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Erotico-->12. REBELIÃO -- 08/01/2004 - 08:35 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Felícia passou fácil pelas quatro operações aritméticas. Realizou a prova dos noves, chegou ao mínimo múltiplo comum, entendeu o máximo divisor comum, chegou aos números primos, decifrou até o esquema da raiz quadrada e enveredou pela álgebra, tentando resolver as equações de primeiro grau. Mas não conseguia relacionar com a necessidade de praticar o bem, mesmo que envidasse esforços para transformar a abstração numérica em gênero humano, relacionando os algarismos com as pessoas. O xis e o ípsilon das notações algébricas, no entanto, eram, necessariamente, configurados como números, para os quais não atinava qualquer aproximação com seres etéreos ou encarnados.

— As pobres crianças, nas escolas, caro Tomás, devem sofrer horrores com estas contas totalmente desprovidas de sentido.

— No entanto, Felícia, prezada amiga, os currículos vão sendo ministrados com sucesso, quando existe um mínimo de inteligência, caso em que não se encontra você, capaz de desenvolvimentos teóricos de expressivos méritos, no que respeita ao entendimento da moralidade.

— Você acha que levarei muito tempo para aprender a lidar com os... — fez força para designar os símbolos. — Estas fórmulas são complexas, apesar de serem assimiláveis quando compreendidas. O que não chego a entender é a necessidade delas por estas paragens.

— Podemos passar para o estudo da Física, da Química ou da Teologia. Afinal, estamos há apenas quinze minutos dedicando-nos à Matemática.

— Teologia.

Aberto o compêndio eletrônico, ilustrado com visão do universo galáctico, a partir da Via Láctea, iniciava-se o estudo com uma pergunta:

— Que é Deus?

Felícia não se deu por achada:

— Deus é a inteligência suprema. É o criador de tudo quanto existe, portanto, a causa primeira do Universo. Está em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.

— Que é inteligência? — prosseguia o questionário.

Felícia embatucou.

— Sempre pensei que inteligência não precisasse de definição. Inteligência é o meio pelo qual os espíritos chegam a compreender os fenômenos, os acontecimentos, os problemas, para lhes dar solução. Inteligência é a forma que as pessoas e até os animais apresentam para...

Tomás interferiu:

— Animais têm inteligência ou somente agem instintivamente?

— Agradeço sua colaboração. Você já pensou sobre o assunto?

— Sempre soube que os homens é que possuem o dom de transferir os conhecimentos por generalização ou por particularização.

— Acho que você não se dedicou a observar o procedimento de certos animais. Eu mesma me surpreendi com a possibilidade que têm certos primatas de fixar na memória mais de mil palavras, agindo de acordo com o estímulo verbal do adestrador. Você sabe que as mamães-macacas transferem para as crias o que aprenderam com os humanos?

— Nesse caso, não se pode falar apenas em instintos...

— Exatamente, embora o nível de inteligência dos animais se dê em função das necessidades de adaptação ao ambiente. No caso dos macacos, os cientistas é que modificaram o padrão de comportamento artificialmente.

O vídeo deu um ligeiro toque sonoro e “pisca-piscou” chamando a atenção para a proposição seguinte:

— Deus, segundo a sua definição de inteligência, teria necessidade de compreender fenômenos e demais situações próximas da matéria?

Felícia não esperava que a máquina conversasse inteligentemente com ela. Interrogou Tomás:

— Você é que está em contato com os operadores do programa?

— Não é necessário. As suas respostas, verbalizadas ou não, sensibilizam os pontos de captação vibratória.

— Entendi. Quer dizer que o aparato eletrônico está ajustado para a recepção das ondas cerebrais que emito, quando estou estimulada para as respostas. Muito eficiente. As respostas, quando imediatas, evitam a fixação dos erros. Conheci o sistema, quando me aventurei a conversar com uma de minhas filhas universitárias. Dizia ela que a pedagogia deve superar os traumas de percepção do mundo, de forma que as crianças em idade de aprender devem ser levadas a se agradarem do que estão fazendo, para adquirirem o hábito da persistência, cumprindo os objetivos estipulados pelos instrutores e professores. Se não me engano, inclusive, ela chamou o método de “instrução programada”, mas reclamou que não se socializavam os alunos. Vingavam os conhecimentos dos tópicos do currículo, mas acendia-se o desejo de progredir sem a participação dos colegas e até mesmo dos mestres responsáveis pela classe. Eu me sinto um pouco assim, isolada, debilitada perante a minha insuficiência de interesses, um pouco macaca tirada do meu “habitat”, um pouco administrada a distância, quanto aos pontos essenciais dos conhecimentos dos encarnados, mas totalmente defasada das superiores questões da espiritualidade.

De novo a máquina chamou-lhes a atenção:

— Venham ao Centro de Estudos, por favor!



Distantes do aparelho captador das ondas mentais, Felícia ousou comentar:

— Tomás, creio que serei suspensa por indisciplina. É pena porque eles poderiam ter escrito na tela o que entendem por inteligência relativamente ao Senhor. Eu aprenderia com facilidade.

— Não vamos precipitar conclusões. Quem sabe estejamos sendo convocados para outro tipo de estudo.

— Em todo caso, minha rebeldia está afastando-me dos programas curriculares preparados para a turma. Nesse aspecto, temo que venha a ser substituída.

— Eu não senti em sua manifestação nada agressivo. Ao contrário, as vibrações que captei foram de intensa felicidade por estar exprimindo, com sinceridade, tudo o que lhe passava pela mente e pelo coração. Os caminhos do Senhor são imperscrutáveis. Desculpe-me a ousada observação. Sempre me esqueço de sua superior capacidade evangélica.

— Tudo bem, meu caro. Devo dizer-lhe que a tal da rebeldia foi intelectual e não sentimental. Aspirei o ar azedo das traquinagens programáticas, porque não considerei sério o estudo propugnado. Qualquer mortal abonado por medíocre inteligência é capaz de enfeixar os conhecimentos que lhe são solicitados para qualificar-se profissionalmente, inclusive no ensino de terceiro grau, dito acadêmico ou superior. Se me quiserem auxiliando os menos dotados, no próximo milênio, devem fazer-me percorrer de início ao fim as séries escolares.

— As recordações ou reminiscências do plano astral hão de ficar apenas no campo das instruções gerais?

— Sei que as “crianças-prodígio” não geram a própria sabedoria, como no caso de músicos precoces, Mozart, por exemplo, que compôs a partir de tenra idade. Há matemáticos infantes, como há quem consiga ler antes do primeiro ano de vida. Se são espíritos evoluídos ou se receberam quantidade anormal de massa encefálica, em função dos padrões dos superdotados, pouco importa. O trabalho em prol da humanidade é que irá determinar o bom sucesso da peregrinação terrena.

Chegaram ao recinto. Os colegas de classe também vinham chegando. Estranhamente, o chamamento ocorrera a todos.

Felícia não sopitou uma exclamação:

— Tomás, temo que tenha de refazer as minhas “sutis” observações quanto ao desenvolvimento do curso.

— Pode acreditar que também eu estou admirado, surpreso, intrigado, curioso, espantado mesmo.

— Vivendo e aprendendo! — brincou a jovem senhora.

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