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Erotico-->28. ...E DEUS DISPÕE -- 26/12/2003 - 09:06 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando comecei a escrever as minhas “memórias”, tive a intuição de que não iriam terminar bem, porque as lembranças de final de vida só podem conduzir ao derradeiro texto, o da despedida. Mas enfrentei esse desafio, cônscio de que tanta fé, tanta esperança e tanta caridade se intercalariam nos conceitos que implementaria, que a última página seria de extrema felicidade perante o desenlace honroso de uma vida coroada de muito sacrifício destinado ao bem, pela benemerência que dedicava aos semelhantes.

Graças a Deus, está sendo algo bastante próximo disso, apesar de me haver desviado do objetivo original, terminando por anular quase os desígnios de repensar certos pontos do espiritismo aplicado à vida prática de alguém que se dedicou com muito afinco ao movimento kardecista de caráter oficial.

Por que voltei?

Estou em tratamento químico, três anos após a “mensagem” anterior, agora que Osmar se tornou o principezinho da casa, tiranete de nossos corações mais de avós do que de pais, a suspirar pelas facécias inteligentes e pelas tiradas oportunas de cada instante de alegria, nesta avalanche de aprendizado que sói dignificar a infância das criaturas bem dotadas, principalmente porque profundamente amadas.

Cresceu-me um tumor no estômago, que extraí em cirurgia considerada indispensável, cujo exame se configurou o pior possível para a minha perspectiva de vida. A tristeza que sinto neste instante não é por mim mesmo, que sempre acreditei que algo assim ocorreria uma hora ou outra, porque ninguém, ao que me consta, tenha ficado para semente. A tristeza é por Maria e também por Osmar, porque, não tendo sido prognosticado um tempo de vida superior a seis meses, irá esquecer-se de seu pai de empréstimo, nem que lhe deixe meu álbum de fotografias ou alguns vídeos dos tempos em que me apresentava mais robusto.

Por isso, lembrei-me deste caderno e dos desenvolvimentos íntimos de minha consciência de pessoa, ou melhor, de ser humano, de alguém de carne e osso e com sangue nas veias, embora o mais que tenha registrado são vapores, névoas ou neblinas de pensamentos extremamente sutis quanto ao seu valor (dúbio valor) reflexivo ou as considerações nem sempre gentis a respeito das pessoas que comigo conviveram nestes meus sessenta e poucos anos de idade.

Por outro lado, se aspirar a que meu filho leia estas composições, deverei pedir a Maria que as resguarde dos cupins e outros insetos devoradores de papel e de idéias, deixando consignado em meu testamento (isto aqui só vale como força de expressão) que deverá custear uma edição particular de uns quinhentos exemplares, deixando alguns reservados numa caixa bancária, com a recomendação inequívoca de que somente o meu Osmar possa abri-la, após os vinte e um anos de idade.

Não sei se por fraqueza da doença ou do tratamento, ou porque tenho “guardado o leito”, o que me torna um ser absolutamente translúcido, ainda mais porque os meus alimentos não passam de umas gosmas e uns líquidos sem gosto e sem prazer, vou salpicando um pouco de tempero nestas linhas que se prenunciam amargas para o meu querido leitorzinho.

Mas eu quero vê-lo homem de espírito arguto, capaz de entender os mistérios da existência que consignei nestas páginas. E quando digo que quero vê-lo (em negrito, por favor), estou aspirando a uma estadia bastante razoável de paz e tranqüilidade no etéreo, até a idade a que me referi, o que não significa que, se puder, não me mantenha ao lado dele e de Maria, se esta aceitar-me como “protetor”, e não estabelecer que eu não passe de “obsessor”, que é como a maioria dos defuntos maridos deve parecer às viúvas mais fáceis de consolar.


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Eu não queria ter interrompido, mas obrigou-me um desfalecimento, com certeza originado no esforço que apliquei naquele arranque que representou um longo texto e que agora nem tenho mais capacidade de reler e muito menos de corrigir. Vou recomendar os serviços de um copydeskista letrado, para ajeitar o que não me for possível deixar bem redigido neste final.

Neste meio tempo, Maria leu o pequeno volume que resultará da impressão dos textos e me trouxe algumas considerações de muita perspicácia editorial.

Antes, porém, de referir quais pontos foram por ela tocados, devo mencionar que senti extraordinário prazer em que alguém além de mim haja vasculhado as minhas memórias. Tempo houve em que pensava que haveria uma verdadeira invasão de privacidade (um viva ao anglicismo vitando!), se os meus escritos caíssem em mãos quaisquer que não me respeitassem os sentimentos. Agora, estou até considerando muito bom que caiam sob as vistas de rigorosos críticos, que saibam realizar um juízo de valor ponderado, segundo todos os pontos de vistas, porque, uma vez levado para junto de meus ancestrais (valha-me ainda uma vez o eufemismo), terei com certeza discernimento para saber quanta verdade existirá nas observações e como poderei extrair delas ensinamentos úteis para o meu adiantamento espiritual.

Não fosse pela debilidade corpórea, não estaria volvendo a este plano de realizações puramente mentais. Então, devo agradecer ao Senhor estar ainda dominando o meu cérebro, o que pretendo aproveitar enquanto houver luz nos meus olhos suficiente para redigir sobre alguns tópicos que julgar relevantes.


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A primeira sugestão de Maria foi quanto a deixar tudo como está, muito embora haja sublinhado muitas passagens para as quais se declarou incapacitada de julgamento e de compreensão. Atribuiu-se a falha e me isentou de culpa. Boa mulher!

Também desejou manifestar a opinião de que os gastos com uma edição particular iriam incidir na retirada de parte da poupança destinada à educação de Osmar, já que (com os olhos marejados foi que prosseguiu) a pensão que receberia não corresponderia ao que venho ganhando atualmente. Para não me desrespeitar a vontade, afiançou-me que tomaria duas providências sérias e conducentes a manter a minha vontade intocada. Iria mandar digitar tudo, imprimindo alguns volumes e encadernando-os, ao mesmo tempo que resguardaria o arquivo em cópias através de disquetes e, se possível, em CD. Por outro lado, contataria os editores que eu relacionasse e outros que lhe fossem indicados mais tarde, até exaurir as possibilidades de editoração, distribuição e venda a granel ou a varejo de uma impressão ainda que não muito grande (falou em três mil exemplares).


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Não me vejo em condições de abrir novos “capítulos”.; por isso devo preparar uma página que será a última, em que pretendo expressar ao Senhor o meu agradecimento pela existência, levando um preito de gratidão a Jesus, um abraço afetuoso a Kardec, e um aperto de mão a todos os meus amigos desta e da outra esfera.

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