— Vamos pelas ruas principais, que eu tenho medo de escuro e de isolamento.
Leonel buscava fintar o trânsito engarrafado, mas se via obrigado a longas paradas, atrás de filas intermináveis.
— Ainda bem que saímos cedo. Com este movimento, meu caro, iríamos desembocar no teatro depois do primeiro ato.
— Se quiser arriscar, eu sei um caminho que poderá nos levar mais depressa.
— Não me arrisco, mesmo. Siga devagar, mas não saia das ruas principais.
Leandro não se importava com o horário. Queria deixar o patrão instalado, para seguir de volta. Por tradição, alguém o levaria até o apartamento, que de táxi jamais se atreveu, dado o temor do contato com o vulgo. Era como sentia o pobre motorista, pelas vezes que fora chamado à atenção pelo costureiro. Mas o ordenado era razoável e o trabalho muito leve.
Tendo adentrado o túnel, o trânsito se complicou ainda mais. No entanto, dava para perceber que estava livre a abertura do outro lado. Algum maldito desastre retardava a marcha dos veículos.
De repente, batem forte no vidro ao lado do motorista. Mal deu tempo para voltar-se e já uma rajada de metralhadora estilhaçava a janela lateral. Sem pressa, uma mão certeira se enfiou até a lapela do coitado e uma voz ameaçadora se fez ouvir:
— Abra a porta!
Leonel não pensou duas vezes e já se encontrava estirado no asfalto. Pela sua porta entraram dois indivíduos encapuzados, enquanto o forte barulho de duas motos se distanciava. Não dera tempo para nada e o carro desaparecia sob a luz dos faróis dos que se viam obstados de prosseguir, pelo abandono de dois veículos no meio da via.
— Fica quieto que você não morre!
Teotônio, encolhido sobre o banco, em posição fetal, sentiu as calças molharem-se tépidas. E desmaiou.