"(...)Fazia três longos dias que não se viam, mas nesse instante lá finalmente estava o corpo todo e nu a esperar. De bruços na cama, parecia dormir. Segurando a taça de champanhe, Magda derrubou no seu interior uma dose de cocaína que, misturada à bebida, fez aumentar a efervescência. Depois de beber um trago, chegou-se até a borda da cama e ficou a observar: a luz caprichosa e pouca iluminando em vários tons de intensidade o corpo quase imóvel e acafetado. Marrom mais claro no traseiro arrebitado, preto intenso no meio das costas, café no braço sólido em cujo extremo dois dedos da mão direita brincavam de perninhas caminhantes pelo chão. “Devia estar jogando futebol.” Sim, ele estava aguardando, inocente e provocador. Magda tirou a pouca roupa restante após os preâmbulos eróticos que a deixaram no limite exato da excitação e cuja secreção já umidificara até os lábios da vulva. Agora nua, subiu na cama. A partir dos pés dele, de joelhos abertos foi chegando até encaixar o traseiro entre suas pernas. Num forte aperto, sentiu o útero se expandir e, meneando os quadris, esfregou-se nele, criando ondas elétricas prontas a desabar em centelhas sobre ele. Suas longas unhas arranharam de leve a nuca, os ombros, desceram pelas costas, chegaram nas coxas, agarraram o traseiro."
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Fragmento de capítulo do romance de Miguel Angel Fernandez "A CENA MUDA"
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