Quando se lê “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley tem-se a impressão de tratar-se da mais pura ficção, de algo criado por um autor genial, cuja mente brilhante foi capaz de imaginar um mundo bizarro, onde as pessoas são produzidas em laboratório, sem relações afetivas e experiências individuais; onde a uniformidade e a produção em série é exercida em todas as áreas, inclusive na produção de seres humanos; onde Henry Ford é o grande Deus, daí o culto ao Fordismo; onde o condicionamento é levado às últimas consequências; e onde o prazer só pode ser obtido através de uma pílula (qualquer semelhança com o Viagra e sua versão feminina não é mera coincidência). A história se passa no ano 600 da Era Fordiana (por volta de 2500 do nosso calendário), mas parece bem atual. E por quê? Vejamos: não bastasse a perda de significado das relações de parentesco, pessoas são criadas em laboratório através da fertilização artificial, geradas inclusive em úteros de aluguel (sem um pai e uma mãe de fato), onde é possível não só escolher o sexo como as características do filho. Assim como no livro, estamos ficando alienados, indiferentes não só ao que se passa a nossa volta como com relação a tudo que nos diz respeito. As redes sociais estão nos condicionando, controlando nossas emoções, nossos gostos, dizendo-nos até como nos relacionar, transformando tudo numa curtida (talvez uns episódios de “Black Mirror”, série da Netflix, ajudaria a entender os perigos da tecnologia). Nunca, em toda a história da humanidade tivemos tanto acesso à informação e nunca fomos tão manipulados. Sentimentos, emoções e desejos estão se tornando coisa proibida, motivo de vergonha e sinal de fraqueza (protestos contra a nudez e o erotismo já começa a afetar o mundo artístico). “Liberdade”? Nunca está palavra esteve tão próxima da palavra “ilusão”, confundindo uma com a outra. Lutamos por direitos e igualdade, mas o que obtemos? A ilusão de tudo isso. O que conseguimos de fato é a padronização. Nossa liberdade está sempre dentre de certos limites, limites estes cada vez menores. Assim também é com a noção de igualdade. Temos a sensação de que com isso (igualdade) teremos mais direitos e poderemos obter mais coisas. Tudo ilusão. Estamos sendo apenas manipulados, modelados, nos tornando iguais e padronizados como em “Admirável Mundos Novo”. Hoje as pessoas veem o autoritarismo não como uma aberração, como algo a ser combatido com veemencia, mas como o salvador da pátria, como algo capaz de usar a força bruta, a disciplina para impor novas regras, para nos dizer o que é certo e o que é errado para determinar o que podemos ou não fazer. É isso que vem acontecendo em vários países, com o avanço da extrema-direita e de regimes autoritários; um movimento que parece ter chegado aqui Brasil também, o qual vem ganhando cada vez mais adeptos. Infelizmente estas pessoas nunca leram “Admirável Mundo Novo”, “1984” de George Orwell e não sabem nada dos horrores dos regimes totalitários como o Nazismo, Fascismo e Stalinismo soviético. O mundo criado por Huxley pode até parecer uma ficção, mas como muitas que acabam se confundindo realidade este “Mundo Novo” já não é tão novo assim. Todo aquele lado sombrio e assustador da obra Huxleyana já está bem diante de nossos olhos. Pena que eles foram condicionados para não enxergá-lo.