"(...) O futuro da Europa está escrito na Alemanha, na tête d Adolf Hitler! Berram alguns meus convidados, nem tão bêbados assim. Será que o bufo-Mussolini e seus admiradores ainda irão se curvar? Veremos. Seu discurso nacionalista lembra o de muitos no nosso Brasil, n est-ce pas? Convenhamos, mon ami, você duvidaria das intenções de alguém que escreve algo como (o livro aqui do meu lado é de um italianinho, amigo do primo.): Quem quer que deseje a vitória da concepção pacifista deve, portanto, devotar-se à conquista do mundo pelos alemães ? E por aí vai, no seu livrinho, Mein Kampf (Minha Luta! A dele). E olha, ele escreveu isso há mais de quatro anos! Não vão dizer depois que não sabiam!
Estou cansado, meu caro. Meu pessimismo está mais que nunca palpitante. Antônio e séquito fazem de tudo para levantar minha pauvre tête bercée par l insomnie. Ainda bem, pelo menos é divertido. Só sei que dos deuses celestes, Eros, o mais belo entre os deuses imortais - e meu predileto - deverá esforçar-se muito para vencer Thânatos e seus asseclas na Alemanha.
Enfim, meu querido Lauro, sei que você não é muito chegado à política, nem eu. Mas se manter informado é forte arma defensiva contra os goim, arianos principalmente, como dizia um circuncidado amigo meu, rebolando o tochis.
Falaremos sobre tudo isto quando estivermos juntos na capital de Piratininga! C est la fin du discours!
Maldito da parreira o néctar que excita,
Maldita a tentação, o amor, a incontinência,
Maldita a Esperança, e a Crença maldita!
Maldita antes de tudo é toda a Paciência.
(...) (Lauro não podia saber que, semanas antes, em Nice, o local onde Fausto se encontrava escrevendo esta carta, estava pouco iluminado. Talvez por isso seu primo, Antônio, não o tivesse visto quando entrou acompanhado pelo italiano, ambos amulatados pelo sol do Mediterrâneo e vestindo roupas de praia. Assim que o italiano fechou a porta, Antônio virou-se imediatamente e amassou os lábios do outro num prolongado e furioso beijo, enquanto as mãos apertavam e acariciavam o volume crescente dentro do maiô. Ainda preso à sua boca, desnudou-lhe o membro teso sufocado dentro dele. O italiano retirou a boca como sufocado também. Sem trégua, Antônio ajoelhou-se e abocanhou o pênis.; manipulando o seu com uma mão, agarrou o traseiro do outro com a outra, apertando e afagando-o. Fausto, imóvel, com a caneta no ar, observava a performance do fogoso primo, cuja indiscrição e coragem para essas lides sempre o surpreenderam, às vezes o constrangiam. Com destaque, quando de cabeça limpa .; como era o caso nesse momento. Antônio abaixara por sua vez o maiô e agora expunha ao italiano o branco dorso destacando sua bunda de tanajura. Alguns grãos de areia de praia retidos na roupa espalharam-se pelo chão. O italiano, intensamente excitado, lubrificou com saliva o membro e após rápida esfregada, em segunda tentativa conseguiu enfiá-lo. Premidos pelo desejo, logo gozaram quase simultaneamente. A seguir, o italiano jogou-se no sofá mais perto e Antônio refestelou-se a seu lado. Só nesse instante é que perceberam Fausto no canto do cômodo.
- O silêncio típico de oportunista voyeur, né, primo Fausto?
- Mãos e pés, certamente, e a cabeça e as nádegas são todos teus...
Mas o alojamento é meu. Tua cabana não fica tão longe daqui.
- Mal deu para agüentar. Certo, caro? Como ia saber que estas praias eram assim... tão excitantes?
- E um mare tutto fresco d azzurro. Ragazzi, questo giorno non tornerà mai...
- Um giorno chi non tornerà mai. O romano poetinha tem razão. Melhor aproveitar a satisfação dos desejos que a vida oferece, vero ? Desejas ver mais, primo voyeur?
- Preciso terminar esta carta.
- Para o Brasil? Vejo que a luta continua. Tua paciência não tem limites. Desiste, primo.
- É mein kampf. A tua está aqui, pode pegar - arremessando com raiva o livro que o italiano pega no ar.
- Eh! Cosa fare! Il libro é mio, fello!
- Fello, io? Sei tu che sei un segretario fellone!
Antônio gargalhou alto e deu de leve um tabefe na cara do secretário traidor ".
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Fragmento do capítulo: "LIVRARIA TEIXEIRA. / ÍRIS E DIAFRAGMA PROMETEM FITAS SONORAS. / GETÚLIO MANDA E JOÃO ALBERTO OBEDECE. / PAULISTAS DETESTAM A IDÉIA."
Do romance de Miguel Angel Fernandez "A CENA MUDA"
http://br.geocities.com/mangel_arlt