"Magda oferece cálice de champanhe a Jandira, que o pega sem ver, cativada pelos seios nus na sua frente. Depois, sem Jandira perceber, Magda enche a sua, observando o pó branco diluir-se no frisante da bebida, a seguir bebe longo trago e deposita a taça sobre o criado mudo. Depois encosta o corpo por trás de Jandira e no abraço desabotoa-lhe a frente da blusa. Saboreando com lentura o momento, beija-a na nuca, provocando em Jandira arrepios que sempre sentia com duas coisas neste mundo: champanhe e a boca úmida de Magda. Fecha os olhos pressentindo o que vinha em seguida: as mãos dela nos seus peitos, libertando-os carinhosamente do sutiã, apertando e arranhando de leve os mamilos. Sem ver a outra bebericando atrás dela, vira-se preparada para beijar, e, ao fazê-lo, surpreende-se sentindo vir da boca de Magda o líquido agridoce entrando na sua. Engole e mordisca a língua inquieta dentro de sua boca. Os mamilos de ambas estão endurecidos, entretanto, é Jandira lambendo os da outra, brincando de morder, ao sugá-los. Ela ama aqueles seios brancos mais que aos seus.
- Cet amour. Cet amour qui faisait peur aux autres - Magda murmura e Jandira gosta, mesmo sem entender direito. Sabe que é amor. E com amor vai descendo pelo corpo, beijando e lambendo até o umbigo perfumado, brinca de penetrá-lo com a língua, Magda gosta disso, lhe faz rir e rindo se joga na cama de pernas abertas, descansando os pés nos ombros de Jandira, que, entre elas, se assusta com o que a boca sente debaixo da calcinha.; olhando Magda e seu sorriso encantador, começa a adivinhar: sem pressa, quase num afago, vai tirando a calcinha preta, beijando o que vai desnudando, até encontrar o colar de pérolas emaranhado nos pêlos.; com os dentes, vai resgatando-o pérola a pérola. Ao retirá-lo de vez, ouve a voz profunda, séria, amorosa: "Feliz aniversário, Jandira, ma petite". Após colocar o colar no pescoço e de um gole esvaziar a taça de Magda, Jandira acaba de lhe tirar a calcinha. Engasga um emocionado "obrigada, Magda, por mais este presente" e mergulha entre suas pernas, regando com saliva e lágrimas de gratidão aquilo que também é seu.
Na sala, quase pronto, ele espera. Ver no que vai dar essa idéia de Sinhá trazer a outra para eles brincar. Festa de aniversário! Mulher despachada, Sinhá. Muito pra um negro só? Tamanhão desses com medo de duas? Crioulo mais abrumado, este! Duas mulher trepando é troço nunca visto. Sabe sim. Mas ver de ver, nunca. Duas assanhada seria bom de ver juntas. Sente o picaçu acordar com a imagem, retomar seu espaço entre as pernas e levantar-se, pronto para qualquer entrevero. Ele também fica de pé e dá-lhe leve apertão no cabeçote do danado. Satisfação passa pelo corpo todo. Tira as calças que atrapalham e sufocam o andor vertiginoso para frente, para cima, procurando alimento, igual cobra atrás de greta. Cego, quente, duro e surdo não dá trela nem se importa com nada, obsessivo, toma conta dos pensamentos do homem, tenta alcançar a barriga, sem conseguir, fica apontando o caminho do homem. Obediente ao tirano, seguindo-o, vai atrás.; juntos dirigem-se à porta do quarto. Duas cabeças, uma intenção. E um verso de Sinhá numa delas: África no sangue / e no corpo coberto de pele / acafetada e perfumada . - Quer mais agrado, negro presunçoso? - Quer não. Assim tá bão. Feliz aniversário para a china, então. E para São Paulo também!"
Fragmento de capítulo do romance de Miguel Angel Fernandez "A CENA MUDA"
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