Adorava ver o contraste de sua pele branca com a dele. Na primeira relação que tiveram, enquanto o carnaval explodia nas ruas, voltara o orgasmo tão duradouro e elétrico, iguais aos experimentados na fazenda há muito tempo com um outro negro, Tonho.; também obsequioso a princípio, o peão fizera com ela – a seu pedido – o que bem quisera. E sua inconveniente virgindade desaparecera finalmente. Recordou para sempre os desfrutes daquele verão. Na primeira vez, ele teria pouco mais de vinte anos quando lhe ordenara que a acompanhasse na cavalgada. Hora depois, chegaram num riacho.; ofegantes da galopada, desceram da montaria. Num repente, ela arrancara as botas, a roupa, e nua, mergulhara na água. Ordenando para o espantado peão: “Vai, moleque, tira esses trapos e entra n’água também!” Tímido, mas obediente, tirara os trapos detrás dum arbusto e mergulhara imediatamente. Algum tempo depois de esfregas e lambidas, ele perdera toda a timidez cabocla e desatara o animal escondido dentro dele, deixando-a louca de desejo. Até lhe ordenar: “Vem cá, nego, me estupra! Aqui, nesta lama. Me chama de Vasmicê, Sinhá, igual teu pai, escravo da minha mãe! Me come, me morde, desgraçado!”
_______________________________
Fragmento de capítulo do romance de Miguel Angel Fernandez "A CENA MUDA"