Às vezes, num momento de profunda reflexão, deparamos com dilemas cujas respostas transcendem o nosso conhecimento, o que nos deixa de mãos atadas. Pois, por mais que recorremos à razão, ela não é capaz de auxiliar-nos, por ser limitada. E por mais que a alimentamos de informações, ainda sim ela não pode extrapolar os limites do conhecimento, pois queiramos ou não, a razão está atada ao saber e um limita o outro. Que me perdoe Kant, mas assim como o conhecimento é fruto da experiência, a razão trilha os mesmos caminhos e colhe os mesmos frutos. Tudo que ela produz foi plantado no solo da experiência. Talvez, o que nos faz acreditar que a razão é diferente seja a intuição, essa espécie de conhecimento que parece um sexto sentido e a qual temos a impressão de ser hereditária, como se já nascêssemos com ela. Mas até a intuição é fruto de nossos erros e acertos, os quais vamos aprendendo desde o momento em que somos lançados ao mundo. A intuição apenas nos indica, por um tipo de experiência que não sabemos ao certo indicar, o caminho mais provável na direção do que buscamos. Ainda sim, não há prova de que o caminho escolhido tenha sido o melhor. Muitas vezes acreditamos que sim porque não nos damos ao trabalho de investigar a outra possibilidade, conformamo-nos com a escolha feita; outras, chegamos à conclusão de que esta não foi a melhor, mas seguimos adiante, porque nos custaria muito voltar atrás e recomeçar do zero. E assim damos mais crédito à intuição do que ela realmente merece. Kant, inconformado com as limitações humanas e com suas próprias, querendo provar a qualquer custo a existência de Deus, elevou a intuição ao mesmo nível da experiência. Não quero desmerecê-lo pelas suas descobertas, pois estas foram fundamentais para um novo entendimento do conhecimento; mas, assim como ele desmereceu Hume, é preciso reconhecer que Hume não estava tão errado como ele julgava. A brevidade da vida sempre foi o fator principal na limitação do conhecimento. Se o conhecimento avança hoje a passos largos, isso se deve principalmente ao fato de vivermos mais e consequentemente produzirmos mais conhecimento. E esse é um processo que vem se acelerando e continuará assim indefinidamente. No futuro encontraremos respostas para muitos dilemas que nos assolam hoje em dia, mas surgirão outros, depois outros e assim sucessivamente. Por mais que a humanidade evolua e avance no conhecimento, nunca encontrará respostas para todas as perguntas. Vamos desaparecer antes que isso aconteça.