúsculo e insignificante da África? Não, meus amigos. Este país se chama Brasil.