Mário e Maria passeavam agarradinhos e de mãos dadas pelo parque abundantemente arborizado. Hormônios saindo até pelas cutículas, a lubricidade de Mário parecia desconhecer limites, avizinhando-se do exacerbamento à medida que os taizinhos, mui ladinos, se embrenhavam nos recônditos daquele quase matagal, por sob as copas frondosas do arvoredo sombrio. À beira do paroxismo, o amante tresloucado já não se continha de paixão e ensaiava uma daquelas declarações irrecusáveis, quando, bruscamente, se vê interrompido pela doce e melodiosa voz da bem-amada: "Espero que não se aborreça, amor, estou apertadíssima. Quero fazer xixi."
Mesmo espantado com o pedido, e bem naquele instante em que o romantismo já irreversivelmente se deixava fortemente vergastar pelos ditos cujos lancinantes aguilhões da carne, Mário aquiesce: "Tudo bem, Maria, vá até ali, esconda-se atrás daqueles arbustos."
Ei-la que desaparece, então, por entre macegas, touceiras e lianas, não deixando entrever mais que vislumbres de seu vulto esbelto. Foram átimos de instante que, para o pobre Mário, se assemelhavam a uma eternidade. Nervoso, cada vez mais possuído pela luxúria, ei-lo a espreitar o som da calcinha que desliza pelas desejadas coxas bem fornidas. Imagina tudo aquilo, ali, tão pertinho, à mão, quando já o suave gorgolejo do xixi da amada ecoa qual um regato prazenteiro no silêncio brumoso do parque ensombrecido, levando-o ao delírio.
Incapaz de continência, inexoravelmente entregue a seus instintos mais animais, Mário introduz o braço por entre as macegas, arbustos, lianas, arranhando-se de leve nas espinhentas touceiras de joá bravo, e toca a batata da perna daquela que vertia. Com suavidade, esgueiram-se as mãos patelas acima, mais e mais, mais e mais, em frenesi sandeu, até que, horrorizado, relam em algo comprido, quente e grosso, ali, no entrepernas da amada. Tomado de súbito pânico incontido, o pobre a inquire: "Maria, por Deus, você mudou de sexo?" E ela, voz meio espremida, mas já um tanto aliviada: "Não, Mário, mudei de idéia."
