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Erotico-->18. TRABALHO EFETIVO -- 24/09/2003 - 06:58 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Da mesma forma que recebeu com muita alegria a notícia de que poderia ser útil à comunidade, profissionalmente, Plínio também foi convidado a participar dos trabalhos do centro espírita, na condição de colaborador junto ao Departamento de Assistência Social. Trocando em miúdos, davam-lhe tarefas de operário, qualquer que fosse a necessidade do momento. Foi assim que começou por empilhar livros para a pulverização de inseticida na biblioteca. Em outra oportunidade, vestiram-no com um macacão desajeitado e deram-lhe uma brocha para a pintura de algumas paredes. Na cozinha, foram ensinando-lhe a cortar, descascar, picar e tirar caroços e sementes, mas impediram-no de temperar. Junto aos departamentos da contabilidade e da tesouraria, apenas deu palpites, porque os dois amigos tomavam conta de tudo. Iria demorar para ser chamado aos estudos na qualidade de membro efetivo de alguma turma, mas também por lá acabou passando, apesar de não ser muito bom para a leitura e interpretação dos textos.

Chegamos aonde queríamos, ou seja, informar que os livros da codificação não avançavam à sua frente. Quando muito, “O Evangelho Segundo o Espiritismo” ia sendo lido um pouco em casa, um pouco com o grupo, mas não de forma sistemática. “O Livro dos Médiuns” iria ficar a menos de um quarto. “O Livro dos Espíritos” chegará ao fim um pouco antes do desfecho da narrativa. “O Céu e o Inferno Segundo o Espiritismo” foi o que mais de perto lhe falou à sensibilidade, principalmente quanto aos depoimentos e mensagens mediúnicas. “A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo” resumiram-se às pesquisas a respeito das passagens dos evangelhos para entendimento das explicações doutrinárias. E só.

Essas dificuldades era natural darem aos dirigentes das sessões mediúnicas a idéia de que poderia haver inata tendência para a captação das vibrações provindas do campo espiritual. Colocado, porém, em turma de desenvolvimento da mediunidade psicofônica, embatucou, porque se preocupava demasiado com o desempenho alheio, sempre curioso de constatar a veracidade dos acontecimentos referidos pelos espíritos.

Em conversa franca com Ariovaldo, Plínio desembuchou:

— Doutor, estou muito mais para a materialidade do que para a espiritualidade. Sei que devo progredir, caso contrário, ao desencarnar, vou passar longa temporada no Umbral, conforme tenho ouvido os palestrantes dizerem. Se não for importante o serviço braçal que tenho prestado, vou sofrer até entender o objetivo do segundo ensinamento, ou seja, o de que devemos instruir-nos.

Ariovaldo admirava-se de que o interlocutor se manifestasse com tanta precisão, fluência e clareza, enquanto se dizia incapaz de algo mais sério no âmbito dos estudos. Não desejando desdizer o amigo, contornou o problema:

— Vejo que você entendeu perfeitamente a necessidade do conhecimento superior dos fenômenos materiais e espirituais, segundo as explicações de Kardec. Isso está mais que evidente. Se não se trata de puro receio de equivocar-se, ou melhor, se não for um bloqueio mental provocado por íntimas desconfianças de que existe muita falsidade nas atividades do centro, quer no campo da assistência aos carentes, quer no da doutrinação dos espíritos inferiores, o seu problema se resolverá a qualquer momento, quando obtiver sucesso no contatar o plano espiritual. Pode parecer absurdo o que vou dizer, mas sugiro que se ofereça para a escrita mediúnica.

— Tenho lido o que os outros escrevem e não acho que vou sequer fazer algo parecido.

— Não lhe peço para que escreva. Peço para que tente. Tudo o que lhe brotar no pensamento, seja o que for, escreva.

— Mas eu tenho ouvido freqüentemente que o principal é o cuidado com a intenção dos maldosos...

— Isso você vai ter de confiar aos mais experientes. Se eles disserem que a sua mensagem se trata de tentativa de enganar, de perverter, vai dar ensejo a algumas boas discussões.

— Será que vamos conseguir classificar o grau de adiantamento do espírito, como está em “O Céu e o Inferno”?

— Talvez essa não seja a parte mais importante. Mas você deve concordar comigo que a sua primeira reação foi a de aceitar tacitamente que a mensagem não foi de sua lavra. Não é isso sinal de que concebe a possibilidade do trabalho?

Na próxima reunião, advertido por Ariovaldo, o dirigente da sessão admitiu Plínio na condição de escrevente, destinando-lhe uma mesa à parte, melhor iluminada, onde se dispôs a receber as notícias dos amigos trazidos pelos guias do centro.

A primeira página que escreveu veio com o selo da assinatura do “Mestre Evaristo”, personagem desconhecida, que Plínio atribuiu a um nome de rua, porque jamais lidara com alguém que assim se chamasse. Dizia:

“Graças a Deus! Aqui estou com a incumbência de informar que estou muito bem. Graças a Deus! Vocês podem dizer aos meus familiares que devem parar de chorar? Eles estão me perturbando a recuperação do abalo da morte. Quando as pessoas sofrem na Terra, os espíritos sofrem no espaço. Tenham piedade de mim, por favor! Um abraço amigo, em nome de Jesus! — Mestre Evaristo.”

Plínio escreveu o texto muito depressa, não querendo pensar sobre as idéias que lhe surgiam aos borbotões, para não dar uma seqüência sua. Mas impressionou-se deveras com a solicitação de levar aos familiares aquela notícia auspiciosa e aquela recomendação bastante lógica e coerente com os ensinos que vinha recebendo. Sendo assim, empolgou-se com o trabalho realizado, bloqueando outras possíveis manifestações.

Em dado momento da reunião, o orientador, vendo-o com a pena em suspenso, chamou-lhe a atenção:

— “Seu” Plínio, continue escrevendo, por favor!

Imediatamente, pôs-se a redigir outra mensagem que teve o seguinte teor:

“Graças a Deus! O irmãozinho que está pegando o meu ditado deve esforçar-se mais para prestar atenção aos pensamentos que lhe estão sendo transmitidos pelos que desejam escrever. Lembre-se do Chico Xavier. Se ele não se dedicasse a transcrever o que lhe vinha à mente ou à mão, quantos livros ficariam para sempre desconhecidos dos encarnados. Agora que está velho, está na hora de outros médiuns buscarem desenvolver-se, para dar prosseguimento à obra dos espíritos comandados por ‘Emmanuel’. Pense muito nisso, querido confrade. Que as bênçãos de Jesus nos cubram de paz e bem-aventurança! — João Evangelista.”

Plínio quase não escreveu o nome sagrado que se atribuía a entidade. Mas, lembrando-se do que lhe dissera Ariovaldo, atreveu-se a registrá-lo, na esperança de que os companheiros soubessem como resolver o problema.

Ao término da sessão, após a prece de encerramento, Plínio foi convidado a ler as duas páginas. Tremeu bastante mas conseguiu ir até o fim do primeiro texto.

Foi um alvoroço. Discutiram-se a autenticidade do nome e a verossimilhança das informações. Ninguém conhecia o tal de “Evaristo” mas deram crédito ao conteúdo, mesmo porque, muito recentemente, justo aquele tópico do choro a prejudicar os mortos fora motivo de uma conferência. Depois de muitas idas e vindas, resolveram que a mensagem deveria ocupar um lugarzinho no quadro de avisos, quem sabe a despertar a parentela de alguém com aquele nome. Ninguém se apresentando, pelo menos a parte doutrinária não havia sido transgredida.

Se havia Plínio tremido antes, ao ser solicitado para a leitura da segunda mensagem, empalideceu. Mas teve suficiente sangue-frio para solicitar o testemunho do orientador para o fato de que fora ele quem o incitara a voltar a escrever. Aí leu o texto, omitindo o nome do mensageiro. Não pôde negar que havia um nome, mas exigiu:

— Só digo quem escreveu depois que me disserem se o texto presta.

Houve tumulto, educado, silencioso, polido e sentencioso, mas os corações se apertaram com temores de obsessor à vista.

O orientador, percebendo o movimento desusado entre os colegas, impôs certa ordem aos raciocínios, conforme imaginou quais seriam as objeções e as qualidades reconhecidas no texto:

— Ninguém nega que o grande médium mineiro, o nosso Francisco Cândido Xavier, esteja velho... Ninguém nega que o serviço prestado por ele ao Espiritismo foi de grande relevância... Ninguém nega que tal serviço merece prosseguir para benefício da humanidade... Ninguém nega que existe um pensamento norteador da mensagem, dando-lhe contextura quanto aos raciocínios... Ninguém nega que a linguagem não cede à vulgaridade, embora também não se apresente literária, talvez por ser a peça excessivamente curta... Ninguém nega que a chamada de atenção do médium corresponde exatamente ao fato de eu lhe haver pedido para dar passividade... Ninguém nega que o espírito que se comunicou não hesitou em utilizar-se do nome sacratíssimo do senhor, demonstrando que não teve medo de ofendê-lo...

À medida que o instrutor ia desfiando as razões, o povo ao derredor da mesa ia acalmando-se, orientando os próprios pensamentos pelas razões aventadas.

— Alguém deseja acrescentar mais alguma coisa?

Um dos presentes, lembrando-se da condição de novato de Plínio, foi taxativo:

— Acho que todos nós concordamos que o texto, apesar de curto, está suficientemente bem redigido e que podemos dizer, sem reservas, que presta. Eu mesmo, contudo, não vejo nada de excepcional no conteúdo e me resguardo quanto à sugestão declarada de que o nosso amigo escrevente venha a ser o tal substituto do Chico. Particularmente, eu acho que haverá muitos, porque a sua riqueza medianímica vai ser difícil de ser encontrada num só médium.

Aí, se houvesse tempo, iriam ficar debatendo por mais de hora. Mas, olhando para o relógio, o dirigente da sessão pediu que Plínio declinasse o nome do mensageiro, criando-se forte expectativa.

— Antes de lhes dizer qual o nome que me ditaram, devo revelar que estas são as minhas primeiras peças consideradas mediúnicas e que seria extrema pretensão da minha parte imaginar e muito menos informar por escrito que sou eu aquele que irá ocupar o lugar do mais perfeito médium conhecido. Quanto ao nome, eu não queria escrever, sendo o primeiro a rejeitá-lo, a não ser que me digam o contrário. Trata-se de “João Evangelista”.

Silêncio absoluto. Saldanha e demais espíritos presentes divertiam-se com as reações de cautela dos encarnados. Todavia, coube ao doutrinador encerrar o assunto:

— Vamos fazer de conta que tenha sido a grande personalidade do discípulo mais amado por Jesus quem tenha comparecido para nos oferecer esses conhecimentos. O que cada um deve trazer pronto para a próxima semana, como dever de casa, é se a preocupação com o trabalho mediúnico estaria nas cogitações de espírito de tamanha luz. Quanto a você, Plínio, não se entusiasme muito e aguarde com paciência o desfecho de nossas meditações.

Aquela iria ser uma semana de muita ansiedade para o nosso herói.

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