É difícil prever o que será um governo que não foi eleito e não teve tempo de apresentar seu plano, como normalmente ocorre durante o processo eleitoral. Contudo, dada as indicações dos últimos dias, já dá para se ter uma noção do que poderá sair desse governo, o qual se inicia no momento em Dilma foi afastada. E como já foram feito alguns anúncios e apresentados a maioria dos ministros, podemos dizer que o país vai passar por um duro e doloroso, embora necessário, processo de ajuste fiscal. Ainda não é possível saber quais medidas serão tomadas, mas não há dúvida de que haverá, pelo menos num primeiro momento, aumento do desemprego e corte de direitos trabalhistas e benefícios sociais. Nesse ponto, muita gente vai sentir saudades do governo Dilma. Também haverá um enxugamento da máquina administrativa e uma redução drástica na interferência do Estado na economia. Muito provavelmente os subsídios serão cortados gradualmente e não serão concedidos outros. Até porque o Estado está praticamente falido e não tem mais como bancá-los. Aliás, a política de subsídios foi o maior erro do governo do PT, levando o país à situação caótica em que se encontra hoje. O governo Temer também promete uma profunda reforma política, reforma essa prometida há vários governos, mas nunca feita. Dilma até tentou emplacá-la no último ano, mas o Congresso minou-a. E embora Temer tenha uma grande apoio, pelo menos na teoria, apoio este capaz de fazer alterações constitucionais, a reforma política esbarra nos interesses de cada parlamentar. E não é novidade para ninguém que, no parlamento brasileiro, tais interesses sobressaem aos interesses dos eleitores, da sociedade e do país. Não há um comprometimento do eleito com o eleitor. A agenda progressista, com foco nas minorias e marginalizados e na promoção da igualdade social, também deve ser profundamente afetada. Não há dúvida de que este governo, que se inicia neste dia 12 de maio, não só é bem menos sensível a essa minoria como até se opõe às algumas de suas reivindicações. Apesar de ainda não ter feito nenhum movimento que indique um retrocesso nessa área, o fato de mulheres não terem sido nomeadas para o primeiro escalão do governo é um forte um indicativo do que está por vir. Aliás, os movimentos sociais poderão passar por momentos difíceis, até porque foram eles os que mais lutaram contra o impeachment da Presidente Dilma. Se nos últimos 13 anos o Brasil, assim como toda a América Latina, deu uma guinada para a esquerda, agora, com o fim do governo petista, ele virou em sentido contrário; aliás como ocorre na América Latina atualmente, a qual caminha a passos largos para a direita. É bem possível que essa guinada à direita não só aprofundará nos próximos anos como poderá durar uma década ou mais.