O fato de Lula ter sido preso não quer dizer que ele não seja um dos homens mais espertos e inteligente desse país. Parece até uma contradição chamá-lo de inteligente, uma vez que não tem estudos, mas a inteligência é inerente ao conhecimento. Lula, como nenhum outro político da segunda metade do século XX, soube manipular os acontecimentos a seu favor. E nenhum outro estadista dos últimos 70 anos teve uma habilidade tão grande de comunicação com as massas. Somente Getúlio Vargas pode ser comparado a Lula nesse ponto. E isso não é exagero. É inegável a importância de Lula na redemocratização do país ao liderar no final dos anos 70 a primeira greve desde o golpe de 1964. E quando ele foi preso em 1980, por liderar mais uma greve no ABC, sua prisão apenas fez com que ele se tornasse um líder nacional, pois ele soube como ninguém transformar isso num ato político de resistência, unindo povo e classe trabalhadora em torno de um único objetivo: liberdade de expressão. Ali o país passou a conhecer não só o sindicalista Lula mas um líder nato, capaz de mobilizar multidões e dialogar com o povo como ninguém. Sua trajetória é toda marcada por essa habilidade, a qual sempre se sobrepôs ao fato de ser oriundo de uma família humilde e de nunca ter tido uma educação à altura. Ele não se tornou presidente por acaso. Costurou sua chegada ao poder milimetricamente e de forma impecável. Pode-se odiá-lo o quanto for, mas nunca achá-lo um idiota ou alguém que não mereça consideração. Ele está muito acima da maioria dos políticos que aí estão, os quais não têm habilidade e nem inteligência suficiente para comandar esse país. Não, eu não estou querendo puxar o saco do Lula ou dizer que ele é inocente dos crimes pelos quais foi condenado. Se a justiça o julgou culpado não foi por acaso. Sua habilidade é excepcional. Ninguém, exceto ele, seria capaz de eleger um poste, alguém despreparado, sem habilidade política e que não estava a altura do cargo como ocorreu do Dilma (sem querer ofendê-la). E ninguém seria capaz de transformar sua prisão num espetáculo mais grandioso que a posse de sua sucessora. Lula coordenou de forma genial sua prisão. Cada passo foi meticulosamente planejado com o objetivo de transformá-lo num injustiçado, num herói, resgatando as injustiças sofridas por Tiradentes, Getúlio Vargas e JK; Lula, antes de se atirar às garras da PF, atirou-se aos braços de milhares de apoiadores. Até o último momento, quando a PF ameaçou invadir o Sindicato e prendê-lo, ele trouxe para si o protagonismo, visto apenas nos líderes natos, mas que infelizmente se deixou apanhar nas garras do jogo sujo, dos conchavos e do toma-lá-dá-cá da esdrúxula organização política brasileira, criada com a Constituição de 1988. Lula fez muito por este país e isto deve ser reconhecido. Negar tal fato é falta de neurônio. Mas não reconhecer seus erros também é falta de cérebro. E talvez o maior de todos os erros não tenha sido nem a eleição de Dilma, nem o mensalão do PT, nem a relação promíscua e suja com as empreiteiras, já que isso vinha de governos anteriores, nem a institucionalização dessa promiscuidade ocorrida em seu governo, mas a incapacidade de pôr fim a essa promiscuidade entre o público e privado. No fundo faltou a Lula habilidade e liderança para tirar o país desse círculo vicioso e corrupto como ele fizera no combate a pobreza. Agora ele paga o preço por isso. E apesar do grandioso show, não há espetáculo e grandiosidade capaz de eliminar essa enorme mancha no paletó de sua biografia.